![]() "Álcool e Embriaguez: Diálogo entre o Cálice e o Abismo"
Era uma noite morna. Na beira de uma consciência cansada, dois velhos conhecidos se encontraram: o Álcool e a Embriaguez.
O Álcool, alquimista dos líquidos, vinha de laboratórios, uvas esmagadas, cereais fermentados e tradições antigas. Sabia de química, de cultura, de história. Tinha perfume de festa, voz de riso solto e promessa de alívio. A Embriaguez, por sua vez, chegava depois >> cambaleante, doce, trágica. Era emoção crua. Era o outro lado da chave. Era o afrouxamento do Eu.
Sentaram-se frente a frente, dentro do peito de um homem que só queria esquecer.
“Sou apenas uma substância”, disse o Álcool. “Faço sinapses desacelerarem, dopamina dançar, julgamento vacilar. É fisiologia. Nada mais.” “E eu sou a libertação”, sussurrou a Embriaguez. “Sou o grito que ele nunca deu, o abraço que ele não teve, a coragem que a lucidez negou.”
Mas no meio da conversa, surgiu uma terceira figura: a Consciência. Vinha lenta, como quem acorda de um sonho turbulento. Trazia perguntas.
“Por que o prazer precisa da fuga?”, ela perguntou. “Por que o corpo pede mais quando já está no limite?” “E por que a dor volta mais forte quando a embriaguez vai embora?”
O Álcool tentou se defender: “Não sou o erro. Sou a escolha. Sou o meio, não o fim.” A Embriaguez suspirou: “E eu sou só o reflexo do vazio que ninguém cuida quando está sóbrio.”
A ciência diria que tudo isso são reações químicas: o etanol cruzando a barreira do sangue-cérebro, silenciando o lobo frontal, liberando o que estava trancado. Mas o coração sabe que, por trás disso, mora o desejo de não sentir. Ou de sentir demais.
Muitos buscam no copo aquilo que o mundo não oferece: Paz, coragem, esquecimento, amor, ou simplesmente um intervalo.
Mas o copo é um espelho: devolve distorcido o que você derrama dentro dele.
O certo e o errado não moram na bebida. Moram na intenção, na frequência, no porquê. Moram na fronteira entre o querer e o precisar.
No fim, Álcool e Embriaguez partiram. Deixaram a Consciência com gosto amargo na boca e uma pergunta na alma:
“Você está bebendo para brindar à vida… ou para fugir dela?”
Ensaio filosófico poético pega de prosa
Isso é tudo... Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 22/04/2025
Alterado em 24/04/2025 Comentários
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