![]() Costura Cega Não forrar Buraco de Dentro.
Subtítulo:Na pressa de vestir o sucesso, ele esqueceu de forrar a alma.
A tesoura mal tinha repousado quando ele chegou. Terno caro, sapato lustrado, suor escorrendo pelo colarinho engomado. Era o executivo mais falado das redondezas > dono de cifras, planilhas, prazos, metas e pressões. Veio apressado, o carro ainda quente lá fora, dizendo que tinha reunião dali a pouco. Milhões em jogo, olhares em cima, reconhecimento na esquina da fama.
Mas foi o rasgo do terno, bem ali do lado esquerdo, que trouxe ele até mim.
> Costureira, me salva? Essa costura abriu do nada. Logo hoje.
Olhei o forro exposto, e mais do que o tecido, era o peito que tava se abrindo.
Sentei ele na cadeira da varanda, o gato preto pulou no colo como quem fareja desassossego, e comecei a alinhavar. Enquanto o silêncio se fazia, ele desabou:
> Eu não durmo mais, dona. Acordo no susto, com a cabeça pesada. Só penso no próximo negócio, na próxima reunião, no que vão pensar se eu falhar. E mesmo quando ganho… parece que ainda falta.
Fiquei em silêncio por um tempo, como quem escuta o barulho da alma costurando verdade.
Então soltei, sem rodeio:
> Poder demais aperta o peito, doutor. E terno que aperta, rasga. Como dizia Lao Tsé: “a posse de muitas riquezas só causa preocupação”. Porque no fim, nada é nosso. Nem o nome bordado na etiqueta fica.
Ele baixou os olhos. A linha seguia firme, ponto atrás, ponto à frente. Continuei:
> A alma, essa sim, precisa de ajuste mais do que o pano. E tem buraco que não se costura com linha boa, nem com máquina moderna. É por dentro que se remenda. É no silêncio que se escuta o que falta.
Respirou fundo. Pediu um copo d’água. Aceitou até um cafezinho coado ali na hora, como se fosse bênçãoe reza.
Quando entreguei o terno remendado, deixei junto o conselho:
> Vai pra essa reunião com a roupa ajeitada, mas vê se ajeita a alma também. Porque no fim do dia, doutor, o sucesso que vale é aquele que não pesa na consciência. Riqueza mesmo é deitar e dormir sem costura solta no coração.
Ele agradeceu diferente, como quem sentiu o nó > não o da linha, mas da verdade. Saiu devagar, terno passado, cabeça em desalinho, alma talvez começando a alinhar.
O gato preto miou no batente da porta, como quem pergunta:
>> E aí, dessa vez costurou o quê?
> Costurei o que não dava pra ver. E isso, meu amigo, é ponto invisível: só quem sente, sabe que foi feito.
Moral da História:
O terno rasgado foi só desculpa. O buraco real era outro > dentro, não fora. Na ânsia de vestir o mundo com aparência e conquistas, esquecemos de forrar a alma com leveza.
Como dizia Buda, "não há fogo como a paixão, nem corrente como o apego". O desejo constante por sucesso nos prende em fios invisíveis. No Tao Te Ching, Lao Tsé sussurra: "Aquele que sabe que tem o suficiente é rico." Mas quem mede seu valor por contratos e metas, rasga a si mesmo em silêncio.
O homem que veio buscar o reparo do terno saiu com um ponto costurado no espírito. Descobriu que o reconhecimento que mais importa não é o dos outros, mas o da alma em paz. Como lembrava Epicteto, “não são as coisas que nos perturbam, mas a visão que temos delas.”
Porque no pano da existência, tudo o que possuímos um dia fica > e o que levamos é o que somos. A costura mais firme é feita com consciência. A roupa mais nobre é a leveza de ser inteiro, mesmo que simples.
No tear da vida, a verdadeira elegância é o silêncio da alma que não precisa provar nada a ninguém.
crônica reflexiva filosófica poética com alma de prosa (fictício)
É isso... Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 25/04/2025
Alterado em 25/04/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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