Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


"Fita Métrica medindo o Destino da chita e o linho na goma."

Destino da costura 

 

 Expectativas e realidades

 

Naquela tarde abafada e quente, a luz entrava pela as brechas da janela com um tom amarelado, como se o dia estivesse  desconfortável em se mostrar inteiro. O rádio tocava uma música que se enroscava entre os fios de uma conversa que pairava pesada no ar. O cheiro de café fresco no bule se misturava com o de linha nova, como se tudo estivesse a ponto de desabrochar >< ou se arrebentar.

 

Na mesa de costura, estavam dois pedaços de tecido >< um de chita, barato e gasto, outro de linho fresco na goma, caro e ainda intacto, guardado com a promessa de uma vida cheia de dignidade. Experiência, uma costureira experiente, pegava o dedal e agulha enfiada com linha dupla alinhavava com destreza, os dedos calejados conduzindo a agulha como quem desenha mapas secretos. Ao lado, inexperiente, uma jovem e ingênua aprendiz, observava com olhos curiosos.

 

>< Esse pedaço de chita não vale nada, não é, Experiência? >< perguntou a inexperiente, tocando com hesitação no tecido barato. >< Ele não se compara com o linho na goma que está ali. Já viu a diferença?

 

Experiência olhou para a inexperiente com um sorriso de canto discreto e continuou o trabalho, o som da agulha entrando e saindo do tecido criando um ritmo constante.

 

>< Ah, minha fia, o problema não é o preço, não. O barato e o caro têm seus propósitos. O que vale mesmo é a habilidade de quem os maneja. ><  Experiência falou com a voz mansa, como quem confidencia uma sabedoria guardada nas dobras pano do tempo.

 

Inexperiente franziu a testa, ainda sem compreender O coser da costura.

 

O que quero dizer é que cada tecido tem seu destino, assim como nós. Olhe para essa chita aqui, como uma mulher daquelas que a sociedade chama de "simples". Se olharmos de fora, ela parece não ter valor, não tem brilho nem chuliado, mas quem sabe o que ela pode se tornar nas mãos certas?  Experiência passou o ferro quente sobre o tecido de linho na goma, o vapor subindo  como uma nuvem preguiçosa no varal do tempo

 

Inexperiente olhou o pedaço de chita e, sem saber, se viu refletida nele. Como a moça simples da vila, que não usava vestidos de grife cara e, ainda assim, tinha uma alma feita de esperanças.

 

Mas, Experiência, o que podemos fazer com a chita? >< perguntou, como se o destino dela dependesse da resposta.

 

Experiência sorriu com sabedoria e levantou a fita métrica, medindo o espaço entre os dois tecidos, entre as expectativas e as realidades.

 

>< O que fazemos com a chita, minha fia, é o que define quem somos. Você pode alinhavar um vestido barato, mas se fizer com o coração, com dedicação, pode dar a ela o mesmo valor de qualquer tecido de grife. Cada ponto, cada pedaço de linha, é como a vida: nada é pequeno demais se você souber dar o devido significado. Olhe para o tecido de linho, mas lembre-se: ele é só um pedaço de pano de história esperando ser vestido. O que importa é a costura que o envolve.

 

Inexperiente, em silêncio, observava as mãos de Experiência, agora quase invisíveis de tanto movimento. O rádio chiava um pouco, como se fizesse uma pausa para refletir costura junto.

 

>< Mas as pessoas olham só para o pano caro, não é? >< inexperiente perguntou, agora mais introspectiva.

 

Experiência segurou o dedo da agulha, olhando com um sorriso que mais parecia uma resposta silenciosa. No canto da sala, um pequeno santo pendurado na parede parecia observar o ritmo da costura. O dedo de anjo pintado na figura parecia quase um aviso.

 

>< A sociedade é assim. Mas quem costura o próprio caminho é quem decide o que vai ser realmente valorizado. O resto é só ilusão de mercado.

 

O ferro quente foi colocado na prateleira, o som de metálico ao encostar na superfície quente de madeira ecoou pela sala, como se a vida e os valores se costurassem em silêncio.

 

Inexperiente olhou para a fita métrica, se perguntando qual seria o seu destino. Ela, com a chita em mãos, percebeu que não precisava de um pedaço de pano de linho na goma para se sentir valiosa. Afinal, os tecidos mais simples são muitas vezes os mais ricos em histórias.

 

 

Moral da História:

 

O valor não está no tecido, mas na habilidade com que o transformamos. O que importa é a mão que costura, e o olhar que vê beleza até nas coisas mais simples. A vida é como uma costura: feita de pontos, de escolhas, e do que se faz com aquilo que temos nas mãos.

 

Prosa poética metafórica resenha

 

É isso

 

Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 27/04/2025
Alterado em 05/05/2025
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