Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


LINHA FRACA, GOZO INSTÁVEL (reflexo de um amor líquido /sociólogo Zygmunt Bauman)

 

“Vínculo de Orvalho” / “Amar é Molhar a Linha”

 

Hoje o sol brilhou diferente, ou talvez eu que esteja vendo melhor.

Bauman diria que, nesse mundo líquido, o brilho não dura / escorre entre os dedos como afeto apressado, como mensagem visualizada e esquecida. Mas hoje, não. Hoje eu parei.

Vi o sol com olhos de quem alinhava o instante ao eterno.

E você, quando foi a última vez que parou pra sentir o sol como se fosse a primeira vez?

 

A vida piscou pra mim, e eu aceitei o convite.

Bauman alertaria: “Cuidado, os convites andam rareando. Vivemos numa era de conexões rápidas e laços frouxos.” Mas aceitei assim mesmo. Relações são zíperes: abrem fácil, fecham rápido. Só que a vida, a de verdade, é costura à mão. Ponto por ponto, com linha que vem do afeto e do tempo dedicado.

Você tem costurado os seus afetos ou só colado com fita adesiva?

 

Saí pra viver e, sem querer, encontrei a alegria na esquina.

Era o sorriso da mulher do brechó, que ajeitava um vestido antigo com o mesmo cuidado de quem segura um coração em remendo.

Bauman estaria ali, do outro lado da rua, dizendo que o amor moderno evita costuras: prefere velcro, fácil de desgrudar.

Você ainda acredita em ternura que resiste ao tempo ou já se acostumou com o descarte?

 

Hoje o dia sorriu pra mim, e eu sorri de volta.

E nesse sorriso, dei um ponto invisível no tecido do mundo.

Bauman sussurraria que apego dói, e Buda concordaria: dor é do mundo, sofrimento é do ego. Então eu solto os excessos, dou nó só onde o laço é firme / e deixo o resto dançar com o vento.

Quais fios você ainda segura que já poderiam ter virado vento?

 

Se o dia começou meio torto, dou um abraço nele e danço assim mesmo.

Bauman escreveria nas margens do meu corpo que temos medo da permanência. Mas talvez a sabedoria more no instável. Amar é bordar com linha frágil e, ainda assim, escolher continuar.

Você tem se permitido amar mesmo nas curvas ou ainda espera o dia perfeito?

 

Às vezes o corpo sente o que o afeto não dá conta de dizer.

É quando a pele vira tecido de oração, e a língua borda silêncio nos contornos da alma.

Bauman acenderia um cigarro, inclinado sobre a janela, e escreveria: “Vivemos tempos onde o desejo é mais suportável que a intimidade.”

Você tem coragem de gozar com a alma, ou só finge prazer pra não costurar presença?

 

Não é o sexo que assusta / é o depois.

É o laço que pode pedir firmeza, o afeto que exige ponto duplo, a intimidade que clama por costura que não se lava com uma desculpa no dia seguinte.

Bauman anotaria, com tristeza serena, que amar exige vulnerabilidade. E ninguém quer mais ser exposto. Mas e se o amor for justamente esse improviso que desafia o medo do alinhavo?

Você foge da linha ou aceita bordar com as mãos trêmulas mesmo assim?

 

E é isso.

Nesse mundo de afetos descartáveis, que a gente seja ponto firme.

Que a gente dance, mesmo costurado de cansaço com um pano de esperança amarrado no peito.

Bauman talvez sorrisse nesse fim, murmurando: “Raros são os que ainda dançam com o tecido da alma.”

Que ponto você escolhe firmar hoje no tecido da sua vida?

 

 

Nota ensaio reflexivo

Este texto é um bordado entre a pele e a teoria. Entre um ponto de gozo e uma linha de reflexão.

Inspirado nas ideias do sociólogo Zygmunt Bauman sobre o amor líquido / esse afeto escorregadio que escapa das mãos modernas /, deixei que a costura da vida, com suas dobras, falhas e improvisos, guiasse a ponta da agulha.

 

Aqui, o erotismo não é apenas prazer: é ritual, espelho e travessia.

A espiritualidade sussurra nas esferas: o Buda observa, Bauman comenta, e o corpo dança.

O que sustenta esse tecido não é a certeza, mas o desejo de permanecer / mesmo que seja na beiradinha do pano, onde o mundo ainda não desfiou.

 

Que este texto provoque, abrace ou desafie.

E que, entre as palavras, você encontre um ponto firme seu.

 

Zygmunt Bauman, ao falar de amor líquido, quis nos alertar sobre a fragilidade das relações humanas na sociedade contemporânea. O termo é uma metáfora para mostrar que os vínculos hoje são fluidos, instáveis e descartáveis, como líquidos que não mantêm forma nem permanecem firmes no recipiente.

 

Segundo Bauman:

 

As pessoas têm medo do compromisso, pois vivem num mundo que valoriza a liberdade individual, a autonomia e a ideia de que tudo deve ser prático e prazeroso.

 

Os relacionamentos passaram a ser vistos como produtos de consumo: se não servem mais, trocam-se por outros.

 

Vivemos numa cultura de conexões rápidas e superficiais, com dificuldade de sustentar laços profundos, pois isso exige tempo, esforço e vulnerabilidade.

 

Há uma constante tensão entre o desejo de segurança (ser amado) e o medo de perder a liberdade (amar demais).

 

No fundo, Bauman não está dizendo que o amor acabou, mas que ele está cada vez mais difícil de praticar com profundidade num mundo que estimula o desapego emocional superficial e o imediatismo.

 

Sua crítica é também um chamado: para que voltemos a bordar os afetos com firmeza, mesmo que o tecido da vida esteja esgarçado. É um convite a escolher o cuidado, o tempo, a escuta / mesmo quando o mundo inteiro parece costurar com linha fraca.

 

Citação/ Direta / Sugerida / incluindo /

Perguntas / em / cada / parágrafo

 

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Observação: o amor líquido não se restringe aos laços amorosos de um casal, mas escorre pelas amizades, pelos afetos familiares e por todo tipo de vínculo social

 

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Crônica Reflexiva socióloga/ filosófica/poética/ tom literário onírico/  invocação / “fantasma do pensamento” soprando no cangote da narrativa. E isso combina perfeitamente com a< escrita que transita entre o sensual, o simbólico,  filosófico, espiritual, poetico e o crítico .

 

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"A leitura é guiada pelo olhar subjetivo de quem lê, sendo interpretada de formas diversas conforme suas crenças, limitações e experiências. Por isso, um mesmo texto pode conter múltiplos significados."

 

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Neste espaço não há certezas de pedra, nem verdades afiadas....

Não se defende nem se ataca. Aqui, tudo é tecido com palavras que perguntam.

Entre costuras poéticas, reflexões sociais, afetos líquidos e silêncios sagrados, a escrita é mais espelho do que bandeira....

 

Falo de tudo, mas não aponto.

Escuto a vida e a bordo / com linha fina, ponto invisível e coração aberto.

Se você chegou até aqui, respire fundo.

Desarme-se.

E sinta....

Tentarei ao máximo esquivar-me da minha subjetividade própria....

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ISSO QUE FOI ESCRITO NÃO É DOUTRINA, NEM VERDADE ENCERRADA. 

É APENAS UM PONTO DE VISTA ENTRE TANTOS TALVEZ ATEMPORAL, TALVEZ ILUSÓRIO.

PERFIL DA PÁGINA ABORDA TODOS OS ASSUNTOS ( SEM PAUTAS DE DESEFAS )

 

ESSA ESCRITA NÃO LIBERTA NEM PRENDE, CADA SER HUMANO É LIVRE PARA FAZER ESCOLHAS. 

MAS APENAS PROPÕE  UMA COSTURA ENTRE O DENTRO E  O FORA 

VERDADE?

REFLEXO?

PERGUNTA?

ESCOLHA?

IMPOSIÇÃO?

 

— Elixandra

 

É isso

 

Elixandra ( costura pensamento)
Enviado por Elixandra ( costura pensamento) em 27/05/2025
Alterado em 27/05/2025
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