Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


O Restinho de Café

No canto da máquina de costuras, as emoções...

 

Às vezes, no fim do dia, percebo ele ali: o restinho de café frio esquecido no canto da máquina. Nem quente, nem morno > apenas gelado, meio morto. Passou o dia inteiro ali, sem que eu percebesse. Tão pequeno, mas dizendo tanto.

 

Fico olhando aquele café e me pergunto: quantas coisas a gente também deixa assim, pela metade? Uma conversa que não aconteceu. Um abraço que não foi dado. Um "desculpa" engolido. Um sonho que a gente dobrou e guardou na gaveta porque "agora não dá".

 

O café não reclamou de ter sido esquecido. Só esfriou. E ficou ali, como muitas partes da gente que a gente abandona em silêncio. E quando vê, o tempo passou > e o que ficou gelado, já nem serve mais pra aquecer.

 

Tem dias em que eu me sinto assim também: nem quente, nem fria. Só morna. Nem coragem de ir, nem força pra ficar. Só estou. Como o café que já foi promessa de despertar, mas agora é só sobra.

 

A vida, às vezes, parece cheia de restos mornos. Gente que amamos pela metade. Decisões que adiamos. Palavras que calamos. E como o café, essas coisas vão perdendo o calor, ficando ali no canto, até que não sirvam mais pra nada > só pra lembrar que o tempo passou.

 

Mas talvez esse restinho de café tenha um recado: não é preciso transbordar, mas também não dá pra viver sempre morna. Que a gente seja quente ao menos por dentro. Que tenha coragem de dizer, de fazer, de sentir.

 

Porque café esquecido ainda dá um susto. Mas o que a gente esquece em nós mesmos... isso sim dói.

 

E se quiser, senta aqui comigo. Te sirvo uma xícara e a gente proseia.

Me conta: teu viver hoje tá quente, morno ou frio?

 

 

crônica poética ou até mesmo prosa poética com alma de crônica.

 

Elixandra (costura pensamento filosófico)
Enviado por Elixandra (costura pensamento filosófico) em 23/04/2025
Alterado em 23/04/2025
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