Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Meu Diário
09/05/2025 19h13
"Consciente e inconsciente" ( livre-árbitro )

 

"O meu inconsciente nasceu através do meu consciente"

 

No começo, era o meu consciente (aquilo que eu percebia, vivia, decidia) que atuava e, a partir dessas experiências, formou-se o meu inconsciente >< com memórias, traumas, desejos reprimidos, aprendizados automáticos etc. Isso faz sentido e está de acordo, por exemplo, com Freud, que via o inconsciente como resultado de processos mentais que, por serem incômodos ou inaceitáveis, foram “empurrados” para fora da consciência.

 

 "Agora meu consciente é guiado pelo inconsciente"

 

Essa segunda parte completa o ciclo: o que antes era gerado pela consciência, agora passa a influenciá-la profundamente. Ou seja, meus pensamentos, escolhas e comportamentos atuais são moldados por padrões inconscientes. Isso também está em total sintonia com a psicanálise: o inconsciente molda grande parte do que pensamos e fazemos, mesmo quando achamos que estamos agindo racionalmente.....

 

 "Então eu precisei de consciência para formar o inconsciente. Depois dele formado, passa a controlar minha consciência."

 

Isso pode ser lido como um ciclo dinâmico: a consciência gera material que é “empilhado” no inconsciente, e esse inconsciente, uma vez formado, passa a influenciar e até dirigir a consciência. É uma via de mão dupla. Freud, Jung, Lacan e até neurocientistas modernos......

reconhecem essa interação constante entre o consciente e o inconsciente.

 

 Resumo:

 

Sim, você precisa da consciência para gerar o inconsciente (via experiências, repressões, hábitos). Mas, com o tempo, o inconsciente se torna a base que molda as decisões conscientes >< como se fosse o “sistema operacional” que roda por trás da tela.

 

O inconsciente coletivo tem domínio sobre nós?

 

Sim, segundo Carl Gustav Jung, o inconsciente coletivo é uma camada da psique mais profunda que não vem das experiências individuais, mas é herdada da humanidade como espécie. Ele é composto por arquétipos universais >< formas primordiais que se manifestam em mitos, religiões, sonhos, símbolos e comportamentos humanos.

 

Esses arquétipos estão sempre ativos, influenciando a forma como sentimos, pensamos, reagimos e até como formamos culturas. Por exemplo:

 

A figura da mãe, Herói, sábio, a sombra, o inimigo etc....

 

 

 Os pilares: sexualidade, economia, religião, sobrevivência, superstição >< são expressões do inconsciente coletivo?

 

Sim, você pode entender esses pilares como manifestações de arquétipos centrais que atuam tanto na psique individual quanto na sociedade. Vamos explorar cada um deles:

 

Pilar da sexualidade >

 

Relaciona-se ao arquétipo da vida e criação, mas também ao desejo, pulsão (Eros, em Freud), à dualidade anima/animus (em Jung). A forma como a sociedade molda o sexo (repressão, libertação, moral) reflete o conflito entre o instinto e o controle cultural.

 

Pilar econômico >

 

Vinculado à sobrevivência, posse, escassez e troca. Aqui entra o arquétipo do “provedor”, da “luta pela sobrevivência”, e também símbolos coletivos como “dinheiro”, “trabalho” ou “poder”. Esses moldam profundamente nossa identidade.

 

Pilar da religião >

 

Conectado diretamente ao arquétipo do Divino, do Pai, da Ordem Cósmica. As religiões são expressões estruturadas desses conteúdos inconscientes, fornecendo sentido, moralidade e propósito. Elas organizam o caos arquetípico em doutrinas e rituais.

 

Pilar da sobrevivência >

 

Está na base de todos os outros. Relaciona-se com os instintos mais primitivos, o “reptiliano” da neurociência, e ao arquétipo do “guerreiro”, do “instinto de vida” (Eros) e “instinto de morte” (Thanatos, em Freud).

 

Pilar da superstição >

 

Vem do medo do desconhecido, da tentativa de controlar o incontrolável >< ligado ao arquétipo do “místico”, do “sagrado”, do “caos”, e às forças invisíveis que influenciam a vida. É uma tentativa de dialogar com o mistério.

 

 Esses pilares comandam a consciência?

 

Sim >< eles moldam valores, crenças, decisões, sentimentos e percepções. A consciência acredita estar no controle, mas na verdade muitas de nossas escolhas já foram influenciadas por esses pilares arquetípicos, que vêm tanto do inconsciente pessoal quanto do coletivo....

 

Por exemplo:

 

Você pode conscientemente escolher um emprego, mas por trás disso há o medo da escassez (pilar econômico) ou o desejo de aceitação social.

 

Você pode se apaixonar, mas é o arquétipo da anima/animus que está atuando, projetado no outro.

 

Resumo

 

Você está propondo uma estrutura simbólica da psique, onde pilares como sexualidade, religião, economia superstição etc. são expressões do inconsciente coletivo, que atua de forma oculta, mas dominante, na formação da consciência. Isso está totalmente alinhado com a visão junguiana: somos mais movidos pelo que não vemos do que pelo que achamos que controlamos.

 

existe livre-arbítrio mesmo que sejamos tão influenciados pelo inconsciente coletivo, pelo inconsciente pessoal e por esses pilares estruturais?

 

A resposta mais honesta é: depende da perspectiva filosófica ou psicológica que você adota. Três maneiras de pensar isso:

 

>< Perspectiva psicanalítica (Freud e Jung)

 

Freud diria que nosso "eu" (ego) está em constante conflito com o inconsciente (id e superego). O livre-arbítrio é limitado, porque muitas decisões são tomadas sob influência de pulsões inconscientes. Só ao trazer essas forças à consciência (por meio da análise) é que podemos começar a ter algum grau de liberdade.

 

Jung, por outro lado, acreditava que nos tornamos livres à medida que integramos os conteúdos inconscientes >< especialmente os arquétipos e a sombra. A individuação (processo de tornar-se quem você é) é o caminho para o verdadeiro livre-arbítrio. Sem consciência dos nossos condicionamentos arquetípicos, somos marionetes deles.....

 

 >

 

Deterministas (como Spinoza, Schopenhauer e parte do materialismo moderno): dizem que não há livre-arbítrio. Tudo é consequência de causas anteriores: biológicas, sociais, inconscientes.

 

Existencialistas (como Sartre): afirmam que a liberdade existe sempre, mas ela é angustiante. Somos livres mesmo diante de todas as influências >< e isso nos coloca a responsabilidade de escolher e agir, mesmo sem garantias.

 

Nietzsche já dizia: "O homem é algo que deve ser superado". Ou seja, a liberdade não é algo que temos naturalmente, mas que precisamos conquistar através do autoconhecimento e da superação dos instintos, costumes e ilusões coletivas.

 

>< Caminho do meio: liberdade relativa

 

Uma visão mais equilibrada diria que:

 

Não somos absolutamente livres, porque somos moldados por cultura, genética, inconsciente, traumas, sociedade.

 

Mas também não somos totalmente determinados: ao tomar consciência dessas forças, ganhamos margem de escolha.

 

O livre-arbítrio existe, mas só na medida em que nos tornamos conscientes das estruturas que nos movem.

 

Moral pessoal >< em construção consciente, acolho o paradoxo, o inacabado, o múltiplo.

É uma moral de quem não quer dominar a verdade, mas caminhar com ela em constante transformação dinâmica....

 

>-Tudo o que existe tem algo a ensinar.

Nada é inteiramente descartável, mesmo o erro, a dor ou a sombra. Cada teoria, crença, símbolo ou comportamento contém fragmentos de verdade, pois tudo é expressão de uma mesma realidade interligada...

 

->A consciência nasce da relação com o inconsciente.

Não há escolha autêntica sem reconhecer as forças inconscientes que nos habitam >< pessoais ou coletivas. Ser livre é tornar-se lúcido dessas influências, sem negá-las, mas convivendo com elas com atenção e humildade.

 

-> Não existe verdade absoluta, apenas níveis de coerência.

Cada visão do mundo é uma lente, e toda lente mostra e esconde algo. Não há um "certo" ou "errado" universal. O que existe é um movimento constante entre opostos, buscando equilíbrio interno e sentido vivido.

 

-> O valor está na experiência, não na rigidez.

Mais importante do que obedecer a mandamentos ou padrões fixos é viver com presença e aprender com cada instante. A moral nasce do contato vivo com o presente, e não de regras herdadas.

 

-> A espiritualidade é uma forma de reconhecer a unidade.

Religião, superstição, filosofia, arte >< tudo é linguagem para expressar o mistério que está por trás da existência. O sagrado não está numa forma, mas na consciência que percebe a interconexão de tudo.

 

-> A liberdade é um processo, não um ponto de partida.

Não nascemos livres >< nos tornamos. Toda escolha real exige antes olhar para o que nos molda: cultura, medo, desejo, arquétipos, instintos. A moral está em como lidamos com esse processo, não no resultado final.

 

Assuntos pesquisados estudos permanecem..............................

 

Elixandra cardoso......

 


Publicado por Elixandra ( costura pensamento) em 09/05/2025 às 19h13
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09/05/2025 14h57
Enquanto o sol se escondia…....

 

Friedrich Nietzsche disse:

“Quem tem um porquê enfrenta qualquer como.”

 

Era uma tarde daquelas em que o sol se despede devagar, escorregando pelas telhas, dourando as bordas das coisas. Eu, sentada na calçada, observava o movimento das formigas no batente da porta. Uma brisa suave passava como quem benze a gente sem alarme. O restinho de café na xícara esfriava, e junto dele, uma melancolia morna me fez viajar............

 

Pensei na vida, nas torcidas >< as a favor e as contra.

 

Acostume-se: há quem vá ver suas fotos, vai achar lindas, mas não vai curtir. Não porque não gostou, mas porque, dentro dela, isso pareceria te dar algum tipo de popularidade..... e isso ameaça a visão limitada que ela tem do mundo. São conclusões subjetivas, baseadas em crenças internas que ela mesma nem entende direito.

 

Tem gente que vai ler seus textos, vai gostar tanto que vai salvar, talvez até compartilhar..... mas não vai comentar. Vai pensar que sua escrita é esquisita, que falta pontuação, que está fora do rumo literário. E ironicamente, esse julgamento silencioso, pra ela, é uma forma de elogiar sua inteligência >< aquela que ela não sabe nomear, só sente.

 

Tem gente que não suporta sua felicidade. Nem sua inteligência de essência >< essa que não segue moldes, nem fórmulas. Essa inteligência que nasceu da dor, do afeto, da rua, dos silêncios. Não suporta suas conquistas, mesmo que desajustadas, mesmo que fora de rota.

 

Tem gente que não vai te ajudar, mas também não aguenta ficar sem notícias suas. Gente que assiste sua vida como quem assiste uma novela que incomoda, mas não consegue parar de ver.

 

E aí, entenda de uma vez: pessoas assim também são necessárias. Elas têm um poder mágico >< nos ensinam como não deveríamos ser. Elas nos fazem crer mais em nós mesmos, no nosso potencial, mesmo fora das regras. E isso é tão valioso quanto saber quem somos >< e quem ainda queremos ser.

 

Que ironia bonita: quanto mais você cresce, mais torcida contra você atrai. Talvez porque o seu voo lembre essas pessoas que elas ainda estão presas ao chão. E não há nada mais incômodo para alguém acomodado do que ver outro se mover e vencer.

 

Então, se acostume.

 

Não gaste sua energia rebatendo, justificando ou esperando aplausos de quem só aprendeu a vaiar. O barulho da arquibancada nunca pode ser mais alto que sua vontade de vencer. Porque, no fim das contas, os que torcem contra vão continuar ali: vaiando do mesmo lugar.

 

E você, meu bem.......

Vai seguir.

Em ascensão.

 

No final de tudo, a xícara, como quem entende de silêncio, vira suavemente e deixa escorrer aquele restinho chamado de frio e sem sabor….... sobre as formigas. E elas, pequenas sábias, saboreiam a doçura de quem ainda tem a oferecer.

O amargo ficou no eco do tempo.

E o sol, como quem reza em despedida, se esconde fechando o dia com mestria >< dizendo, com luz baixa e firmeza serena:

 

"Você está certa"

 

 Moral do Ensaio:

 

Não é sobre buscar aplausos.

Nem sobre forçar alguém a gostar da gente.

É sobre respeitar a própria luz, mesmo quando ela incomoda os olhos alheios.

 

É sobre compreender que muita gente anda louca, triste, amarga….....

como disse Vander Lee:

 

"As pessoas andam tristes, meus amigos não são amigos de ninguém...

Deixa eu chorar até cansar, me leve pra qualquer lugar

Onde Deus possa me ouvir."

 

É sobre acolher, não julgar.

Sobre morar  >< com silêncio e ternura >< no interior do nosso interior,

e ali entender por que a gente se empurra tanto para o abismo,

por que se debate, se combate, se fere como se fôssemos rivais de nós mesmos.

 

Às vezes, amar a si é a mais silenciosa forma de revolução.

E vencer, apesar das vaias, é a oração mais verdadeira........

 

Música......

Onde Deus Possa Me Ouvir

Vander Lee ( participação  Mariene De Castro)


Publicado por Elixandra ( costura pensamento) em 09/05/2025 às 14h57
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07/05/2025 14h57
Quem esteve sempre ao seu lado?

Somos quatro irmãos // um homem e três mulheres. Desde pequenos, a vida nos dividiu em caminhos diferentes. Meu irmão e uma de minhas irmãs cresceram na casa dos meus avós. Eu e minha outra irmã fomos criadas com minha mãe, numa vida simples, lá na roça.

 

A gente não tinha muito. Tinha dias em que o café era com farinha, outros com macaxeira cozida // e, mesmo na escassez, havia um tipo de alegria. Eu e minha irmã comíamos juntas na mesma bacia, dividíamos tudo: o pouco da comida e o muito da dor. Quando ela caiu no poço, eu e minha mãe estávamos lá. Quando quebrei o braço, ela também estava. Nossa infância foi marcada por um sofrimento silencioso, mas sempre uma ao lado da outra.

 

Enquanto isso, meus outros irmãos cresciam com o aconchego e as festas da casa da vó. Nós duas, não. A vida nos ensinou cedo a resistir.

 

Depois, viemos morar na cidade. Minha mãe se apaixonou e, por um instante, quis outro rumo. Nos deu para outras pessoas // minha irmã para uma família, eu para uma tia. Foi ali que conhecemos o vazio mais cruel: o de não ter mais nossa mãe, nem uma à outra. O romance durou seis meses. Minha mãe voltou arrependida e nos pegou de volta. E de novo, eu e minha irmã estávamos lado a lado. As marcas desse abandono nos acompanharam para sempre.

 

Crescemos. Chegou a adolescência, e com ela, o caos. Eu e essa irmã brigávamos demais, como se nossas dores gritassem uma contra a outra. Mágoas se acumularam, raiva se instalou. A infância de cumplicidade virou uma juventude de conflito.

 

Anos depois, com mais de vinte e poucos anos, minha vó ficou doente. Veio morar com minha mãe e, com ela, vieram também meu irmão e minha outra irmã / aqueles que não dividiram o poço, nem a bacia, nem o abandono. E foi só aí que começamos a "conviver", como se fosse a primeira vez. Mas era tarde demais para criar vínculos sólidos. Meu irmão casou, minha irmã também. E adivinha? Eu e aquela irmã marreta / aquela com quem vivi tudo / continuamos juntas.

 

  • Hoje, os anos passaram, todos envelheceram. E eu me pergunto:
  • por que nunca me uni de verdade com quem sempre esteve ao meu lado?
  • Aquela que viu minhas dores, que chorou comigo, que passou fome e saudade junto.

Éramos para ser unidas. E não fomos.

 

Que acerto de contas seria necessário entre nossas almas para compreender esse desencontro?

 

 

Moral da história: 

 

Às vezes, quem esteve sempre ao seu lado não é quem você mais abraçou, mas quem mais compartilhou as dores com você.

E, mesmo assim, o peso das feridas pode afastar. O amor resistiu, mas nunca floresceu.

Talvez a tarefa mais difícil entre irmãos não seja estar junto no sofrimento,

mas conseguir se amar, apesar dele.

 

 

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Publicado por Elixandra ( costura pensamento) em 07/05/2025 às 14h57
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07/05/2025 12h13
" Sem o Último Abraço" (mãe)

Faz seis meses que minha mãe partiu. E o que mais dói não é só a perda, mas o tempo que passou sem vê-la pessoalmente. Morávamos em estados diferentes, e nossa relação vivia pelo telefone. Falávamos quase todos os dias. Horas de conversa. Prometíamos que um dia nos veríamos de novo, mas esse dia nunca chegou.

 

Numa noite comum, liguei para ela. Quem atendeu foi uma tia / minha mãe estava no hospital. De fundo, escutei os gritos de dor. Pedi que ela levasse o telefone até minha mãe. Mesmo sem forças, escutei sua voz sussurrando: “Não aguento falar.” Ainda assim, pedi: “Tia, leve o telefone.” E falei:

“Mãe, não fale nada. Apenas me ouça. Tenha força. Pense no seu Deus, no seu caminho. Confie, sem medo.”

Ela respondeu com um sussurro que ainda ecoa em mim:

“Rumm... ....parece que hoje é meu último dia.”

 

A ligação caiu. E com ela, caiu também o chão.

 

Às 5h50 da manhã, o telefone tocou novamente.

“Mãe........ acabou de falecer minha vozinha.” isso minha filha falando 

Foi um choro solto, desesperado. Um mundo se despedaçando.

 

O quarto ainda escuro, o ventilador rodando, a cortina se movendo como se dançasse um adeus. Lembro de sentir uma explosão química dentro de mim / adrenalina, cortisol / um entalo no peito. Minhas crianças ainda dormindo. Fui até a varanda. A chuva começou a cair. Olhava cada gota como se fossem lágrimas do céu. Chorava. Parava. Chorava de novo.

 

Um turbilhão de perguntas me invadia. Mil e uma culpas.

“Ela morreu mesmo? Ou foi só seu corpo que se desgastou?”

“Teria sido um plano de alma antes de nascer?”

“Será que meu sofrimento é puro egoísmo?”

“Se eu a amasse de verdade, deveria aceitar sua partida em paz?”

 

Filosofei. Questionei. Mas, no fim, nenhuma filosofia dava conta da dor. A dor é crua. É real. E me desabei.

 

Decidi não ir ao velório. Era uma viagem longa, pesada, e pensei: “Se enquanto ela viveu eu não fui, não faz sentido ir agora.” Acompanhei tudo daqui. Seu funeral. Seu enterro. No invisível, tudo acontecia dentro de mim.....

 

Nada fazia mais sentido. O pôr do sol perdeu a cor. Tudo ficou cinza.

 

Hoje, seis meses depois, minha vida segue em oscilação. Há dias de alegria. Outros de profunda tristeza. Às vezes, sinto só um buraco, um vazio. Já não choro mais. Estou naquela fase onde restam as perguntas silenciosas, o desânimo. Vivo mais na rede do que na rotina. Emagreci sete quilos. Tenho insônia. Pensamentos intrusivos. Mas estou aqui.....

 

E é nesse vazio de saudade que procuro força.

A escrita é o que me alivia.

Talvez seja ela que me devolva, aos poucos, à vida......

 

Epílogo – Quando a dor vira ciência

 

Hoje, com mais lucidez, comecei a estudar as reações químicas que vivi naquele momento. A curiosidade me levou a tentar entender por que senti tanto, o que aconteceu no meu corpo e no meu cérebro. Queria transformar aquela dor crua em compreensão.

 

Descobri que o luto é mais do que uma ausência / é uma reação biológica complexa. A Neurociência mostra que perder alguém ativa regiões cerebrais ligadas à dor física, como o córtex cingulado anterior. É como se o cérebro não soubesse distinguir entre uma dor emocional e uma fratura. Ambas são reais. Ambas doem....

 

Durante a perda, há uma descarga de cortisol, o hormônio do estresse. O corpo entra em estado de alerta. O coração acelera, o apetite some, o sono falha. Adrenalina também é liberada, o que pode causar tremores, tensão muscular e sensação de sufoco. E com o tempo, a falta de dopamina e serotonina / substâncias ligadas ao prazer e ao equilíbrio emocional / nos mergulha em um vazio que chamamos de tristeza, mas que é também um desajuste químico.

 

Muitos dizem que, do ponto de vista neurológico, o luto não deveria ultrapassar três meses. Mas quem já perdeu alguém sabe: o tempo da alma não segue relógios. A dor pode adormecer, mas continua ali, sob a pele, à espera de um cheiro, uma música, um silêncio.

 

O cérebro, ao tentar se adaptar à ausência, passa por fases. Primeiro o choque. Depois, a negação. Em seguida, a raiva, a tristeza profunda, a culpa / todas acompanhadas por variações hormonais intensas. Só depois, com muito tempo e reconstrução interna, vem a aceitação.

 

Hoje entendo que não enlouqueci naquela madrugada. Meu corpo apenas reagiu àquilo que o coração não suportava sozinho. E se a ciência me ensinou algo, foi que sofrer não é fraqueza / é humano. É químico. E, paradoxalmente, também é espiritual.

 

A escrita, por sua vez, tem sido o meu remédio. Um espaço onde minha alma e meu cérebro tentam se entender.

 

E talvez seja assim que eu vou vivendo: entre hormônios e palavras, entre ausência e reconstrução.

 

Entre o silêncio da perda…... e o som da vida que, aos poucos, volta a sussurrar.....

 

Reflexão final 

 

O corpo é físico,emocional e espiritual, então queria achar a cura ou completude.....

Como tudo, pra mim, vira estudo, fui estudar para compreender como era o funcionamento do meu corpo naquele momento. No fundo, eu queria achar uma solução / quase uma receita / para sair da depressão. Era como se o meu cérebro dissesse: "Agora é sua vez de morrer, o sofrimento acaba aqui."

 

Mas tentei fugir desse pensamento. Compreendi que o cérebro não é mal / ele só busca uma solução para o problema. Ele tenta resolver, mesmo sem saber o que é certo. Ele não sabe diferenciar o real do irreal, e por isso, quando estamos vulneráveis, ele pode nos conduzir a becos escuros, acreditando estar ajudando.

 

Aos poucos, estou me levantando. Reconstruindo pedaços por pedaços. Lentamente. Estou fazendo exercícios, voltando a costurar, vendo pessoas. Aprendi que não posso me isolar do calor dos outros. Ainda não recuperei o peso. Fui ao médico. Ainda não durmo bem. Mas estou fazendo tudo no meu tempo.

 

E estou escrevendo. E escrevendo. Porque é assim que me mantenho viva.

 

E talvez, nesse vazio de saudade, eu encontre / na escrita, na ciência, nas pequenas rotinas / a força silenciosa para continuar....

 

CENA FINAL – O ECO DA VELA

 

Luz suave no palco. Ao centro, uma rede levemente balançando. À direita, uma máquina de costura antiga, coberta por um tecido branco. Ao fundo, uma janela aberta com uma cortina leve esvoaçando. Chove lá fora. No chão, uma vela derretida, quase apagando. Ao lado, um caderno aberto com uma caneta descansando sobre ele.

 

(A personagem principal está sentada na rede, olhando para o nada. A luz da vela vacila. De repente, uma brisa atravessa o palco. A vela apaga suavemente. Silêncio. Um leve som de máquina de costura começa a ecoar ao fundo, como memória.)

 

VOZ DA MÃE (em off, suave, mas firme, como um sussurro vindo do tempo):

Filha....... estou bem.

 

(A personagem levanta lentamente a cabeça, os olhos se enchem de lágrimas contidas.)

 

VOZ DA MÃE:

Estou aqui, costurando tecidos por outras bandas...

Não se preocupe, onde estou agora, as linhas não se rompem mais.

Costuro estrelas com pontos firmes, remendo saudades,

E bordo flores nos sonhos de quem ainda sente minha falta.

 

(A luz da cortina fica dourada por instantes. A personagem se levanta, caminha até a máquina de costura, toca no tecido.)

 

PERSONAGEM (emocionada):

Mãe…... eu ainda te escuto, mesmo quando o mundo silencia.

O som da tua risada está guardado no fundo do meu peito.

E mesmo que a vela tenha apagado..… o eco continua.

 

VOZ DA MÃE:

A chama se apagou, filha…..

Mas o calor permanece em tudo que você toca, em tudo que você escreve.

Eu não fui embora.

Apenas costuro agora no pano invisível do teu caminho....

 

(A luz volta a subir suavemente. A vela se reacende sozinha, bruxuleando. A personagem volta a escrever no caderno. Um raio de sol atravessa a janela.)

 

PERSONAGEM (sorrindo, em voz baixa):

Vou continuar, mãe…....

Remendando minha alma com tua lembrança.

Costurando minha vida com teus ensinamentos.

E bordando esperança no tecido dos meus dias…...

 

Luz apaga devagar, com o som da máquina de costura ecoando como uma batida de coração. FIM.

 

No som baixo de: 

 

Comptine d'un Autre Été -yann tiersen -theChiefEmperor ....

Alexleanh...... 

 

Interstellar-Main Theme- Hans Zimmer ( Epic instrumental/piano cover)

Jacob's piano

 

Titanic- My Heart Will go on ( instrumental)[HQ]

Shinjeez

 

Passacaglia- Handel Halvorsen / Relaxing Piano music

William Freeman 

 

Essas foram as canções que ouvir no dia em que ela viajou.......E até hoje escuto.....

 

Chorei.......

Chorei.........


Publicado por Elixandra ( costura pensamento) em 07/05/2025 às 12h13
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06/05/2025 21h22
"Riqueza que o nome não conta"

Sou nordestina. Nascida na roça, criada no cheiro de terra quente e no som do galo de manhã. Conheço as pegadas da vida matuta como quem sabe de cor a palma da mão. Já andei de jumento, já fui buscar água na caçimba, dessas que a gente agradecia quando tinha. Porque, quando não tinha, era buraco fundo mesmo // e a gente descia por uma escada comprida, levando copo e balde pra raspar o restinho de água do fundo, como quem tira ouro do barro......

 

Morei sempre em vila pequena, interior seco de rachar sola de pé e coração. Quando a água não vinha, a gente ia. E mesmo assim tinha fé. Tinha também minha mãe, que parecia equilibrista de circo, levando a marmita na cabeça, amarrada num pano, atravessando mato e sol pra deixar a comida pro meu pai, lá na roça. E eu ia junto. Não só pela comida // ia pela brisa da descida da serra, pelo calor da subida, e por aquele silêncio que só o mato tem quando a gente aprende a escutar.....

 

A casinha de palha esperava a gente no meio do dia. Meu pai parava o trabalho, comia ali mesmo, na sombra que a palha deixava passar. E a gente voltava pra casa no passo manso da roça, com poeira na canela e o dia inteiro dentro da alma......

 

Vim daí. Do pobre, como o povo dizia. Mas pobre era só o nome. Aquilo era riqueza // da que o tempo leva, mas não apaga. Foi o tempo que me bordou por dentro. E esse tempo...... ah, esse não volta mais. Mas mora em mim.....

 

Sou do tempo da rede estendida e da alma sem pressa..........

 

Dormia muito em rede, e até hoje carrego esse balanço no corpo e na memória.

Gosto das coisas antigas. Nem todas cabem na vida de agora, eu sei....... o tempo anda, o mundo muda......

Mas tem lembrança que não se troca, não se esquece, não se atualiza.

Ela mora aqui, no canto quieto da alma, onde ainda venta brisa da serra e o silêncio tem cheiro de mato......

 

"Sou do sertão, do jumento e da caçimba, mas meu coração carrega biblioteca. Entre a poeira do chão e a beleza da escrita, fiz morada."............

 


Publicado por Elixandra ( costura pensamento) em 06/05/2025 às 21h22
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