Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


 

Entre o Pano do Medo e o Bordado da barganha.

 

No ateliê do destino, onde linhas invisíveis enredam almas, muita gente passa a vida costurando com a mão trêmula.

 

De um lado, o Medo do Inferno segurava a linha como quem segura um fio de vida. Costurava apressado, sem medir, dando pontos apertados demais, como se cada erro pudesse rasgar o pano da eternidade.

Costurava mais por pavor do rasgo do pano que por amor à trama.

Era como quem teme a tesoura do Grande Alfaiate, aquele que corta sem dó nem aviso.

 

Do outro lado, a Barganha pelo Céu fazia seus remendos: alinhavava boas ações como quem prega lantejoulas num vestido velho, esperando que brilhassem aos olhos do Dono da Festa.

Se eu costurar bonito, se eu enfeitar bem meu pano, talvez deixem minha alma entrar no grande ateliê do céu", pensava, medindo cada ponto como se fosse uma moeda oferecida na barra da túnica divina.

 

No fundo do ateliê, a máquina  de costura da vida gemia, sabendo a verdade:

nenhum tecido se salva só de medo da tesoura, nem se torna belo só de querer aplauso.

 

Costurar de verdade é arte de amor, não de medo.

É preciso linha firme, agulha mansa, e o gesto livre >< não pra escapar do rasgo, nem pra comprar entrada no paraíso.

Mas porque a beleza de uma costura está no prazer de entrelaçar a vida com as próprias mãos.

 

No final das contas, o céu e o inferno são apenas moldes: quem define o vestido que a alma veste é a delicadeza ou a pressa de cada ponto.

 

Opiniões 

 

.......A religião, como um tecido antigo, foi costurada por mãos poderosas ao longo do tempo. Freud via o ato de religar os pedaços de nossa alma rasgada, como se costurássemos os medos com linhas invisíveis, procurando um deus como uma agulha que desse ordem ao caos. Nietzsche, por outro lado, sentia que a religião nos impunha pontos tortos, costurando nossa liberdade com fios de subordinação, fazendo-nos esquecer da autenticidade de nosso próprio tecido. Marx via a religião como o pano suave que acalma o povo, mas que, ao mesmo tempo, nos impede de costurar nossa verdadeira revolução. Weber, com seu olhar atento, enxergava a religião como a linha invisível que une o protestantismo ao capitalismo, costurando valores que modelaram nossa sociedade e economia, até que o tecido se tornasse uma rede de influências invisíveis, por onde corriam os fios do poder e da moralidade.

 

 

 

Frases:

 

........O medo faz a gente virar agulha contra a própria pele, se punindo antes mesmo que a vida dê o primeiro ponto.......

 

........Na barganha, a gente não dá ponto por amor, mas costura esperando troco, como quem oferece um retalho esperando ganhar um vestido inteiro........

 

.......Costurar o bem é bordar sem medo e sem troco, só pela beleza de ver o tecido da vida mais firme nas mãos de todos.....

 

........A verdade tem a ver com caráter, não com religião. Eu escolho ser bom, não pela promessa do céu, mas porque o outro precisa de carinho, respeito e compaixão.

 

 

Reflexão:

 

.......Da Linha que Somos......

 

Não existe um costureiro absoluto vigiando nossos pontos, pronto para punir nossas falhas ou recompensar nossos bordados. A vida não é um tecido fiscalizado, é um pano que se estende livre, sob as mãos de quem tem coragem de tocar.

 

Somos apenas humanos, linha e agulha uns dos outros, costurando dias com a delicadeza que conseguimos. O que nos cabe é cuidar >< um humano acolhendo o rasgo do outro, alinhavando feridas sem esperar troféus nem temer castigos.

 

Ser bom não é estratégia para ganhar nada, nem defesa contra o medo.

Ser bom é ser fiel à essência que já pulsa dentro, como uma linha viva querendo entrelaçar.

 

Não existe ponto certo ou errado na grande manta da existência.

Há apenas o gesto de quem escolhe, a cada costura, tecer com amor, com verdade, com a coragem de deixar a vida acontecer, ponto a ponto, como um bordado que não precisa ser perfeito para ser inteiro.

 

Prosa poética reflexiva filosófica 

 

É isso.......

 

 

 

Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 28/04/2025
Alterado em 28/04/2025
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