![]() 07/05/2025 14h57
Quem esteve sempre ao seu lado?
Somos quatro irmãos // um homem e três mulheres. Desde pequenos, a vida nos dividiu em caminhos diferentes. Meu irmão e uma de minhas irmãs cresceram na casa dos meus avós. Eu e minha outra irmã fomos criadas com minha mãe, numa vida simples, lá na roça.
A gente não tinha muito. Tinha dias em que o café era com farinha, outros com macaxeira cozida // e, mesmo na escassez, havia um tipo de alegria. Eu e minha irmã comíamos juntas na mesma bacia, dividíamos tudo: o pouco da comida e o muito da dor. Quando ela caiu no poço, eu e minha mãe estávamos lá. Quando quebrei o braço, ela também estava. Nossa infância foi marcada por um sofrimento silencioso, mas sempre uma ao lado da outra.
Enquanto isso, meus outros irmãos cresciam com o aconchego e as festas da casa da vó. Nós duas, não. A vida nos ensinou cedo a resistir.
Depois, viemos morar na cidade. Minha mãe se apaixonou e, por um instante, quis outro rumo. Nos deu para outras pessoas // minha irmã para uma família, eu para uma tia. Foi ali que conhecemos o vazio mais cruel: o de não ter mais nossa mãe, nem uma à outra. O romance durou seis meses. Minha mãe voltou arrependida e nos pegou de volta. E de novo, eu e minha irmã estávamos lado a lado. As marcas desse abandono nos acompanharam para sempre.
Crescemos. Chegou a adolescência, e com ela, o caos. Eu e essa irmã brigávamos demais, como se nossas dores gritassem uma contra a outra. Mágoas se acumularam, raiva se instalou. A infância de cumplicidade virou uma juventude de conflito.
Anos depois, com mais de vinte e poucos anos, minha vó ficou doente. Veio morar com minha mãe e, com ela, vieram também meu irmão e minha outra irmã / aqueles que não dividiram o poço, nem a bacia, nem o abandono. E foi só aí que começamos a "conviver", como se fosse a primeira vez. Mas era tarde demais para criar vínculos sólidos. Meu irmão casou, minha irmã também. E adivinha? Eu e aquela irmã marreta / aquela com quem vivi tudo / continuamos juntas.
Éramos para ser unidas. E não fomos.
Que acerto de contas seria necessário entre nossas almas para compreender esse desencontro?
Moral da história:
Às vezes, quem esteve sempre ao seu lado não é quem você mais abraçou, mas quem mais compartilhou as dores com você. E, mesmo assim, o peso das feridas pode afastar. O amor resistiu, mas nunca floresceu. Talvez a tarefa mais difícil entre irmãos não seja estar junto no sofrimento, mas conseguir se amar, apesar dele.
--- Publicado por Elixandra ( costura pensamento) em 07/05/2025 às 14h57
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