Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


Epidemiologia: O Ciclo Invisível da Vida e da Morte

 

 

Na aurora da medicina, antes que o microscópio desvendasse os segredos invisíveis à nossa visão, o caminho da cura passava pela filosofia, pelo entendimento dos elementos que regem a vida. Hipócrates, o pai da medicina, em suas observações, já sabia que o corpo humano não poderia ser entendido isoladamente, mas sim em sintonia com os elementos naturais // o fogo, a terra, o ar e a água. Ele acreditava que o equilíbrio desses elementos dentro de nós era a chave para a saúde. E assim, a epidemia não era vista apenas como um mal físico, mas como uma disfunção cósmica, algo que interrompe a harmonia universal.

 

Com o tempo, Galeno levou essa visão a um novo patamar, trazendo o humorismo como teoria de explicação das doenças / a ideia de que os fluídos do corpo e sua interação com o ambiente eram o que determinava a saúde. Mas, mais que isso, ele introduziu a reflexão filosófica sobre como as doenças não afetavam apenas o corpo, mas a alma. Galeno nos ensina que a epidemia é, muitas vezes, um reflexo do estado interior de uma sociedade. Ela se espalha como as sombras de um medo coletivo, e o remédio, então, não está apenas na cura física, mas na restauração da alma da coletividade.

 

No entanto, o que significa epidemia nos dias de hoje, quando vivemos cercados por uma modernidade que, embora repleta de avanços tecnológicos, nos parece mais doente e fragmentada do que nunca? A epidemia moderna não é apenas uma questão de vírus e bactérias, mas também de isolamento social, crises emocionais, desequilíbrio ambiental e uma desconexão profunda com a natureza.

 

Nos tempos atuais, as epidemias não se limitam a doenças infecciosas. Elas são também pandemias de ansiedade, tristeza coletiva, e até mesmo abalo social. A doença hoje também é psicológica e existencial. Assim como Hipócrates viu o corpo como um reflexo dos elementos da natureza, nós, enquanto seres humanos, somos, muitas vezes, reflexos do mundo que nos cerca. As tensões sociais, o desgaste ambiental, as crises / tudo isso se manifesta em nossa saúde mental e física.

 

Os elementos naturais > fogo, terra, água e ar > ainda estão presentes, mas em formas distorcidas e muitas vezes desconhecidas. O fogo agora é a consciência global acesa pelo medo, pelas notícias, pelos medos do futuro. A terra se torna cada vez mais instável, não apenas no sentido geológico, mas na incerteza do nosso lugar no mundo, como indivíduos e como sociedade. A água nos fala de fluidez e mudança, mas também de escassez, em um mundo onde a crise hídrica e a contaminação desafiam nossas mais simples necessidades. O ar, tão essencial, agora está carregado de poluição, de tóxicos invisíveis que, assim como as doenças antigas, entram em nosso corpo sem ser vistos, mas se fazendo sentir em nossa saúde e em nossa alma.

 

E então, o que significa cura em tempos de epidemias modernas? Não é mais apenas sobre erradicar uma doença física, mas sobre restaurar o equilíbrio perdido / entre o interior e o exterior, entre o homem e a natureza, entre o indivíduo e a coletividade. A verdadeira cura não está apenas nos hospitais, nas vacinas ou nos tratamentos,(que são todos importantes) mas no reconhecimento de nossa interdependência com tudo o que nos cerca. Devemos aprender, como Hipócrates nos ensinou, a tratar o corpo como parte de um todo maior / e esse todo é o cosmos.

 

Assim, a epidemia não é um fim, mas uma oportunidade de reflexão e renascimento. Um convite a restaurar a harmonia com os elementos e com a vida que nos pulsa. Somos feitos da mesma matéria que as estrelas, mas também da terra que pisamos e do ar que respiramos. Quando cuidamos de nosso planeta, curamos também a nós mesmos. Quando cuidamos de nossa alma, curamos as epidemias que afligem o espírito humano.

 

Epílogo:

 

Não escrevo para ensinar, nem para mudar ninguém. Escrevo para recordar a mim mesma que estamos todos, de alguma forma, doentes e curados ao mesmo tempo. O corpo humano, o corpo coletivo e o corpo do planeta. E a cura, como o ciclo da vida, está em constante movimento.

 

 

 

 

Esse ensaio traz a ideia de epidemia de forma poética, refletindo sobre como ela vai além de doenças físicas e se conecta à saúde mental, emocional e espiritual.

 

Ensaio filosófico poético 

Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 22/04/2025
Alterado em 24/04/2025
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