“Pontos que Pesam” (dia do trabalho) ✊️

"O trabalho não é apenas o meio pelo qual o homem vive, mas é também o meio pelo qual ele se realiza como ser humano."

______________Karl Marx___________

O sol já raiava como ferro de passar esquecido sobre o tecido do céu. A manhã surgia com calor de fornalha, e eu seguia pelas ruas do bairro como quem desliza uma agulha pelo viés do cotidiano.

Entrei na padaria da esquina do bairro, nosso ateliê de conversa, onde os fios das histórias se entrelaçam entre o cheiro de pão quente e o vapor do café. Um lugar de remendos diários, onde a alma tenta se alinhavar um pouco.

Antes de chegar à porta, meus olhos costuraram uma cena na calçada: uma fileira de formigas, alinhadas como pontos retos, cada uma carregando pedaços de folhas, farelos e até panos grandes demais. Algumas quase se arrastavam, puxando com esforço aquilo que mal conseguiam segurar. Pareciam operárias de um grande tear invisível, fiando seu caminho sem descanso.

Sentei-me com um conhecido que já trançava conversa com o vento. Comentei da cena, tocada pela semelhança entre aquelas pequenas costureiras e tantos de nós, que passamos a vida remendando jornadas.

Ele, com o olhar franzido como tecido antigo, disse:

>< Na empresa onde eu trabalhava, o lema era "seja como as formigas". Trabalhei na fulana de tal/       obs:  ( nao posso escrever o nome dela aqui). Era tudo assim: fila, tarefa, esforço. Cada um com seu fardo, seu pedaço de pano para carregar. Uma costura sem fim, onde ninguém via a peça pronta, só os pontos puxados dia após dia.

Ficamos ali, alinhavando pensamentos no silêncio.

E pensei: quantos de nós vivem costurando sem molde, puxando linhas que nem sempre têm destino? O trabalho, que deveria vestir a dignidade, virou muitas vezes um bordado automático, sem cor nem alma. Nos dias de hoje, muita gente se prende a um tecido áspero, apertado demais, onde não há espaço para sonho nem descanso. Talvez esteja na hora de redesenhar esse molde, de escolher linhas que também abracem e libertem.

"O operário torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz."

Essa frase resume a crítica marxista à exploração do trabalhador no capitalismo: quanto mais o trabalhador produz, mais se enriquece o patrão // não ele. 

HOMENAGEM: 

"Ao trabalhador, que costura dias com fios de esforço e esperança, minha reverência: cada ponto que  dá sustenta o tecido invisível do mundo."

Crônica poética filosófica reflexiva metafórica....

Obs:

"A leitura é guiada pelo olhar subjetivo de quem lê, sendo interpretada de formas diversas conforme suas crenças, limitações e experiências. Por isso, um mesmo texto pode conter múltiplos significados."

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