Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


"O Fio de Costura que Não Se Vê"

 

O sol bate no lombo do homem como quem cobra uma dívida antiga.

O suor escorre feito confissão // pinga em silêncio, sem direito a lamento.

Ali, entre o campo e a máquina de costura da vida ele não borda só tecidos: remenda a alma.

 

A linha atravessa-lhe o peito como quem costura por dentro.

Dói, mas ele fica.

Fecha os olhos, como quem ora sem reza.

 

A mão no alto da testa // não se sabe se é bênção ou juízo.

Talvez de um Deus cansado ou de uma lembrança de mãe,

talvez seja só o próprio toque da esperança insistente.

 

Ele é casado com uma mulher linda, de olhos que enxergam além da linha e da agulha.

Mas a família dela // ah, a família dela nunca engoliu o rapaz de mãos calejadas.

Dizem que ele não tem “futuro”,

que sonha demais, que seu ofício é coisa de pano velho.

“Homem que costura, que honra é essa?”

Como se dignidade fosse gravata ou paletó de marca.

 

A sociedade o olha de rabo de olho,

como quem procura falha na costura pra não pagar o preço justo.

Dizem que ele é lento, que seu bordado não vale o tempo.

Mas ninguém vê que o tempo dele tem alma.

 

A cada ponto, ele vai empurrando pra frente os sonhos que a vida tentou parar.

A cada flor bordada, uma lágrima contida.

A cada arabesco, um "vai" que ele nunca escutou.

 

Ele não costura só pano.

Costura o que sobrou do que queriam arrancar dele.

Costura o que nunca teve // afeto, aceitação, sossego.

E segue, mesmo quando o mundo prega um zíper na boca dos que sonham.

 

Porque ele sabe: o que se costura por dentro, não rasga fácil.

E a linha que o conduz // invisível aos olhos do mundo //

é mais forte que qualquer preconceito,

mais justa que qualquer medida da fita métrica social.

 

Ele é alfaiate da própria dignidade.

Costura sua travessia com linha de fé, ponto de resistência e bordado de silêncio.

E quando o sol castiga, ele não se rende.

Fecha os olhos e confia:

um dia, até os ventos hão de aprender a respeitar o fio da costura que não se vê.

 

Prosa poética metafórica reflexiva filosófica 

 

É isso....................

Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 29/04/2025
Alterado em 02/05/2025
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