Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


“Refresco de Maracujá e Cinema ao Vivo”

Era por volta das três da tarde. Um sol quente como quem pede um refresco > daqueles bem geladinhos de maracujá com muita polpa e pouca pressa.

 

Aconteceu ali mesmo, nas redondezas do meu bairro, naquele lugar sagrado onde a rotina encontra seus fiéis: a padaria famosa da esquina. Todo dia tem encontro. Todo dia tem alguém que   >>> vai buscar algo que nem sabe.

 

Cheguei como quem não quer chamar atenção, mas no fundo queria um canto > e talvez uma companhia que nunca chega. Disse ao moço do balcão com voz branda:

> Um refresco de maracujá, por favor.

E fui me sentar como sempre faço, solitária por fora, tumultuada por dentro.

 

O lugar era o de sempre. O copo d'água gratuito já sobre a mesa, o barulho da máquina de café soprando vapor, e a televisão pendurada no canto, exibindo seu programa ou filme da tarde.

 

Mas naquele dia, tinha algo diferente. Uma cena romântica. Cinema à brasileira. Um beijo tímido sob chuva de verão. Um reencontro com trilha sonora. Um amor impossível vencendo o tempo e o orgulho.

 

Fiquei ali, parada, com o olhar preso na tela e o pedido esquecido no balcão.

Por instantes, a vida pausou.

A padaria virou plateia.

O calor, trilha de um verão cinematográfico.

E o refresco, esquecido.

 

Me vi naquele abraço da cena.

Senti aquele beijo como quem se lembra de um que não teve.

Suspirei como quem entende tarde demais.

 

Talvez não fosse o filme. Talvez fosse a fome de sentir de novo > ou a saudade de algo que nunca chegou, mas mora ali, entre um café e um pão na chapa.

 

O moço do balcão me chamou de volta:

> Senhora, seu refresco!

Peguei o copo com as duas mãos, como quem segura algo mais que maracujá. Era memória, era desejo, era metáfora líquida.

 

Saí dali com gosto de fruta e de filme. E com a certeza: às vezes, é no meio do barulho que a alma escuta mais alto.

 

A moral

 

E ali, sentado na padaria, entre o barulho dos pedidos e o frescor imaginado do maracujá, percebi: a linha entre o real e o sonhado é por vezes tênue. A cena do filme, tão cheia de amor e promessa, me abraçou como se fosse minha > e por instantes, foi. Às vezes, basta um detalhe, uma imagem, uma música de fundo, e a vida nos escapa um pouco para ser vivida no invisível. No fim, talvez tudo seja mesmo um grande filme: com cenas que tocam, outras que passam, e aquelas que a gente leva pra casa sem perceber. Ás vezes é sobre parar, sentir e lembrar que os desafios também têm pausas. E que até nas esquinas mais comuns, como a da padaria do bairro, mora uma delicadeza: viver é resistir com ternura.

 

Às vezes, um simples refresco numa tarde comum pode nos lembrar do quanto ainda sentimos, sonhamos e esperamos >mesmo quando fingimos que só viemos pela bebida. A alma tem sede de mais do que maracujá.

 

A vida, mesmo nos dias mais quentes e aparentemente banais, guarda pequenas cenas de encanto > como um filme que invade a realidade e nos mostra que o amor, às vezes, está na pausa, no olhar distraído, no simples estar ali.

 

 

 

Agora que “Proseiei” um tanto, puxa uma cadeira aqui do lado, aceita um refresco de maracujá feito na hora... e me conta tuas histórias também. Teus amores, teus silêncios, tuas cenas de filme no meio da tarde. Quero ouvir teu lado da vida."

 

Prosa poética com alma de crônica lírico 

 

É isso

 

 

Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 23/04/2025
Alterado em 24/04/2025
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