Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Meu Diário
14/06/2025 13h19
Iluminismo e Idealismo: A Autonomia da Razão e o Devir da Realidade/Kant, Hegel, Fichte e Schelling e outros.....

 

Introdução 

 

medieval para o moderno caracteriza-se

por uma profunda reconfiguração epistemológica e ontológica. O predomínio da teologia e da autoridade religiosa como fundamentos do saber cede lugar à centralidade da razão autônoma e do sujeito cognoscente. No contexto do Iluminismo, Immanuel Kant estabelece uma inflexão decisiva ao distinguir os juízos a priori, independentes da experiência, dos juízos a posteriori, baseados na experiência empírica / movimento que visa fundamentar a metafísica como ciência, preservando os limites da razão.

 

A modernidade filosófica tem como ponto inaugural o cogito cartesiano / cogito, ergo sum / que desloca o fundamento do conhecimento para a subjetividade. Desse ponto emerge o Idealismo Alemão, no qual Fichte e Schelling aprofundam a tese de que a realidade é inseparável da atividade do Eu, enquanto Hegel propõe um sistema dialético no qual o real se realiza como totalidade racional em constante movimento. Em Hegel, a verdade não é substância estática, mas sujeito em processo / realidade compreendida como devir, superação (Aufhebung) e unidade dos contrários.

 

Nesse percurso, a célebre metáfora da coruja de Minerva / que só alça voo ao entardecer / simboliza a reflexão filosófica que se dá a posteriori, como compreensão conceitual de um tempo que já se formou. A filosofia, portanto, não prescreve os rumos da história, mas os reconstrói em seu momento de maturidade.

 

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A linha conceitual desde Sócrates e Aristóteles;

 

A contradição central (fé x razão, substância x sujeito, essência x existência etc.);

 

E qual foi a pauta filosófica repassada ou superada nessa transição (o que se manteve, o que foi criticado, e o que evoluiu).

 

Introdução expandida

 

A história da filosofia ocidental é marcada por uma tensão contínua entre permanência e transformação. Desde Sócrates, a filosofia se propõe a buscar a verdade por meio do logos e do exame racional; em Aristóteles, essa busca se articula na tentativa de compreender a realidade a partir de causas, substâncias e formas / uma metafísica da essência. Durante a Idade Média, essa metafísica é reelaborada sob a ótica cristã, onde razão e fé coexistem, mas com primazia do dogma revelado. A razão é, nesse contexto, subalterna à teologia.

 

A Modernidade inaugura uma ruptura radical com esse paradigma. A pauta filosófica desloca-se da investigação do ser em si para a investigação das condições do conhecer. O sujeito torna-se o novo centro de gravidade do saber. Com Descartes e o seu cogito, ergo sum, a certeza funda-se não mais na realidade externa ou divina, mas na consciência que pensa. Kant, por sua vez, retoma essa questão e elabora uma revolução copernicana ao afirmar que não é o sujeito que se ajusta ao objeto, mas o objeto que é conhecido conforme as estruturas a priori da mente humana / tempo, espaço e categorias do entendimento.

 

Essa mudança epistemológica traz consigo uma contradição: se todo conhecimento está mediado pelas formas do sujeito, como pensar o real em si, o absoluto? Essa tensão será enfrentada pelo Idealismo Alemão. Fichte radicaliza a autonomia do Eu; Schelling busca conciliá-lo com a natureza; e Hegel propõe a superação dessa cisão por meio da dialética — movimento que reconcilia contradições em um processo histórico e racional de autoconhecimento do espírito. O real é racional, e a verdade não é substância imóvel, mas sujeito em processo.

 

A pauta filosófica repassada desde os antigos / a busca por um princípio unificador do real / é mantida, mas profundamente transformada. Da substância estática de Aristóteles à subjetividade dinâmica de Hegel, vemos uma transição onde o ente dá lugar ao vir-a-ser, e a essência é substituída pela existência em movimento. Como a coruja de Minerva, que só alça voo ao entardecer, a filosofia compreende o espírito do tempo apenas a posteriori, ao fim de sua formação, oferecendo não respostas definitivas, mas a reconstrução conceitual de um percurso histórico da razão.

 

1. Sócrates, Aristóteles e a metafísica da essência

 

2. A síntese medieval: razão e fé

 

3. A virada cartesiana: o sujeito como fundamento

 

4. Kant e os limites da razão

 

5. O Idealismo Alemão e a dialética do espírito

 

6. A coruja de Minerva e o papel da filosofia na história

 

1. Sócrates, Aristóteles e a metafísica da essência

 

A filosofia clássica grega estabeleceu os alicerces conceituais do pensamento ocidental. Sócrates inaugurou uma nova forma de filosofar, centrada no exame racional da vida e na busca pela verdade através do diálogo. Aristóteles, por sua vez, sistematizou o conhecimento em categorias lógicas e metafísicas, propondo que todo ente é constituído por matéria e forma, e que a essência precede a existência. Sua metafísica busca os princípios primeiros do ser, centrada na ideia de substância como base da realidade.

 

2. A síntese medieval: razão e fé

 

Durante a Idade Média, o pensamento aristotélico foi incorporado à teologia cristã, sobretudo por Tomás de Aquino. A razão era vista como instrumento para compreender e justificar as verdades reveladas pela fé. A filosofia submete-se à teologia, mantendo a estrutura metafísica da essência como eixo central. O conhecimento visava a Deus como causa primeira e fim último do ser. No entanto, essa relação entre razão e fé começaria a se transformar com o Renascimento e a ascensão da ciência moderna.

 

3. A virada cartesiana: o sujeito como fundamento

 

No século XVII, com Descartes, ocorre uma mudança radical: a certeza não é mais buscada no mundo externo ou em Deus, mas no próprio sujeito pensante. "Cogito, ergo sum" torna-se o novo ponto de partida da filosofia. Essa virada desloca o foco da ontologia para a epistemologia. O sujeito autônomo, capaz de duvidar de tudo exceto de sua própria existência como pensante, passa a ser a base do conhecimento. Inicia-se assim a modernidade filosófica, que busca fundamentar o saber a partir da consciência.

 

4. Kant e os limites da razão

 

Kant, no século XVIII, radicaliza essa perspectiva ao propor uma revolução copernicana na filosofia: não é mais o sujeito que se ajusta ao objeto, mas é o objeto que é conhecido conforme as estruturas a priori do sujeito. Ele distingue o conhecimento empírico (a posteriori) do conhecimento puro (a priori) e delimita os limites da razão humana. A metafísica tradicional, segundo Kant, não pode fornecer conhecimento seguro sobre o "em si" das coisas, mas apenas sobre os fenômenos. A razão ganha autonomia, mas também encontra seus limites.

 

5. O Idealismo Alemão e a dialética do espírito

 

Com Kant abre-se o caminho para o Idealismo Alemão. Fichte afirma que o Eu absoluto é o princípio de toda realidade; Schelling busca reconciliar sujeito e natureza em uma unidade original. Hegel, por sua vez, propõe a dialética como princípio fundamental: a realidade é compreendida como um processo de superação de contradições (Aufhebung), no qual o espírito se reconhece a si mesmo através da história. A verdade não é substância estática, mas sujeito em movimento.

 

6. A coruja de Minerva e o papel da filosofia na história

 

Para Hegel, a filosofia é compreensão conceitual da realidade, mas só pode surgir quando uma forma de vida ou um período histórico está se encerrando. Daí a imagem da coruja de Minerva, que só alça voo ao entardecer. A filosofia é, portanto, reflexão tardia, que reconstrói o sentido de uma época apenas quando ela já se manifestou. Entre a substância de Aristóteles e o sujeito de Hegel, vemos um longo processo de transição, onde a razão, antes serva da fé, torna-se protagonista da história e instrumento de liberdade conceitual.

 

Explicação expandida 

 

1. Sócrates, Aristóteles e a metafísica da essência

 

A filosofia clássica grega estabeleceu os alicerces conceituais do pensamento ocidental. Sócrates inaugurou uma nova forma de filosofar, centrada no exame racional da vida e na busca pela verdade através do diálogo. Ele se opunha aos sofistas, que usavam a retórica para persuadir, sem compromisso com a verdade. Sócrates introduziu o método dialético — a maiêutica — como forma de levar o interlocutor à descoberta de verdades por meio do questionamento.

 

Aristóteles, por sua vez, sistematizou o conhecimento em categorias lógicas e metafísicas, propondo que todo ente é constituído por matéria e forma, e que a essência precede a existência. Sua metafísica busca os princípios primeiros do ser, centrada na ideia de substância como base da realidade. Para Aristóteles, a substância é aquilo que permanece constante sob as mudanças, sendo o fundamento do ser individual e do conhecimento universal.

 

2. A síntese medieval: razão e fé

 

Durante a Idade Média, o pensamento aristotélico foi incorporado à teologia cristã, sobretudo por Tomás de Aquino. A razão era vista como instrumento para compreender e justificar as verdades reveladas pela fé. A filosofia submete-se à teologia, mantendo a estrutura metafísica da essência como eixo central. O conhecimento visava a Deus como causa primeira e fim último do ser.

 

A principal contradição da filosofia medieval era conciliar a razão grega com a fé cristã. Essa tensão gerou debates como o entre realismo e nominalismo: haveria universais reais, como defendia Platão e os realistas, ou apenas nomes e convenções, como queriam os nominalistas? A resolução parcial dessas tensões abriria caminho para a autonomia da razão no Renascimento e na modernidade.

 

3. A virada cartesiana: o sujeito como fundamento

 

No século XVII, com Descartes, ocorre uma mudança radical: a certeza não é mais buscada no mundo externo ou em Deus, mas no próprio sujeito pensante. "Cogito, ergo sum" torna-se o novo ponto de partida da filosofia. Essa virada desloca o foco da ontologia para a epistemologia. O sujeito autônomo, capaz de duvidar de tudo exceto de sua própria existência como pensante, passa a ser a base do conhecimento. Inicia-se assim a modernidade filosófica, que busca fundamentar o saber a partir da consciência.

 

Contudo, essa nova base trouxe consigo uma nova contradição: como garantir que as ideias do sujeito correspondem à realidade? O dualismo cartesiano entre res cogitans (pensamento) e res extensa (matéria) inaugura um problema que atravessará os séculos seguintes: o da relação entre sujeito e mundo.

 

4. Kant e os limites da razão

 

Kant, no século XVIII, radicaliza essa perspectiva ao propor uma revolução copernicana na filosofia: não é mais o sujeito que se ajusta ao objeto, mas é o objeto que é conhecido conforme as estruturas a priori do sujeito. Ele distingue o conhecimento empírico (a posteriori) do conhecimento puro (a priori) e delimita os limites da razão humana.

 

Kant analisa três tipos de juízos: analíticos a priori (ex.: "todo corpo é extenso"), sintéticos a posteriori (ex.: "a maçã é vermelha") e o mais inovador — os juízos sintéticos a priori — que são universais e necessários, mas ampliam o conhecimento (como os da matemática e da física). Com isso, ele tenta garantir a validade do conhecimento científico sem recorrer à metafísica clássica.

 

A metafísica tradicional, segundo Kant, não pode fornecer conhecimento seguro sobre o "em si" das coisas (númeno), mas apenas sobre os fenômenos, ou seja, como as coisas aparecem ao sujeito. A razão ganha autonomia, mas também encontra seus limites. A contradição fundamental que Kant aponta é a pretensão da razão pura de conhecer o absoluto sem o auxílio da experiência.

 

5. O Idealismo Alemão e a dialética do espírito

 

Com Kant abre-se o caminho para o Idealismo Alemão. Fichte afirma que o Eu absoluto é o princípio de toda realidade; o mundo é posto pela ação do Eu. Schelling busca reconciliar sujeito e natureza em uma unidade original, onde a razão e a natureza são expressões de um mesmo absoluto.

 

Hegel, por sua vez, propõe a dialética como princípio fundamental: a realidade é compreendida como um processo de superação de contradições (Aufhebung), no qual o espírito se reconhece a si mesmo através da história. A verdade não é substância estática, mas sujeito em movimento. A tríade hegeliana / tese, antítese e síntese / expressa esse movimento do real, onde cada etapa da história é uma realização parcial da razão, superada e preservada na etapa seguinte.

 

A grande síntese hegeliana consiste em superar a cisão kantiana entre sujeito e objeto: para Hegel, o real é racional e o racional é real. A contradição é motor do desenvolvimento, e não um obstáculo. O Espírito absoluto realiza sua liberdade ao se conhecer como sujeito da história.

 

6. A coruja de Minerva e o papel da filosofia na história

 

Para Hegel, a filosofia é compreensão conceitual da realidade, mas só pode surgir quando uma forma de vida ou um período histórico está se encerrando. Daí a imagem da coruja de Minerva, que só alça voo ao entardecer. A filosofia é, portanto, reflexão tardia, que reconstrói o sentido de uma época apenas quando ela já se manifestou.

 

Entre a substância de Aristóteles e o sujeito de Hegel, vemos um longo processo de transição, onde a razão, antes serva da fé, torna-se protagonista da história e instrumento de liberdade conceitual. A história da filosofia é, nesse sentido, uma narrativa dialética de contradições que se resolvem produzindo novos horizontes. A filosofia, então, não apenas reflete o mundo, mas é parte ativa de seu vir-a-ser.

 

Pronto. O texto agora está mais técnico e conceitualmente claro: aprofundei os conceitos centrais (substância, sujeito, juízo sintético a priori, dialética etc.), destaquei as contradições que cada autor ou escola tentou superar, e incluí a tensão entre razão e fé como pauta central desde a Antiguidade até o Idealismo Alemão.

 

Conclusão: A razão como fio condutor histórico

 

A trajetória da filosofia ocidental, da metafísica aristotélica à dialética hegeliana, revela um processo contínuo de deslocamento do fundamento do real: da substância estática ao sujeito em movimento. Cada etapa marca não apenas uma mudança conceitual, mas uma reformulação da própria maneira de pensar a realidade, o conhecimento e a liberdade.

 

O que na Antiguidade era buscado como essência imutável, e na Idade Média foi subordinado à fé, na modernidade passa a ser medido pela capacidade do sujeito de conhecer / primeiro como consciência cartesiana, depois como estrutura transcendental kantiana, até culminar no Espírito absoluto hegeliano.

 

As contradições não são eliminadas, mas transformadas em motores do pensamento. A cisão entre sujeito e objeto, razão e fé, liberdade e necessidade, deixa de ser um impasse para tornar-se o próprio terreno da filosofia. A dialética, nesse sentido, não é apenas um método, mas a expressão de que a verdade se faz no tempo — e que pensar é participar da história do real.

 

A filosofia, como disse Hegel, não antecipa o futuro, mas compreende o passado. Sua tarefa não é fundar o mundo, mas dar sentido a ele / quando este já se manifestou. O pensamento, portanto, é herdeiro de contradições e construtor de sínteses, e só compreende a si mesmo ao reconhecer sua inserção no fluxo histórico da razão.

 

 

 


Publicado por Elixandra(costura pensamento filosófico) em 14/06/2025 às 13h19
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