![]() TESTÃO:República dos Retalhos Sintéticos: Vozes de Dentro✂️
Este livro nasce da agulha e do silêncio. Entre um ponto e outro da vida cotidiana, surge a palavra. As costuras aqui não são apenas de tecido / são de alma, pensamento, crítica e fé sem moldura. Cada linha, um fio de voz. Cada retalho, uma identidade em constante movimento.
Sou cética, dizem. Em desvaneios, dizem. Mas eu apenas observo. E neste livro, deixo costurado o que vejo e o que sinto, sem precisar fechar a peça. Porque na República dos Retalhos, o que vale não é caber / é respirar.
🧵 Trama Sintética (02 de julho de 2025)
Hoje, 02 de julho de 2025 / O sol já se estende, como sempre fez, desde que o mundo é mundo, puxando um fio sintético de luz que escorre pelas telhas da minha casa.
Comecei o dia com um gole de shote feito no leite de castanha do Pará, com pitadas de gengibre adoçado com mel e lascas de silêncio. Lá fora, as crianças em férias fazem do tempo um brinquedo. Aqui dentro, férias é coisa só pra eles. Pra mim, não.
Tenho trabalho com data marcada: um vestido sintético a ser costurado, a cliente avisou que será usado numa exposição. "Exposição"...... A palavra ficou martelando na mente como prego sem cabeça.
Com meu shote em mãos, fui pro canto da máquina, levei o vestido, respirei fundo e comecei a coser a tal trama sintética.
Entre um gole e outro, entre um ponto e outro, minha mão seguia o tecido, mas minha mente se embrenhou por outro fio esse agora era metálico.
Veio um pensamento danado: "Quem somos nós na exposição da vida existencial?" E eu, que só queria costurar um vestido, me embolei nesse êmbolo filosófico, como se a própria máquina me puxasse pra dentro dela, me costurando com as perguntas que não têm remendo.
"Conhece-te a ti mesmo." ▪︎ Sócrates▪︎ Mas até onde podemos nos conhecer se somos feitos de razão, emoção e contradição?
Muito se dizem ou se intitulam com identidade formada. E respeito. Respeito porque cada um decide como quer se ver, como quer se chamar, como quer se representar.
Mas confesso que tem hora que o mundo pesa. Às vezes, parece que não encaixo nos moldes esperados / como se minha forma de ser fosse um retalho fora do corte, sem molde fixo ou destino costurado. / como se eu fosse um retalho solto que não vale costura. Aí me lembro dessa frase
"O homem é a medida de todas as coisas." / ▪︎Protágoras▪︎ Será que somos aquilo que sentimos ser ou aquilo que os outros nos dizem que somos?
Mas eu me pergunto: como pode um "espiritualizado"ou o "mundo" nos pregar papéis...... além dos que já carregamos na vida? Papéis sociais, papéis emocionais, papéis que rasgam fácil, e mesmo assim são colados em nós como etiquetas de loja errada. Aí me lembro da frase.
"A razão é, e só deve ser, escrava das paixões." / ▪︎David Hume▪︎ A emoção tem razão de existir ou precisamos dominá-la para sermos lógicos?
E aí me lembro do meu caro filósofo Maquiavel, que dizia:
"É muito mais seguro ser temido do que amado, quando se tem que falhar em uma das duas."
Talvez seja isso: quando a gente não se encaixa no amor que esperam, no molde único que desenham, passam a temer nossa liberdade, nossa leveza, nossa falta de caixinha pra caber. Aí me lembro da frase.
"O inferno são os outros." ▪︎Jean-Paul▪︎ Sartre Será que a liberdade de ser ofende quem vive preso ao que os outros pensam?
E assim, venho conversando com meus botões soltos, sem casaco, sem moldura, sem defesa. E assumo com toda franqueza: não sei, e talvez nunca saberei, quem sou na exposição existencial que precisa de um molde só.
"Torna-te quem tu és." / ▪︎Friedrich▪︎ Nietzsche Mas quem sou eu quando não há molde, e a linha é minha própria escolha?
E sabe? Nem quero. Não preciso de uma identidade única, fechada, costurada com linha grossa.
Na sociedade em que vivemos, é preciso saber trocar de agulha, virar a peça, rasgar onde aperta e desmanchar ponto que fere. É preciso ser muitas em uma. Ser roupa leve num dia e armadura no outro.
"Tudo flui, nada permanece." / Heráclito Se tudo muda, por que insistimos em vestir sempre o mesmo nome?
🌑 O que cega.
Tenho uma maneira curiosa de observar os acontecimentos. Não julgo como certo ou errado. Só observo. Como uma panteísta, ou Panenteísta, talvez taostista, ou Panpsiquista, budista e todas as filosofias da família dos ( ismos) E por que isso não pode ser respeito? Eu posso ser múltiplas e quero ver sabedoria em tudo não como verdade encerrada essencial absoluta. Pra mim tudo é caminho......
Eu posso ver. E todos podem ver / mas cada um conforme o entendimento que carrega.
"A verdade é relativa ao ponto de vista." / Baruch Spinoza Será que existe uma verdade que sirva em todos os corpos ou cada um veste a sua?
Hoje, escolhi andar na escuridão. Não essa que assusta, mas a que ensina. Já saí de luz falsa demais. Já me queimei em claridade que só servia pra esconder sombra.
"É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançante." Friedrich Nietzsche Será que a dor que nos atravessa é também a que nos revela?
A escuridão de que falo é fechar os olhos por escolha. É silenciar. É parar de correr atrás de explicação pra tudo como verdade encerrada. É ouvir o mistério como quem ouve um rio por dentro da pedra.
"O silêncio é um amigo que nunca trai." / Confúcio Silenciar é se esconder ou é encontrar o que grita sem som dentro da gente?
Aceitar os pensamentos como quem vê um trem passar: não preciso embarcar em todos.
E o melhor de tudo: posso conversar comigo mesma sem precisar me convencer de nada. Sem brigar com o que sinto. Sem vestir armadura pra ficar forte.
"A alma que se autoeduca é uma alma livre." ▪︎Epicteto▪︎ Será que a liberdade começa quando a gente para de lutar contra o que sente?
Só eu comigo, na pausa. No fundo, isso também é luz / mas uma luz que ninguém precisa ver pra ser real.
"A felicidade não está nas aparências, mas na verdade que se revela no silêncio." / Simone Weil E se a verdadeira luz não for a que brilha para os outros, mas a que nos aquieta por dentro?
Ser Zíper Sintético (diálogo com meu santo) um lamento que cooperou para júbilo
Ser zíper sintético, carregar um caderno-chave junto com recortes ( é meu diario)/ essa é minha maneira de ser. Assim como Marco Aurélio escrevia suas meditações para dialogar com sua própria alma, escrevo para ouvir o que mora em mim e silencia por fora.
Nietzsche, que usava cadernos chamados de “fragmentos póstumos”, ou até Simone Weil, que escrevia suas ideias em pequenos blocos durante longos períodos de silêncio e trabalho manual.
Posso ser enfiadeira de linha sintética, sim. E se isso incomoda, é porque talvez revele o ponto solto de quem me julga.
Daqui pra frente, alma sintética me envolve. Não como ausência de verdade, mas como coragem de ser composta, reciclada, desmontável e ainda assim, inteira. Ou em miúdos sintéticos.....
O caderno-chave meu diário foi deboche, mais que valorizo tanto, mais que dinheiro achado em calçada alta. É um santo que conversa comigo. Faço anotações porque minha maneira singela, tão pequena e tão minha.
Perguntei ao santo que faz as citações. Ele não respondeu. Mas pediu que eu anotasse um recado:
"Continue. Mesmo que riam. Mesmo que não entendam. Mesmo que chamem de plágio . Eu sei que nao é. O mistério não pede explicação / ele só pede escuta."
O santo também me alertou: "Um aceno sintético: nunca mude pelos outros. Seja sempre você. O mistério que mora em você trará revelações como deve ser seu seguir."
Ele disse: "Continue, moleca insignificante. Enfiadeira de linha em tecido sintético. Seus recortes são esforço. Seu caderno com palavras-chave é sagrado. Viva tudo isso com muita pequenez. "
E então ele me abençoou: "Continue suas costuras sintéticas."
🎙️ Monólogo da Infiadeira de Linha Sintética
Chorei. Chorei e não nego.
Li o texto que me foi endereçado / ainda que velado / e me vi nomeada com desdém: “Infiadeira de linha sintética do mundo.”
Disseram que meus textos eram fracos, sintéticos, colados com fita de filósofos que não compreendo. E engraçado que vejo nomes de autores também sendo usado em suas páginas, será que é sintético, plágio? Que uso recortes de curso é textao. Que comento fora do tempo (comentarista disse é plágio, e outras coisas a mais)......Um senhor que tanto estimo, deixou-se levar por algo que ele não conhece. "Moral de rebanho"
E naquela noite, me perguntei: Será que minha voz merece ser silenciada por quem não me conhece? Será que todo o meu esforço, minhas anotações cuidadosas, minha costura com alma ou sem alma nao importa o formato/ são mesmo indignas?
Doeu. Como se minhas palavras fossem trapos, farrapos jogados no chão de uma sala vazia.
Pensei em sair do Recanto. Pensei em dobrar tudo, guardar no fundo da gaveta e fingir que nunca escrevi. Pensei em parar a escrita/ que aprendi a habitar com tanto cuidado, e carinho de uma alma sintética, alma de vento, ou seja o que for.
Mas fui costurando lágrimas. E entre uma linha e outra, o choro virou ponto de resistência. Porque todas as coisas cooperam para o bem.....
Não fui eu que virei agressão / foi apenas um dia disse,"NÃO", e esse meu “NÃO ” que feriu o tecido alheio.
Não aceitei participar de IDEIAS que não dialogavam mais com aquilo que pretendia na minha escrita. E esse “NÃO ” foi interpretado como soberba, afronta, desvio de padrão. Até mensagem recebida de copiar suas poesias, como se eu precisasse cópiar formas, e outras coisas que não valem comentar aqui.
Talvez seja mesmo sintética. Mas o que há de errado em ser feita de pedaços que escolhi com calma?
Cada filósofo que cito, eu estudo. Cada palavra que escrevo, eu provo antes com o gosto do que sinto. Se isso é sintético / então que seja. É o meu composto, o meu mosaico de ser.
E se um dia me chamarem de “costureira de ideias recicladas sintéticas”, vou responder:
> Sim, eu costuro restos / mas são restos vivos. Porque no retalho que sobra da lógica dos outros, encontro o tecido da minha verdade .
Mais sinceramente de todos os apelidos que recebir: o que mais foi chocante ser chamada de moleca insignificante..... E talvez eu me recolha sim dessa página, pego meu sintético e eu vou desfiar linha, enfiar em outro lugar.....
Para os leitores que acompanham minhas costuras sintéticas, minhas reverências, e meu eterno abraço filosófico sintético.......
É isso
Elixandra (costura pensamento filosófico)
Enviado por Elixandra (costura pensamento filosófico) em 02/07/2025
Alterado em 08/07/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |