Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


Confronto das Linhas" Costura Filosófica Drama  

 

"A vida é a constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir"

 

Uma pequena sala de costura. Linhas penduradas no teto de zinco, pedaços de tecido espalhados pelo chão babados jogados. Um manequim vazio no centro. A luz é crua, intensa sobre a mesa de trabalho. Ânsia entra como uma ventania, derrubando bobinas e puxando tecidos, rasgando moldes. Tédio está sentado num canto, imóvel, envolto em retalhos mofados abandonados.

 

Ânsia-> avançando com passos rápidos, mãos tremendo de vontade

>< Levanta daí, inútil! Há vestidos para nascer, formas para explodir neste espaço! O pano chama, a agulha grita e fita métrica para medir!

 

Tédio-> sem levantar os olhos, a voz arrastada como um fio gasto  mofado

<> Gritam hoje // Amanhã apodrecem nas gavetas.

 

Ânsia-> espalhando moldes sobre a mesa com fúria

>< Não me interessa o amanhã! O que importa é o rasgo no agora, o estalo da tesoura no ar, o estiramento do fio até quase partir!

 

Tédio-> deslizando lentamente os dedos por um pedaço de renda esquecida

>< E depois? Depois só restam trapos promessas gastas // A alma se esgarça junto com o tecido.

 

Ânsia-> erguendo um babado no alto como se fosse uma bandeira

>< Melhor me esgarçar inteira do que apodrecer parada como você!

aproxima-se do manequim, girando-o violentamente

>< Cada ponto é uma batalha contra a morte! Cada costura é uma fuga!

 

Tédio-> erguendo-se finalmente, devagar, como quem acorda de um sono antigo

>< Cada ponto é uma algema. Cada costura, um véu que encobre o vazio que você não quer ver.

 

Eles se encaram. A sala parece pequena demais para os dois. Ânsia respira ofegante, Tédio sorri com melancolia.

 

Ânsia-> sussurrando, com raiva contida

>< Melhor viver correndo do que murchar sentado.

 

Tédio-> aproximando-se até quase tocá-la, em tom baixo e cortante.

>< Melhor entender o vazio do que costurá-lo sem fim.

 

Silêncio. Apenas o leve zumbido da linha se desenrolando sozinha no chão.

 

Ânsia se vira abruptamente, apanha uma tesoura, e corta um fio invisível no ar.

 

Ânsia (gritando):

>< Então que se rasgue tudo! Melhor o risco do corte do que o abraço morno da estagnação!

 

Tédio apenas sorri, senta-se de novo no canto, e fecha os olhos. Lá fora, um vento move as cortinas. A linha cortada dança no ar, sem destino.

 

_______________CORTINA________________

 

Moral 

 

"A vida oscila entre o impulso de criar e o vazio que se segue à criação. O importante não é se prender à pressa ou à estagnação, mas reconhecer que tanto o movimento quanto o silêncio fazem parte do tecido da existência."

 

"Nem a ânsia cega nem o tédio paralisante trazem plenitude; costurar a vida é aceitar o ritmo entre o desejo e o repouso."

 

diálogo microdrama, texto teatral Filosófico reflexivo.

 

É isso...................

 

 

 

Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 28/04/2025
Alterado em 28/04/2025
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