![]() "AGULHAS SANTIFICADAS"....A espiritualidade posta na balança"Quando a vaidade entra pela porta da igreja"
"Barganhas modernas com o divino"
"A fé que se troca por desejos"
Se Nietzsche caminhasse hoje pelas ruas da beirada do mundo, talvez não precisasse dizer uma palavra. Bastaria um olhar frio, irônico, como quem vê uma peça mal costurada se desfazer diante dos olhos. Ele veria fiéis entrando em templos reluzentes, não com fé, mas com pressa. Pressa de receber. Como se a salvação viesse por encomenda expressa, com rastreamento e garantia de devolução em caso de arrependimento.
Ali, onde antes se bordava o sagrado com fios de silêncio e entrega, costura-se agora com linha metálica de cartão de crédito. Prometem-se bênçãos como se fossem retalhos em promoção: “cura garantida”, “prosperidade sob medida”, “casamento sob encomenda”. É a Black Friday da eternidade, com direito a parcelas e carnês.
A agulha que um dia uniu fé e transcendência hoje fura os bolsos / não para remendar, mas para extrair. E enquanto isso, a alma fica do avesso, costurada de qualquer jeito, com promessas baratas feitas em série.
Nietzsche falava da religião como moral de rebanho. Mas aqui o rebanho canta, dança e se emociona sob holofotes, enquanto alguém anota os lucros nos bastidores. O altar virou vitrine, o púlpito, palanque. A fé, que deveria ser lã quente em noite fria, virou tecido sintético, que esquenta por fora e sufoca por dentro.
E o povo? O povo não reza, consome. Não reflete, repete. Como um molde costurado em larga escala, sem identidade, sem cuidado. Afinal, pensar dá trabalho, e os fios da verdade são difíceis de lidar / é preciso paciência, é preciso arte. Mas no corre-corre do lucro, ninguém mais quer fazer bainha, só vender o vestido pronto.
Há quem tente desfiar esse tecido podre. Quem largue o ateliê do espetáculo e tente pregar outros pontos, mais simples, mais reais. Mas são logo taxados de rebeldes, traidores da costura celestial. Porque, no fundo, o que mais incomoda não é a crítica / é o espelho. É ver que o que era sagrado foi transformado em mercadoria e que a espiritualidade virou figurino de vitrine.
Nietzsche diria: Deus não morreu. Foi costurado num paletó de grife e vendido em suaves prestações.
Reflexão Crítica e Introspectiva:
Há algo curioso no modo como muitas igrejas hoje funcionam. Não como templos do sagrado, mas como balcões de troca. A fé virou uma moeda. Dá-se o dízimo e espera-se em troca a bênção, o carro, o emprego, o casamento restaurado. É como se Deus tivesse se transformado num gerente de recompensas celestiais. Mas que Deus é esse que precisa ser convencido com ofertas? Nietzsche talvez sorrisse com desprezo / não um sorriso de ironia, mas de quem já viu o truque antes. Para ele, essa fé de mercado não é nova. É só a forma moderna da velha negação da vida......
A religião, que um dia talvez tenha servido para organizar o caos e dar sentido ao sofrimento, agora parece cultivar o medo. O inferno virou um produto de marketing. O pecado, uma dívida que se paga em parcelas no boleto da igreja. E o paraíso, um prêmio por ter suportado tudo isso calado. Ninguém questiona, ninguém pensa. Talvez Nietzsche chamasse isso de "moral de rebanho": seguir, obedecer, não arriscar, não viver......
E o que dizer da culpa? Ela ainda é uma ferramenta poderosa. As igrejas prometem libertação, mas muitas vezes alimentam o mesmo jugo: “Você é indigno. Você errou. Mas se nos seguir, será salvo.” A estrutura não muda. Apenas se atualiza. Agora tem wi-fi, cultos no YouTube, e slogans motivacionais, mas a base é a mesma: “Negue a si mesmo, siga-nos e espere o céu.” Nietzsche talvez perguntasse: e a terra, onde fica?
Porque enquanto se espera o céu, a vida vai escorrendo por entre os dedos. Os desejos são reprimidos. O corpo, culpado. A dúvida, pecado. Viver com intensidade, suspeito. O que é pulsante, vital, instintivo / tudo isso é rotulado como desvio. Como se ser plenamente humano fosse uma falha. E assim, aos poucos, o indivíduo vai sendo apagado para caber no molde da salvação.
Nietzsche não odiava a espiritualidade. Ele odiava a negação da vida. O que ele queria era que o ser humano tivesse coragem de criar sentido com os próprios pés no chão. Que parasse de trocar sua autonomia por promessas de glória futura. Que deixasse de pedir permissão para viver.
E talvez essa ainda seja a maior heresia: viver sem esperar recompensa.
Crônica Reflexiva Filosófica Espiritual metafórica....
observação crítica sobre a realidade (no caso, a relação entre igreja e barganha espiritual).
Traz um tom pessoal, quase confessional, introspecção.
Utiliza metáforas e ironia sutil (como a agulha “santificada” para furar a orelha, e a “barganha” com Deus), típicas da crônica contemporânea.....
"A leitura é guiada pelo olhar subjetivo de quem lê, sendo interpretada de formas diversas conforme suas crenças, limitações e experiências. Por isso, um mesmo texto pode conter múltiplos significados."
Música 🎶 LOST IN THE MELODY ItsArius, Lynnic e Dinia
Elixandra cardoso
É isso Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 16/05/2025
Alterado em 18/05/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |