Costura, Café e Perguntas

Todo dia eu começo assim: uma xícara de café, a máquina de costura ali do lado e algum livro aberto perto de mim. Às vezes nem dá tempo de ler direito, mas só de saber que ele está ali, já me sinto acompanhada.

Entre um ponto e outro, a cabeça voa. A costura me acalma, mas também é um lugar onde a saudade senta comigo. Saudade de um tempo em que eu não sabia muita coisa, mas já perguntava demais. Lembro bem: com uns cinco anos, eu olhava pro céu e me perguntava como o sol e a lua ficavam lá em cima, suspensos daquele jeito. E mais: como o sol andava se a terra parecia tão parada?

Essas perguntas nunca mais me deixaram. Fui crescendo e querendo saber mais. Fui pro catecismo, na igreja católica, achando que talvez ali eu encontrasse respostas. Mas não. Vieram palavras bonitas, sim, mas as respostas que eu tanto ansiava... essas ficaram no ar, como o sol e a lua que me deixaram curiosa lá atrás.

Rolei por outros caminhos também, além da igreja católica. Busquei em outras crenças, outras ideias, outras filosofias. Achei fragmentos bonitos, mas nada completo. No fim das contas, me parece que a vida não é sobre perambular por muitos lugares atrás de respostas. Talvez elas não estejam lá fora. Talvez estejam nesse silêncio entre um ponto e outro. Ou nesse restinho de café que sempre sobra.

Porque é isso: o café eu levo comigo, numa xícara que parece que vai transbordar, mas nunca transborda. No fim, sempre fica um restinho ali no fundo, frio. Um gole esquecido que, de certo modo, me acompanha. É como as perguntas que nunca cessam. Elas não precisam de respostas prontas. Só de espaço pra existir. E talvez seja esse restinho > o que sobra > que mais diz. Que mostra que não precisa transbordar pra ter sentido. Que o que fica também fala.

A costura me sustenta. O café me aquece. E é essa busca silenciosa, esse restinho que nunca seca, que me move.

Prosa poética com alma de crônica poética lírico 

........Entre um ponto e outro....... te convido para uma xícara de café. Senta aqui comigo e me conta: como anda o teu viver?"