Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Meu Diário
19/06/2025 16h09
🪞 O Mundo Dividido: Entre Nietzsche e Platão

Desde os primórdios do pensamento, o ser humano busca sentido / entre o visível e o invisível, entre o corpo que toca e a alma que deseja. Platão, com sua maestria, desenhou um mapa metafísico: de um lado o mundo sensível, feito de sombras e impermanências; do outro, o mundo inteligível, onde repousa a verdade, a justiça, a ideia eterna do bem. Era uma filosofia para aqueles que ansiavam por mais do que os olhos podiam ver.

 

Séculos depois, o Cristianismo beberia dessa fonte. O céu cristão é o reflexo do mundo das ideias. A Terra se torna um vale de lágrimas, um palco provisório, onde o corpo é tentação e a alma espera redenção. A morte não é fim, mas passagem. A vida aqui é apenas o ensaio para a vida real / a eterna.

 

Nietzsche então se ergue como trovão. Acusa: “O Cristianismo é Platonismo para o povo.” Para ele, essa metafísica dualista é um veneno. É a negação da vida, é o desprezo pela carne, é a castração do desejo. O que deveria ser vivido foi condenado como culpa. O instinto foi reprimido em nome da salvação. A alma foi exaltada e o corpo humilhado. A vida presente, sacrificada a um ideal ausente.

 

Ele propõe uma transvaloração: um novo tipo de humano / o além-do-homem / que afirma a vida em sua totalidade. Um homem que ama o caos, o acaso, o corpo, o instante. Um homem que não precisa de além-mundos para justificar sua existência.

 

Mas…

 

🜂 Em Defesa de Platão: O Mundo das Ideias como Fundamento

 

Será que Nietzsche não está errado em sua revolta? Será que sua crítica à metafísica não é, na verdade, uma reação visceral àquilo que ele não compreendeu em profundidade?

 

Platão não nega o corpo / ele o situa. O sensível não é desprezível, mas transitório. O inteligível não é uma negação da vida, mas a sua orientação mais alta. O desejo humano não é um erro: é um movimento de retorno ao que é pleno. O amor, para Platão, é exatamente isso / o desejo de reencontro com a Beleza que nos escapa no mundo visível, mas que existe de forma plena no mundo invisível.

 

Nietzsche acreditava que a ausência é o que move o desejo. Platão diria: sim / mas essa ausência não é ilusão, é memória de um lugar mais real. O inteligível não nega a vida / ele a fundamenta.

 

E quanto ao Cristianismo? É verdade que muitas leituras dogmáticas causaram repressão, medo e culpa. Mas isso não invalida a metafísica platônica, apenas mostra como ela pode ser mal usada. O fato de uma ferramenta ter sido mal aplicada não significa que ela deva ser descartada. A alma não é oposta ao corpo / é a forma mais elevada da existência que o corpo tenta alcançar.

 

Nietzsche queria nos salvar da repressão. Platão queria nos lembrar de quem somos. Um viu o perigo da transcendência mal interpretada. O outro sonhou com a plenitude que se esconde por trás do véu do sensível.

 

Conclusão: Nem só corpo, nem só ideia / mas o caminho entre

 

Entre Platão e Nietzsche talvez esteja o caminho mais humano:

 

afirmar o corpo, sem matar o espírito,

 

buscar o eterno, sem negar o instante.

Porque o desejo precisa de sonho, mas também de toque.

Porque a alma quer voar, mas sempre volta para casa, no corpo.

 

Introspecção 

 

🧠 O Cristianismo como Platonismo para o Povo

 

Nietzsche dizia:

 

> “O Cristianismo é Platonismo para o povo.”

(Crepúsculo dos Ídolos)

 

📚 . Herança de Platão: o mundo dividido

 

Platão separou a realidade em:

 

Mundo sensível (o aqui e agora, material, imperfeito)

 

Mundo inteligível (o eterno, invisível, perfeito)

 

Essa ideia foi assimilada pelo Cristianismo, que reinterpretou assim:

 

Mundo sensível = mundo pecaminoso, terreno

 

Mundo inteligível = céu, reino de Deus, salvação

 

🩸. Nasce o dualismo moral:

 

A consequência disso foi uma divisão dentro do próprio ser humano:

 

Corpo x Alma

 

Desejo x Pureza

 

Terra x Céu

 

Vida presente x Vida eterna

 

Nietzsche enxergava isso como uma negação da vida, uma traição ao corpo, ao instinto e ao real.

 

🧬 . Culpa, pecado e repressão

 

O Cristianismo, nessa leitura, introduziu o “vírus da culpa”:

 

Disse que somos pecadores por natureza.

 

Que devemos nos sacrificar, negar prazeres, reprimir desejos.

 

Que essa vida é apenas um “teste” para outra.

 

Nietzsche vê nisso uma forma de adoecimento da alma, de aprisionamento da vontade, de desvalorização da existência concreta.

 

🌿 Nietzsche propõe:

 

Um retorno à terra, ao corpo, ao aqui e agora.

Não em busca de um “pecado livre”, mas de uma vida afirmada — com seus impulsos, tragédias, alegrias e dores.

 

elixandra cardoso 


Publicado por Elixandra(costura pensamento filosófico) em 19/06/2025 às 16h09
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