No viés do Feminino: costura delicada.

Mulher é tecido fino que a linguagem não consegue inteiramente alinhavar.

É pano solto no varal da existência, que, mesmo quando se tenta prender com prendedores de palavras, sempre dança com o vento das incertezas.

A agulha do mundo busca costurá-la em moldes, etiquetas, recortes >< mas ela escapa pelas bordas, fiapo vivo de mistério.

Não é costura que se encerre: é fiandeira de si mesma, traçando pontos invisíveis que nem o olhar mais atento consegue seguir até o fim.

Enquanto a linguagem quer fazer bainha, ela é renda desfiada no pano do infinito.

Enquanto o desejo tenta fazer molde, ela é curva que nunca se fecha em círculo perfeito.

Mulher não é vestido pronto: é corte múltiplo, pedaços de pano, entrelaçados de memória e invenção.

É ponto que some e aparece, feito bordado antigo que ninguém decifra inteiro.

E o que Lacan murmurava no fundo da sala, talvez fosse isso:

O feminino é o rasgo que a costura simbólica nunca consegue fechar.

É o pedaço de tecido onde o real espreita.

É ausência que borda presença.

É buraco na trama onde o desejo se reconhece.

Mulher, portanto, não se prende em costura de dicionário.

Ela é a própria agulha que atravessa o pano do mundo, deixando atrás de si um desenho que só pode ser admirado >

>< "A mulher não existe."

(Lacan Jacques )

Quando Lacan fala "A mulher não existe", ele não está dizendo que mulheres não existem no sentido físico, claro. Ele está falando da "Mulher" como um conceito total, fechado, definitivo >< isso não existe.

O feminino, segundo Lacan, escapa à linguagem, escapa à simbologia que tenta capturá-lo.

Ou seja: o feminino é múltiplo, infinito, não pode ser encaixotado, não pode ser costurado num molde único.

Cada mulher é um universo que a linguagem nunca dá conta de coser totalmente.

Epílogo:

Jacques Lacan foi um psicanalista francês, considerado um dos pensadores mais importantes do século XX.

Ele aprofundou e renovou a obra de Freud, mas de um jeito bem próprio >< usando muito a linguagem, a filosofia, a matemática, e até a literatura pra repensar o inconsciente.

Profissão: Psicanalista (médico psiquiatra de formação).

Obra: Fez seminários famosos (tipo o Seminário XX ), onde ele repensou a teoria do inconsciente.

O inconsciente é estruturado como uma linguagem.

A mulher não existe. (como símbolo fechado, totalizante).

O desejo é o desejo do Outro.

Estilo: Complexo, provocativo, cheio de jogos de palavras. Não era fácil de ler, não. Ele mesmo dizia: "Eu ensino o que não pode ser ensinado."

Lacan costurava filosofia, linguística, poesia, mito. tudo junto na análise da psique humana.

Era como se cada alma fosse um tecido esgarçado que ele tentava entender ponto por ponto.

poesia filosófica e resenha da costura.

É isso