![]() "O Alfinete Brilha, a Máquina Range, o Ferro de passar Acalma."
"Quando uma pessoa não encontra um sentido profundo para sua vida, ela se distrai com o prazer. Afinal, tudo o que pensamos ser é uma ilusão alimentada pelo ego // por isso, a busca por um sentido maior é tão essencial: ela nos protege da dor de encarar nossa própria insignificância." ____Frase atribuída em partes Viktor Frankl___
No ateliê das almas partidas, quando a madrugada ainda bordava silêncio nas frestas, dois vultos se encararam sobre a mesa de costura: Prazer, todo sedutor, com fios dourados nos dedos, e Insignificância, vestida de pano cru, com olhos fundos de quem já viu o avesso do mundo.
>< “Tô aqui pra remendar os dias,” disse o Prazer, afiado como agulha nova. “Sou linha brilhante, distração bem dada, costuro sorrisos nos rostos desfiados. Sem mim, a vida se rasga no meio.”
A Insignificância fungou, com desdém de quem já tentou colar sentido com cola quente.
>< “Tu é só enfeite, fio bonito que não segura costura. Vem, encanta, e some. Eu, não. Eu fico quando o pano puído grita, quando a alma descobre que não sabe o que veste.”
O Prazer riu, espalhando purpurina sobre os retalhos.
>< “E quem é que te quer, criatura? Tu é o vazio que ninguém assume. Eu sou o laço na fita, o bordado do agora. Melhor rir do que pensar. Melhor gozar do que chorar.”
Mas a Insignificância não tremia.
>< “É por isso que tu vive correndo, Prazer. Porque sabe que quando a festa termina, sou eu quem fica varrendo o salão. Tu é carnaval, eu sou o que sobra na quarta-feira de cinzas.”
A costureira // que ouvia de canto, enquanto alinhavava esperanças // sussurrou, com dedos de reza:
>< “Nenhum tecido se sustenta só com brilho, nem só com buraco. É preciso ponto firme, propósito que não se vê, mas segura. O sentido é costura invisível.”
O silêncio caiu como linha partida.
E ali, naquela sala de alma em remendo, o embate fervoroso virou acordo: o Prazer baixou os olhos e a Insignificância, enfim, se calou. Porque sabiam // o que sustenta o pano da existência não é o bordado, nem o buraco. É o fio escondido que une tudo: o Sentido.
A Chegada do Sentido
A porta rangeu como se abrisse um tempo velho. E o Sentido entrou. Vinha de sandálias gastas, rosto de quem já andou por dentro de muita dor, e nos olhos, um brilho manso, desses que não ofuscam, mas guiam. Carregava no ombro um novelo desbotado e uma agulha grossa, daquelas que só costuram o que é profundo.
Prazer estalou os dedos, enciumado:
>< “Tu demorou. Enquanto isso, fui eu quem segurou o tecido solto. Dei festa, dei beijo, dei riso. Onde tu tava quando a alma se rasgou?”
O Sentido respondeu com voz de vento que varre folhas:
>< “Tava por perto. Mas tu fala tão alto que ninguém me escuta. Eu chego devagar, como ponto atrás. Só me vê quem cansa da pressa.”
Insignificância levantou os olhos, já cansada de se fingir costureira de tristeza:
>< “E tu, Sentido, aguenta o tranco? Quando a vida costura dor no lombo, tu não some também?”
O Sentido sentou ao lado da velha máquina e passou a linha no buraco da agulha com precisão de quem conhece o mistério.
>< “Eu não sumo, Insignificância. Eu me escondo nos detalhes. Tô no cheiro do café que lembra alguém, na dobra do lençol com cheiro de colo, no silêncio que consola. Tô no remendo, não no aplauso.”
A costureira, que agora fazia o sinal da cruz com linha no dedo, sorriu.
>< “Tava te esperando, Sentido. Eles brigam, mas tu é quem segura tudo. Sem tu, até o amor desbota.”
Prazer abaixou a cabeça, como menino que apronta mas ama.
Insignificância, por fim, suspirou // e pela primeira vez, parecia mais leve, como quem entende que até o vazio tem função na costura da alma.
E assim, entre linhas invisíveis e pontos certeiros, o Sentido começou a costurar os três: bordou o brilho do Prazer, alinhavou o silêncio da Insignificância e trançou tudo com a sabedoria da costureira.
Porque no fim, a vida é pano torto // mas com Sentido, até os rasgos viram arte.
Prosa poética metafórica reflexiva filosófica
Obs: A leitura é guiada pelo olhar subjetivo de quem lê, sendo interpretada de formas diversas conforme suas crenças, limitações e experiências. Por isso, um mesmo texto pode conter múltiplos significados.
É isso Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 29/04/2025
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