![]() "Bilhete no varal da alma"Fragmentos de um sonho
Como quem estende roupa no fio do tempo, pendurei um bilhete amassado no varal da alma. Era pro vento ler e, quem sabe, entregar a quem precisasse escutar. Às vezes, a gente escreve pra lembrar do que nunca devia esquecer.
Despertei às quatro da manhã, num silêncio que só a madrugada sabe fazer. Levantei meio sem rumo, ainda com os pés no sonho, meio tonta de um enredo que me escapava. Fui pra rede da varanda, como quem busca abrigo no embalo. O céu ainda era promessa, e o mundo lá fora, um vulto.
Adormeci de novo e o sonho continuou, acolhida pelo balanço da rede e pelo miado distante do meu gato preto, que vigia meu sono como quem guarda segredos. Lá pelas oito, despertei com ele se enroscando nos meus pés, como se dissesse: “acorda, mulher, aquilo foi só sonho.”
Fui pro banho com a alma em desalinho. A água escorria morna, o sabonete escorregava pelas costas, e os pensamentos… ah, esses iam longe, onde o corpo não alcança. Vesti uma roupa qualquer, daquelas que a gente usa quando não sabe o que esperar do dia.
Na cozinha, o cheiro do café fresco se misturava com o cuscuz quente > calor parecido com o da madrugada. Entre um gole e outro, os fragmentos do sonho voltavam devagar, como recados esquecidos. O bilhete ainda tremulava no varal da alma.
Tentei decifrar. Era feito de sentimento cru, sem endereço, sem assinatura. Talvez saudade. Talvez desejo. Talvez coisa nenhuma. Como aqueles sonhos que parecem dizer muito, mas somem quando a gente acorda.
Costurei o resto do dia com linhas invisíveis, entre afazeres e silêncios. O gato, por perto, me olhava com olhos de quem sabe demais. E o bilhete? Ficou lá, no varal da alma, como um vulto do que não se entende, do que não se esquece.
Porque nem todo bilhete é pra ser lido. Alguns ficam assim — suspensos, no talvez.
Moral
Nem tudo que a gente sente dá pra explicar, mas fica ali, pendurado no peito feito bilhete no varal… só pra não esquecer que a alma também tem suas bagunças e silêncios.
Há sentimentos que não se decifram, apenas se sentem. Ficam ali, entre o sonho e a vigília, feito um bilhete levado pelo vento > não para serem lidos, mas para nos lembrar do que ainda pulsa.
O bilhete no varal da alma nos ensina que nem toda mensagem precisa ser compreendida > algumas apenas existem, como prova de que sentimos mais do que podemos dizer.
Às vezes, o que sentimos escapa do sentido e se pendura, silencioso, no varal da alma. Não para ser lido ou entendido, mas para lembrar que, no fundo, somos feitos de fragmentos, entre o sonho e o talvez.
E você? Já sonhou com algum bilhete desses, deixado no varal da alma? Se quiser, me conta… a roda tá aberta, o café tá passado, e eu tô aqui, escutando.
Prosa poética tom lírico, com a alma de crônica...
É isso é tudo
Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 24/04/2025
Alterado em 24/04/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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