Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


Pendurei a Tesoura, Abri a Alma e o Vestido

 

Subtítulo: Acendi vela pra São Binidito, deixei o pano de lado e fui forrozear com fé no

terreiro batido.

 

 

Hoje amanheceu domingo bonito, com uma luz que parecia benzida, dessas que entra pela fresta como se fosse dedo de anjo fazendo cafuné na testa da gente. O sol disse: “tô te chamando pra viver, muier!”

 

Terrei os pés na turduada, o chão frio arrepiando até pensamento. Olhei pro meu gato preto, que me mirou com cara de quem diz: “tô de barriga roncando, tu só pensa em chamego!”

 

Tomei banho demorado, daquele que lava corpo e alma, com sabonete fazendo carinho nos cantos esquecidos da pele. Saí do banheiro nova, vestida num vestido qualquer, mas com o coração florido. Fiz um café bem docim, igual promessa de quem ama bem devagazim.

 

Na varanda, quando fui sentar pra escutar o silêncio, escutei foi grito da vizinha do fundo com fundo:

 

> Vizinha, eu chega!

> Hoje no sítio do meu sogro tem reza pra São Binidito, depois tem forró, churrasco e muita resenha!

 

Fechei os olhos por um instante e senti o cheiro do churrasco, o chiado dos chinelos no terreiro batido e o canto das galinhas fuçando alegria.

 

> Opa, nós vai sim! > respondi animada.

Deixa só eu passar ferro no meu florido, botar ração pro gato preto e fazer o sinal da cruz pra benzer esse domingo.

 

Meu gato levantou a orelha como quem diz: “hoje ela não vai costurar buraco de ninguém...”

 

E tava certo. Hoje é minha folga. A semana toda passei remendando buraco e alma dos outros. Hoje era dia de chuliar no terreiro, costurar alegria com linha de riso.

 

No pôr do sol, tomei outro banho > daquele de noiva, só que pra mim mesma. Vesti o florido, ajeitei o batom, fiz reza com sinal da cruz e disse baixim:

 

> Que São Binidito me dê um forrozim daqueles que balança até mágoa do fundo da espinha.

 

No sítio, a vida já tava acesa. Criança correndo descalça, fogão de lenha tossindo fumaça cheirosa, o santo no altar cercado de fitas e fé.

 

E foi no meio da reza que ele apareceu. Moço de chapéu de couro seco, fivela no cinturão e um olhar que parecia oração. Me mirou e disse:

 

> Bora dançar, flor do campo?

 

Estendi a mão e o forró me levou. Rodamos no terreiro batido como dois ventos cruzando destino. Fungou no meu cangote e eu disse:

 

> Tô aqui, moço. Tô viva, tô dançando, fivela   roscando minha cintura parecia que tava armado tô querendo mais é viver. E o forró comeu e a poeira subiu.

 

Meu vestido florido rodou mais que boato em vila pequena. Pé batendo forte, riso frouxo, cheiro de suor e desejo no ar. Não era namoro, nem promessa > era só o agora se fazendo eterno.

 

Depois sentamos num banco, dividimos caldo de cana e silêncio gostoso. Olhei pro céu, com as estrelas piscando cumplicidade e sussurrei uma reza bem baixinha de gratidão.

 

Voltei pra casa com o cabelo cheirando a fumaça e a alma feita de reza, dança e riso.

 

Meu gato preto miou, com ar de quem viu tudo e disse:

 

> E aí, remendou a alma?

 

> Remendei nada, meu filho... Hoje foi dia de bordar alegria por cima dos buraco usado da vida.

 

Moral da história: 

 

A vida não é um fardo a ser carregado com pressa. Ela é uma dança de momentos simples, que, quando vividos com o coração aberto, lavam a alma. O sucesso e a fama são efêmeros, mas o abraço de um amigo, o carinho de um companheiro, a bênção de uma mãe, esses são os tesouros que a vida nos oferece sem pedir nada em troca. Não podemos nos perder em ilusões de um futuro distante ou em arrependimentos do passado, pois o agora é o único instante real. Cada sorriso, cada gesto de afeto, cada pausa para respirar é um lembrete de que a verdadeira riqueza está na simplicidade e na conexão. Aproveite cada dia como ele é, com seus encantos e imperfeições, pois é no simples que reside a verdadeira beleza da vida.

 

A prosa contada acima, com suas danças e risadas no terreiro batido, é apenas o palco onde a vida se desenrola. Ela nos traz resenha, encanto e vida. Sim, a vida se faz nesses momentos, nas pequenas coisas que, de tanto se repetirem, tornam-se eternas na memória do coração. Mas, claro, não se engane, a vida não é feita apenas de lazer e diversão. Cada um tem seu estilo de lazer, sua forma de relaxar, mas todos somos chamados a viver a plenitude do agora, com equilíbrio entre o trabalho, a leveza e os laços que formamos. A vida, afinal, é uma mistura de tudo isso: o cotidiano e a magia dos momentos simples, a correria e a calma do ser. Tudo se encaixa quando somos capazes de reconhecer a beleza nas coisas mais cotidianas.

 

Prosa poética com alma de crônica e resenha (fictício)

 

É isso...

 

Servido um caldo de cana bem geladim daqueles bem docim

 

 

Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 24/04/2025
Alterado em 25/04/2025
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