![]() 23/06/2025 23h26
📌 Ética é inata / moral ensinada
A ideia de que a ética é inata ou instintiva vem de pensadores que acreditam que os seres humanos já nascem com um senso básico de certo e errado. Por exemplo: Jean-Jacques Rousseau acreditava que o ser humano nasce bom, mas é corrompido pela sociedade.
Alguns neurocientistas contemporâneos acreditam que há circuitos cerebrais responsáveis pela empatia, justiça e cuidado / ou seja, que temos tendências biológicas para cooperar e evitar o sofrimento alheio. Mas isso não significa que nascemos sabendo como agir eticamente / apenas que temos uma base emocional e biológica para isso, como empatia, nojo da violência, compaixão etc.
📌 Moral é ensinada
A moral é o conjunto de regras, valores e normas de uma cultura, religião ou grupo social. A moral nos diz o que é "certo" ou "errado" segundo o grupo onde nascemos.
Em algumas culturas, comer carne é imoral. Em outras, é perfeitamente normal.
Em algumas sociedades antigas, era moralmente aceitável ter escravos / algo impensável hoje.
Portanto, a moral varia, e é ensinada não nasce com a gente.
Então..... se nascemos sem saber de nada, como a ética pode ser instintiva?
Nascemos com potenciais e disposições biológicas, como empatia, capacidade de sentir culpa ou compaixão. Isso pode ser chamado de base ética instintiva.
Mas como aplicar esses instintos, em que situações, o que é certo ou errado, isso aprendemos com a moral do grupo em que vivemos.
Ética pode ter raízes inatas, mas precisa ser desenvolvida com consciência e reflexão. Moral é cultural e ensinada.
Frase para pensar:
"A moral nos diz o que fazer. A ética nos convida a pensar por que fazemos."
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filósofos clássicos e modernos entendem a diferença entre ética e moral.
Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.)
Ideia central: O bem está dentro de nós, basta despertá-lo.
Sobre ética: Acreditava que todo ser humano busca o bem / o erro moral vem da ignorância, não da maldade.
Ética como inata: De certa forma, sim temos dentro de nós a razão capaz de alcançar o bem.
Moral: É questionável, pois a sociedade pode ensinar valores errados. Por isso ele incomodava Atenas.
Frase famosa: "Conhece-te a ti mesmo." ________________________________________
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.)
Ideia central: A ética é o caminho para a felicidade (eudaimonia).
Sobre ética: Não é inata. Precisamos praticá-la como uma virtude, como quem aprende a tocar um instrumento.
Ética como hábito: Aprendemos a ser bons por repetição e bons exemplos.
Moral: Pode ser a tradição, mas a ética é a arte de viver bem, com equilíbrio.
Frase chave: "Nós nos tornamos justos praticando atos justos." ________________________________________
Santo Agostinho e Tomás de Aquino
Cristianismo filosófico: A moral vem de Deus e está na alma.
Sobre ética/moral: Aqui não há muita separação / o certo é o que está de acordo com a vontade divina.
Ética como inata: Deus nos deu uma consciência que aponta o bem, mas ela pode ser ofuscada pelo pecado. ________________________________________
David Hume (1711–1776)
Ideia central: A moral não vem da razão, mas do sentimento.
Sobre ética: Surge da empatia e das emoções humanas / ou seja, temos uma base natural e afetiva.
Ética como inata: Sim, no sentido de que sentimos que algo é errado, antes mesmo de explicar racionalmente.
Frase marcante: "A razão é e deve ser escrava das paixões." ________________________________________
Immanuel Kant (1724–1804)
Ideia central: O dever moral vem da razão agir por princípio, não por emoção.
Sobre ética: Não depende da cultura. Existe uma lei moral universal (imperativo categórico).
Ética como inata: Sim, mas não no sentido emocional / e sim racional. Todos nascem com a razão capaz de perceber o dever.
Frase famosa: "Age apenas segundo uma máxima que possas querer que se torne lei universal." ________________________________________
Nietzsche (1844–1900)
Ideia central: A moral tradicional (cristã) é uma forma de domesticação do instinto humano.
Sobre ética/moral: Critica a moral como opressiva. Defende que cada um crie seus próprios valores.
Ética como inata: Os instintos são sim naturais (vontade de potência), mas foram reprimidos pela moral social.
Frase provocadora: "A moral é a mentira necessária para manter a ordem." ________________________________________
Zygmunt Bauman (1925–2017)
Ideia central: A ética é anterior a qualquer regra ou sistema.
Sobre ética: Surge do encontro com o outro. É uma resposta instintiva de responsabilidade.
Ética como inata: Sim, em certo sentido sentimos o peso da responsabilidade antes mesmo das leis morais.
Exemplo: Vemos alguém caído na rua e sentimos imediatamente que precisamos ajudar / antes mesmo de pensar.
Resumo Geral:
Filósofo Ética é inata? Moral é........?
Sócrates Sim, como razão interior Regras da sociedade (questionáveis) Aristóteles Não, é hábito Tradições da pólis (cultura) Hume Sim, como emoção Costumes e convenções Kant Sim, como razão Universal, se for racional Nietzsche Instintos sim, ética sim / mas negada Moral é repressiva e ensinada Bauman Sim, na responsabilidade pelo outro Normas que vêm depois......
Elixandra Cardoso
Publicado por Elixandra(costura pensamento filosófico) em 23/06/2025 às 23h26
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. 22/06/2025 13h35
"Seu desejo / ou sua realidade / é o sonho de muitos, inclusive o meu.
Não queremos fugir do mundo, mas do barulho. Do chamado caos. Do noticiário que anuncia guerras, colapsos, a morte de crianças. Sentimos demais. E por isso, às vezes, trocamos a televisão pelo chiado do rádio, que toca aquela canção com cheiro de saudade… Saudade de um tempo que não volta mais.
Mas por um instante, fechamos os olhos e nos sentimos crianças outra vez, quando um braço dado não precisava de explicação, quando correr era liberdade, não fuga.
Hoje corremos da preocupação. Com os olhos abertos, percebemos que viramos adultos. Mas ainda temos desejos / e isso é um sinal de fé.
Desejo de correr para o campo. Sentir o cheiro da terra quente e molhada. Olhar o horizonte sem fim. Ouvir o canto dos pássaros. Deitar na rede e deixar que ela nos embale com o nascer do dia, enquanto o orvalho escorre nas folhas das árvores.
Elixandra Cardoso Publicado por Elixandra(costura pensamento filosófico) em 22/06/2025 às 13h35
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. 21/06/2025 16h53
Estruturalismo: a busca pela estrutura invisível do sentido
A filosofia, desde suas origens, buscou encontrar fundamentos últimos para a realidade. Com o passar dos séculos, essa busca deslocou-se: em vez de buscar uma substância essencial, muitos passaram a buscar estruturas / molduras invisíveis que organizam o visível. Nesse cenário surge o estruturalismo, movimento que floresceu principalmente no século XX, propondo que a realidade humana só pode ser compreendida por meio das estruturas que a sustentam, ainda que essas estruturas não sejam imediatamente perceptíveis.
Ao contrário das abordagens tradicionais que colocam o sujeito como origem de sentido, o estruturalismo sugere que o sujeito é um efeito dessas estruturas. Em outras palavras, antes de sermos autores do que dizemos, pensamos ou fazemos, já estamos inscritos em sistemas: a linguagem, a cultura, os mitos, as instituições. Claude Lévi-Strauss, por exemplo, mostrou que os mitos e os ritos das sociedades não são aleatórios, mas seguem uma lógica estrutural comum — mesmo que seus conteúdos variem imensamente. O interesse não está mais no que as pessoas pensam, mas na forma como elas pensam: há uma gramática oculta que estrutura o pensamento coletivo.
Essa proposta tem implicações filosóficas profundas. Ela questiona a ideia de liberdade como autonomia absoluta e coloca o sujeito num campo já determinado por regras que ele não escolheu. Para os estruturalistas, como Roland Barthes, até a narrativa é uma estrutura que impõe formas de ver o mundo. Dizer, portanto, que algo é “natural” ou “óbvio” revela apenas nosso esquecimento de que estamos operando dentro de uma estrutura / a qual poderia ser outra, se nossa história ou cultura fosse diferente.
No campo da linguagem, Ferdinand de Saussure estabeleceu as bases do pensamento estrutural ao mostrar que o significado das palavras não vem de uma relação direta com a realidade, mas da diferença entre os signos dentro do sistema da língua. O significado não está “dentro” da palavra, mas emerge das relações entre as palavras. Isso nos leva à constatação de que o sentido é sempre relacional, nunca absoluto.
Contudo, o estruturalismo não escapou de críticas. Pensadores como Michel Foucault e Jacques Derrida, embora influenciados por ele, apontaram seus limites. Foucault, por exemplo, mostrou que as estruturas são também históricas e mutáveis, e que o poder desempenha papel fundamental na sua constituição. Já Derrida desconstruiu a ideia de uma estrutura estável, mostrando que toda estrutura contém tensões e fissuras internas que a tornam instável. Assim, o que parecia sólido e permanente revelou-se também precário.
No fim das contas, o estruturalismo nos convida a uma espécie de humildade ontológica: somos menos autores do mundo do que intérpretes de um jogo cujas regras nos antecedem. Mas essa constatação não é paralisante / ao contrário, ela pode abrir caminhos. Ao reconhecer as estruturas que nos formam, podemos, quem sabe, começar a transformá-las.
"Foucault, por exemplo, mostrou que as estruturas são também históricas e mutáveis, e que o poder desempenha papel fundamental na sua constituição."
🔍 O que o estruturalismo dizia antes?
Os estruturalistas, como Lévi-Strauss e Saussure, acreditavam que existem estruturas universais, mais ou menos fixas, que organizam a cultura, a linguagem e o pensamento humano. Essas estruturas seriam como um “sistema por trás do palco”, e o ser humano só agiria dentro delas. Mas aí entra Michel Foucault.
🧠 O que Foucault criticou?
Foucault concorda em parte com o estruturalismo: ele também acha que existem “sistemas” (ou regras, ou estruturas) que moldam nosso pensamento, nossa linguagem, nossa forma de agir. Mas ele discorda da ideia de que essas estruturas são fixas ou universais.
Para ele, essas estruturas mudam com o tempo, de acordo com os jogos de poder de cada época.
🧩 Exemplo:
Na Idade Média, quem definia o que era “loucura” era a religião. No século XIX, isso muda: agora são os médicos, os hospitais, os saberes científicos que definem isso. Ou seja, a estrutura que define o que é “normal” e o que é “louco” mudou.
Isso mostra que as estruturas não são eternas, mas são históricas.
⚙️ E onde entra o poder?
Para Foucault, o poder não é só uma força opressora, como uma ditadura, mas sim algo que circula nas relações sociais, nos discursos, nos saberes.
Quem tem poder define a verdade da época.
Quem tem poder cria as regras do que é certo ou errado.
Isso tudo forma as “estruturas” da sociedade. Então, as estruturas (como o que é considerado normal, verdadeiro, permitido) não nascem do nada, mas são formadas e moldadas pelo poder.
Resumindo tudo:
Os estruturalistas achavam que existem estruturas fixas, invisíveis, que organizam nossa vida.
Foucault disse: essas estruturas mudam com a história, com as ideias dominantes de cada época.
E quem define essas ideias dominantes é o poder.
Por isso, para Foucault, não existe estrutura neutra ou eterna: tudo é histórico, mutável e ligado ao poder. Foucault acrescentaria: não é só a troca de quem tem o poder (de padres para médicos), mas a própria forma de exercer esse poder que muda / e isso muda profundamente a nossa experiência de mundo. Foucault acrescenta:
> “Não mudou só quem define, mas como esse poder atua.”
Antigamente:
O padre dizia: "Você está possuído. Vai ser exorcizado, isolado ou punido."
Era um poder visível, direto, autoritário.
Hoje:
O psiquiatra diz: "Você tem transtorno bipolar tipo II. Vai tomar remédio, fazer acompanhamento, talvez se afastar do trabalho."
Parece mais cuidadoso, neutro, mas ainda é um poder que classifica, controla e regula a vida.
Ou seja, Foucault quer mostrar que o poder moderno não manda de forma brutal como antes, mas atua de forma sutil, através de saberes, exames, laudos, manuais (como o DSM da psiquiatria). É um poder disfarçado de cuidado, mas que continua organizando o que é certo, o que é desvio, quem precisa ser tratado, afastado, medicado.
E como isso muda nossa experiência do mundo?
Porque hoje:
A gente pensa sobre nós mesmos usando esses discursos.
Em vez de dizer “sou triste”, alguém diz: “sou depressivo.”
Em vez de dizer “sou esquisito”, pode dizer “tenho um transtorno do espectro autista.”
Percebe? Nós incorporamos esses discursos estruturais em nossa própria identidade.
Trecho de segundo ensaio
Na sociedade contemporânea, a tristeza / uma experiência humana comum e até necessária / muitas vezes é rapidamente diagnosticada como depressão. O sujeito que busca auxílio encontra, não escuta ou acolhimento, mas uma estrutura de saber-poder que já está pronta para nomeá-lo: “você está com transtorno depressivo.” Essa nomeação não vem sozinha / ela carrega consigo prescrições, medicações, afastamentos e, muitas vezes, uma nova identidade que o sujeito passa a incorporar.
Como observou Foucault, o poder moderno não se impõe à força, mas age por meio de discursos aparentemente neutros, como o da ciência. O diagnóstico não é apenas uma descrição do que se vê, mas uma forma de controle, de enquadramento da existência. Cada vez mais, o sistema cria “eus adicionais”: eu ansioso, eu borderline, eu bipolar. A multiplicação dos diagnósticos cria uma fragmentação do sujeito, que se vê reduzido a rótulos clínicos.
E isso não é neutro: está inserido numa lógica de consumo. A farmácia, a indústria da saúde mental, o mercado de terapias e tratamentos / todos lucram com esse processo. A patologização da vida cotidiana se transforma, assim, em uma engrenagem do capitalismo: quanto mais diagnósticos, mais remédios, mais lucro. Até mesmo os relacionamentos entram nesse circuito / o comportamento do outro pode ser rotulado, classificado e descartado com base em categorias psiquiátricas popularizadas.
No fim, resta a pergunta: será que estamos vivendo nossas experiências, ou apenas tentando nos encaixar nos nomes que nos deram?
Acréscimo da visão ampliada
Homem e mulher: não são “essências”, mas construções
Foucault entenderia o masculino e o feminino como categorias históricas, criadas e mantidas por discursos sociais e instituições.
No século XIX, os médicos diziam que a mulher era “naturalmente mais emotiva e instável”, justificando que ela deveria cuidar da casa e não participar da política.
Esse discurso não era neutro: ele justificava uma relação de poder entre homens e mulheres / o que é exatamente o que chamamos de patriarcado. O patriarcado como uma tecnologia de poder
Para Foucault, o patriarcado não é apenas uma cultura machista; ele é um sistema de poder que organiza corpos, comportamentos e funções sociais.
Ele define o que é "ser uma boa esposa", "ser um homem viril", "ser uma mãe de verdade".
Usa discursos (religiosos, jurídicos, médicos) para produzir essas identidades como se fossem naturais, quando na verdade são normas impostas.
O corpo como lugar do controle
Foucault dizia que o corpo é um campo onde o poder atua. Então:
O corpo da mulher foi vigiado, normatizado, medicalizado.
A sexualidade feminina foi tratada como algo perigoso ou descontrolado (o que justificava o controle da mulher).
A maternidade foi imposta como destino “biológico”. Mas tudo isso, para Foucault, não tem base natural / é criação social a serviço do poder.
Não se trata de inverter os papéis, mas de questionar a estrutura
Foucault não proporia simplesmente trocar o domínio masculino pelo feminino. Ele questionaria a própria ideia de que papéis fixos deveriam existir. Seu foco seria libertar os corpos e os sujeitos das amarras desses discursos, permitindo que cada um construa sua existência sem precisar se encaixar em rótulos históricos de “homem” ou “mulher”.
Para Foucault, o patriarcado é um regime de poder que produz a diferença entre homem e mulher como se fosse natural.
Essas diferenças são, na verdade, efeitos de discursos históricos (religiosos, médicos, jurídicos). Ele não busca trocar papéis, mas desmontar a ideia de que os papéis devem existir. O que está em jogo é a liberdade dos corpos diante dos sistemas que querem controlá-los.
A biologia existe / mas o que fazemos com ela é construção social
A biologia reconhece diferenças entre corpos com útero, pênis, hormônios, cromossomos. Isso é inegável. Mas Foucault diria: O problema não é a diferença biológica o problema é como a sociedade transforma essa diferença em hierarquia.
Se a mulher menstrua → não pode liderar.
Se o homem tem mais massa muscular → é mais forte → deve dominar. A diferença vira justificativa de poder.
Emoção, força, razão: são realmente diferenças naturais?
A ideia de que mulheres são mais emocionais e homens mais racionais é histórica, não biológica.
Estudos mostram que emoções são igualmente intensas nos dois sexos, mas a cultura ensina os homens a reprimir.
Força física é uma média estatística, mas não define inteligência, empatia, nem liderança. Ou seja: as diferenças existem, mas o modo como interpretamos e usamos essas diferenças é uma construção histórica. É isso que Foucault e outras correntes (como Judith Butler) questionam.
Somos um ser humano sem sexo?
Foucault não diria que não temos sexo, mas que o modo como o sexo foi usado para definir quem somos é um problema. > “A sexualidade moderna não é apenas sobre prazer, mas sobre identidade: nós somos o que desejamos. O sexo passou a ser um discurso de verdade sobre nós mesmos.” Ou seja, antes, você apenas era uma pessoa. Agora, você tem que ser: Heterossexual ou homossexual. Homem de verdade ou mulher de verdade. Masculino ou feminino conforme regras culturais. Foucault convida a romper com isso: não nos reduzirmos a uma essência sexual.
A biologia existe, mas ela não determina como devemos viver.
Diferença não precisa virar desigualdade.
Foucault não nega o corpo, mas questiona os rótulos que a sociedade impõe a partir dele.
O ideal seria um mundo onde você pudesse ser quem é, sem que o seu sexo definisse seus limites, seu papel ou sua identidade.
Elixandra Cardoso
Publicado por Elixandra(costura pensamento filosófico) em 21/06/2025 às 16h53
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Filosofia da Mente: o enigma entre o pensar e o ser
A Filosofia da Mente é, talvez, uma das áreas mais intrigantes da filosofia. Desde a Antiguidade, pensadores buscam compreender o que é a mente, como ela se relaciona com o corpo e qual é a natureza da consciência. Mais do que isso: é uma tentativa de entender o que significa ser um sujeito, um "eu" que sente, pensa, age / e se pergunta sobre si mesmo.
O corpo pensa? A mente age?
A questão mente-corpo é central. Platão já distinguia a alma como algo imaterial, prisioneira do corpo. Descartes, séculos depois, consolidou essa separação dizendo: “Penso, logo existo.” Para ele, a mente é uma substância pensante (res cogitans), separada do corpo, que é apenas extensão física (res extensa). Essa visão dualista foi influente, mas logo encontrou críticas.
Se a mente é separada do corpo, como interagem? Como uma ideia provoca uma ação muscular? Como uma emoção afeta o batimento cardíaco?
A mente é o cérebro?
Na modernidade, a ciência se aproximou dessas questões com novas lentes. A neurociência e a psicologia apontam para uma relação íntima entre mente e cérebro. Surge o fisicalismo, que afirma: tudo o que existe é físico, inclusive a mente. Nesse ponto de vista, pensamentos e emoções não passam de processos cerebrais: descargas elétricas, sinapses, neurotransmissores.
Mas essa explicação convence totalmente?
A Filosofia da Mente contesta: “Explicar o funcionamento não é o mesmo que explicar a experiência.”
O problema difícil da consciência
O filósofo David Chalmers formulou o chamado “problema difícil da consciência”:
> Podemos entender como o cérebro processa informações, mas por que há experiência subjetiva? Por que sentir uma dor não é apenas uma resposta física, mas algo que dói por dentro?
Essa dimensão subjetiva, chamada de qualia (as qualidades da experiência / como “o vermelho do vermelho” ou “o gosto do café”) ainda escapa às explicações científicas. A mente, portanto, não é apenas um software biológico operando num hardware cerebral.
Consciência: uma ilusão ou uma base do real?
Alguns pensadores contemporâneos, como Daniel Dennett, sugerem que a consciência pode ser uma ilusão funcional. Outros, como Thomas Nagel, afirmam que há algo essencial na experiência subjetiva que não pode ser reduzido. Já correntes como o panpsiquismo propõem que algum grau de consciência está presente em toda a matéria / um retorno filosófico ao espírito da natureza, como em Spinoza ou até no budismo.
A mente, nesse cenário, não seria um produto tardio da evolução, mas um aspecto fundamental da realidade.
Mente, identidade e liberdade
Além da consciência, a Filosofia da Mente reflete sobre a identidade pessoal:
> O que nos torna quem somos? Mudamos de pensamentos, memórias, corpo… mas ainda dizemos “eu”. Esse “eu” é uma continuidade real ou uma construção narrativa?
A questão da liberdade também entra: se a mente é determinada por leis físicas, existe livre-arbítrio? Ou somos apenas espectros conscientes de decisões já tomadas em nível inconsciente?
Conclusão
A Filosofia da Mente está no cruzamento entre ciência, metafísica, ética e espiritualidade. Ela não apenas pergunta “como pensamos”, mas o que é pensar, o que é ser, o que é estar consciente de si e do mundo.
Vivemos em um tempo onde tudo parece explicar a mente de fora / mas talvez ainda falte coragem para escutá-la por dentro. Elixandra Cardoso Publicado por Elixandra(costura pensamento filosófico) em 20/06/2025 às 00h15
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. 19/06/2025 16h09
🪞 O Mundo Dividido: Entre Nietzsche e Platão
Desde os primórdios do pensamento, o ser humano busca sentido / entre o visível e o invisível, entre o corpo que toca e a alma que deseja. Platão, com sua maestria, desenhou um mapa metafísico: de um lado o mundo sensível, feito de sombras e impermanências; do outro, o mundo inteligível, onde repousa a verdade, a justiça, a ideia eterna do bem. Era uma filosofia para aqueles que ansiavam por mais do que os olhos podiam ver.
Séculos depois, o Cristianismo beberia dessa fonte. O céu cristão é o reflexo do mundo das ideias. A Terra se torna um vale de lágrimas, um palco provisório, onde o corpo é tentação e a alma espera redenção. A morte não é fim, mas passagem. A vida aqui é apenas o ensaio para a vida real / a eterna.
Nietzsche então se ergue como trovão. Acusa: “O Cristianismo é Platonismo para o povo.” Para ele, essa metafísica dualista é um veneno. É a negação da vida, é o desprezo pela carne, é a castração do desejo. O que deveria ser vivido foi condenado como culpa. O instinto foi reprimido em nome da salvação. A alma foi exaltada e o corpo humilhado. A vida presente, sacrificada a um ideal ausente.
Ele propõe uma transvaloração: um novo tipo de humano / o além-do-homem / que afirma a vida em sua totalidade. Um homem que ama o caos, o acaso, o corpo, o instante. Um homem que não precisa de além-mundos para justificar sua existência.
Mas…
🜂 Em Defesa de Platão: O Mundo das Ideias como Fundamento
Será que Nietzsche não está errado em sua revolta? Será que sua crítica à metafísica não é, na verdade, uma reação visceral àquilo que ele não compreendeu em profundidade?
Platão não nega o corpo / ele o situa. O sensível não é desprezível, mas transitório. O inteligível não é uma negação da vida, mas a sua orientação mais alta. O desejo humano não é um erro: é um movimento de retorno ao que é pleno. O amor, para Platão, é exatamente isso / o desejo de reencontro com a Beleza que nos escapa no mundo visível, mas que existe de forma plena no mundo invisível.
Nietzsche acreditava que a ausência é o que move o desejo. Platão diria: sim / mas essa ausência não é ilusão, é memória de um lugar mais real. O inteligível não nega a vida / ele a fundamenta.
E quanto ao Cristianismo? É verdade que muitas leituras dogmáticas causaram repressão, medo e culpa. Mas isso não invalida a metafísica platônica, apenas mostra como ela pode ser mal usada. O fato de uma ferramenta ter sido mal aplicada não significa que ela deva ser descartada. A alma não é oposta ao corpo / é a forma mais elevada da existência que o corpo tenta alcançar.
Nietzsche queria nos salvar da repressão. Platão queria nos lembrar de quem somos. Um viu o perigo da transcendência mal interpretada. O outro sonhou com a plenitude que se esconde por trás do véu do sensível.
✨ Conclusão: Nem só corpo, nem só ideia / mas o caminho entre
Entre Platão e Nietzsche talvez esteja o caminho mais humano:
afirmar o corpo, sem matar o espírito,
buscar o eterno, sem negar o instante. Porque o desejo precisa de sonho, mas também de toque. Porque a alma quer voar, mas sempre volta para casa, no corpo.
Introspecção
🧠 O Cristianismo como Platonismo para o Povo
Nietzsche dizia:
> “O Cristianismo é Platonismo para o povo.” (Crepúsculo dos Ídolos)
📚 . Herança de Platão: o mundo dividido
Platão separou a realidade em:
Mundo sensível (o aqui e agora, material, imperfeito)
Mundo inteligível (o eterno, invisível, perfeito)
Essa ideia foi assimilada pelo Cristianismo, que reinterpretou assim:
Mundo sensível = mundo pecaminoso, terreno
Mundo inteligível = céu, reino de Deus, salvação
🩸. Nasce o dualismo moral:
A consequência disso foi uma divisão dentro do próprio ser humano:
Corpo x Alma
Desejo x Pureza
Terra x Céu
Vida presente x Vida eterna
Nietzsche enxergava isso como uma negação da vida, uma traição ao corpo, ao instinto e ao real.
🧬 . Culpa, pecado e repressão
O Cristianismo, nessa leitura, introduziu o “vírus da culpa”:
Disse que somos pecadores por natureza.
Que devemos nos sacrificar, negar prazeres, reprimir desejos.
Que essa vida é apenas um “teste” para outra.
Nietzsche vê nisso uma forma de adoecimento da alma, de aprisionamento da vontade, de desvalorização da existência concreta.
🌿 Nietzsche propõe:
Um retorno à terra, ao corpo, ao aqui e agora. Não em busca de um “pecado livre”, mas de uma vida afirmada — com seus impulsos, tragédias, alegrias e dores.
elixandra cardoso Publicado por Elixandra(costura pensamento filosófico) em 19/06/2025 às 16h09
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