Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


"Certo dia, numa leitura >>> encontros e desencontros ".

 

Certo dia, numa leitura de livro, deitada na minha varanda, meu gato preto era minha companhia > roçando nos meus pés como quem sussurra um segredo antigo só com o toque "estou aqui". O toque sutil do felino me trouxe de volta áquela página, era noite. Meia- noite e meia. Que vinha uma brisa fresca, meio molhada de sereno, e um barulhinho de grilo cantava ao fundo, como se a cantoria fosse feita só  pra mim. Naquela clima, o embalo da rede ia como quem não tem pressa de chegar a lugar nenhum.

 

Como que se pergunta: é possível gostar de alguém que não é nosso?

 

Essa pergunta, que não tem dono nem resposta, me acompanhava entre as linhas do livro e os sons da noite. Um amor que não se possui, mas existe. Que não se nomeia, mas habita. Que não está nos braços, mas está em tudo. 

Talvez esse amor só exista mesmo no intervalo entre dois silêncios. Ou entre duas páginas viradas.

 

Fiquei ali, debruçada na página que falava de encontros e desencontros, e algo dentro de mim se calou. Porque às vezes esse “alguém” nem existe. É só uma ideia com cheiro, uma lembrança com pele, um eco de presença que nunca se fez matéria. Um vulto bom.

 

Gostar assim é uma dança silenciosa > onde um pé pisa no agora e o outro escorrega no imaginário. Como que se pergunta: existe ausência de quem nunca esteve? A resposta veio num sopro da noite: sim. E como ar, se espalha.

 

Era como se o amor brotasse não do outro, mas do que desperta em mim. Como uma semente de ipê que não espera jardim pra florir. Um amor que é mais estado do que destino. Não precisa dar certo, só precisa existir em mim.

 

Como que se pergunta: então, ele é real?

Talvez não. Talvez ele seja só esse reflexo do que sou > e ainda assim, tão real quanto o vento que não se vê, mas esfria a pele. Porque no tao, tudo que flui é. E se está no fluxo, existe. E se toca, mesmo sem mãos, deixou marca.

 

A vida ali, naquela noite, era um diálogo entre o que não se via. O gato, o grilo, a rede, a página. Tudo dizia algo sem usar palavras. E aquele alguém, que não era meu, morava entre as linhas do que eu sentia.

 

Como que se pergunta: e se a gente for só passagem nos corações alheios?

Talvez o amor não seja posse, mas passagem. Não seja nome, mas presença. Uma mistura de céu com mar, que ninguém segura, só contempla.

 

E então fechei o livro, como quem recolhe o mundo num suspiro. Meu gato se enroscou ainda mais. O grilo calou. A rede parou. E eu fiquei ali, gostando de quem não era meu, mas era meu sentir.

 

Como que se pergunta: isso basta?

Naquela noite, bastava.

 

Levantei para tomar um gole d’água. Deixei o livro repousando sobre a rede, como quem deixa um segredo descansando. Meu gato, fiel, seguiu-me, enroscando no caminho. O canto do grilo foi ficando suave, como quem quer me dizer alguma coisa que só se entende com o coração calado.

 

Tomei a água, olhei o céu por um instante e voltei. A rede ainda me embalava. A página me esperava. Mas o sono chegou, sereno, e ali mesmo adormeci > entre o real e o que se sonha.

 

Quando despertei, já não era o grilo que cantava. Era o galo. Como quem diz: “Volta. A fantasia já passou.”

 

Coloquei os pés pra fora da rede e lá estava ele, meu gato preto, enroscando-se mais uma vez. Como se o mundo começasse assim: com um toque leve, uma companhia silenciosa, e o eco de um amor que não se possui, mas que permanece.

 

Como se pergunta…

 

E como se responde?

Talvez só vivendo.

Talvez só sentindo.

 

Porque às vezes o que nos cabe não é entender, é acolher.

Nem tudo que existe precisa ser nosso.

Alguns amores, como o vento da noite ou o canto do grilo, só vêm pra nos tocar > e ir.

E tudo bem.

 

A moral?

É que mesmo o que não fica, deixa algo em nós.

E a beleza disso… é que seguimos inteiros, mesmo depois do que nunca foi.

 

Chega mais perto.

Puxa uma cadeira aqui na roda do café,

deixa o tempo passar devagar enquanto a gente se escuta.

Me conta…

Quais foram teus encontros?

E os desencontros que ainda moram em ti?

 

Não precisa pressa. Nem resposta pronta.

Só chega com o coração aberto.

Aqui, a gente proseia com olhar e silêncio também.

 

Prosa poética com alma de crônica,

(Fictícios )

 

É isso...

 

 

 

Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 23/04/2025
Alterado em 23/04/2025
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