"O Tempo e o Desejo: um Diálogo no Infinito"

Sentados à beira de um relógio quebrado, o Tempo e o Desejo se encontraram. Não era a primeira vez, mas cada reencontro parecia inédito, como se um nunca reconhecesse plenamente o outro.

O Tempo vinha lento, vestindo cinza, com passos firmes e olhos fundos. Carregava memórias nos bolsos e futuros nos ombros. O Desejo chegou apressado, inquieto, com olhos que brilhavam de vontades e mãos que tremiam de urgência.

“Você sempre chega cedo demais”, disse o Tempo.

“E você sempre vem tarde”, retrucou o Desejo.

Havia uma tensão antiga entre os dois. O Tempo exigia paciência. O Desejo gritava agora. Um plantava. O outro colhia antes da flor.

“Você me cansa”, murmurou o Tempo.

“Você me atrasa”, respondeu o Desejo.

E ali, naquele instante que parecia fora da linha das horas, os dois perceberam que estavam presos um no outro. O Desejo sem Tempo era caos. O Tempo sem Desejo era vazio.

Desejo, com olhos brilhando como criança, perguntou:

“E se eu parar de querer?”

Tempo respondeu, com um sorriso triste:

“Então eu paro de passar.”

Foi nesse momento que se entenderam. Que o Desejo não era inimigo do Tempo, mas sua dança. E o Tempo não era o algoz do Desejo, mas sua travessia.

Porque toda vontade precisa de espera para virar realidade. E toda espera precisa de um porquê para não virar morte.

Desde então, caminham juntos. Às vezes discutem. Às vezes se desencontram. Mas sempre voltam. Porque, no fundo, são apenas formas diferentes de uma mesma coisa: a vida que pulsa entre o que ainda não é... e o que pode vir a ser.

Ensaio filosófico poético 

Isso