Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


Chama Velada: Fiapo de um fim. Amor Queimado.

 

"Histórias de anos atrás capítulo 01"

 

O Estopim.....

 

Ela era filha da costureira. Cresceu entre agulhas, linhas e silêncios. O pai, ausente como botão perdido. A mãe, firme como pano cru. A infância foi costurada com os fios da pobreza e da superação.

 

Desde cedo, trazia o sol nos olhos e a lua nas veias os astros da sua paixão. Lia muito, sonhava muito, queria se tornar professora cresceu nesse plano. Também sonhava com um amor daqueles dos livros, das novelas  das cartas perfumadas e promessas eternas.

 

E um dia, amou. Um jovem como ela, inflamado de desejo e esperança. O amor era um incêndio / consumia os lençóis, os corredores do chão batido, eram  suspiros intensos. A filha nasceu como flor no verão....

 

Mas a paixão não costura a eternidade. Numa manhã qualquer, o telefone tocou,

 

—> "Nosso casamento acaba hoje", disse ele, seco.

 

Ela caiu em prantos, as lágrimas encharcando o tecido da alma. Ligou para a sogra / que confirmou com frieza.

/ "Ele está com outra. Já faz quinze dias, trouxe aqui pra casa."

 

E antes de desligar, a sentença rasgada e cruel . Disse

—> "Vou rezar um terço por sua alma perdida e aflita."

Ali a jovem desceu das carnes, e tremeu os ossos e gritou em lágrimas....

 

O Desgarrar.....

 

A casa virou silêncio amargo de ferro. As promessas ditas nos lençóis viraram trapos farrapos. Com a filha pequena nos braços, voltou para a casa da mãe costureira.....

 

Mas ali, os dias não se alinhavam. As brigas estalavam como linha fina puxada com raiva. Um dia, de coração em frangasos, entregou a filha à mãe e disse:

 

—> "Vou embora. Não volto mais. Esta terra me feriu mais do que amou."

 

E partiu. Com uns trapos de roupas e um buraco.....  um rasgo costurado no peito...

 

A Travessia de Linha Torta......

 

Caminhou por terras desconhecidas, sem rumo, apenas com a certeza do exílio. Os dias eram costurados por trabalhos duros e lágrimas escondidas, com saudade da filha....

 

Mas o tempo / esse alfaiate silencioso / foi remendando sua dor. Um ponto por vez. Aprendeu o ofício da mãe. As mãos que um dia tremeram agora costuravam com firmeza.

 

Costurava panos durante o dia . Mas noite costurava silêncios, perdas e memórias, saudade em seu diário....

 

O Retorno a Si....

 

Os anos passaram como agulhas atravessando tecidos. Um dia, diante do espelho, viu outra mulher, nem jovem, nem velha demais. Apenas inteiramente sua....

 

No peito, ainda havia a cicatriz do abandono, e saudade da filha. Mas agora ela brilhava como bordado antigo, com beleza em suas imperfeições da alma e do corpo gasto....

 

Na máquina de costura, as linhas seguiam firmes. E em cada ponto, um gesto de perdão à vida, a ela mesma, e também a ele, e sua mãe.  Ela entendeu que tudo faz parte do fluxo e não existe culpados....

 

Epílogo / Ela foi Costureira de Si Mesma

 

Hoje, na terra onde ninguém sabe de sua história, ela vive em paz. Costura para sobreviver, sim, mas também para lembrar, que tudo pode ser tecido de novo.

 

Em seus panos, às vezes borda discretamente uma rosa ou uma lua  ou um sol e símbolos do amor e da solidão do desejo....

 

Sobre o amor, ela não o nega. ( o amor não é ridículo, nem castigo, nem veneno.

É o apego cego que nos faz nada)....e ela  /considera belo, mas não mais um fogo devorador. É chama velada  branda,    Não o espera com fome, nem o represa em promessas. O amor, hoje, é livre /é como linha solta que pode ou não se entrelaçar com outra.

 

Quanto ao casamento, percebeu/ é uma estrutura feita de invenções. Um molde que tentaram lhe impor, como se o afeto precisasse caber num padrão, num papel passado, num contrato bordado a obrigações. Mas amor que se mede por posse costura a própria prisão.

 

E hoje ela  escreve. Escreve como quem remenda as partes de si que se rasgaram. Costura os traumas com palavras, como quem transforma dor em tecido poético sem rima, sem métrica. Hoje pra ela há  mais verdade no delírio bem pronunciado do que na razão. acorrentada. Cada linha escrita é um fio de delírio e filosofia puxado de dentro / suado, mas necessário....

 

E em silêncio, enquanto a máquina de costura trabalha, ela repete como um mantra....

 

—> "Do que se rasga, também se nasce."

 

Ao Leitor: bem vindo ao clube do fiapo.....

 

Nesta página, costuro minhas vivências, traumas e rasgos com linhas de memória e palavras sentidas....

Aqui, tudo é código e metáforas cada costura, um ponto invisível da alma; cada citação filosófica, uma agulha que me atravessa e me refaz, se nao gosta das citações ou acha clichê passa direto.....

 

Não escrevo para agradar...

 

Se não gostar, siga em frente.

Mas se algo aqui te tocar / mesmo que de leve / talvez seja porque também há em ti um rasgo por remendar.

 

Citações:

 

Friedrich Nietzsche

 

 “É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela dançante.”

“Aquilo que não me mata, me fortalece.”

“A serpente que não pode mudar de pele morre. O mesmo acontece com os espíritos que são impedidos de mudar de opinião.”

 

 Simone de Beauvoir

 

 “Não se nasce mulher: torna-se mulher.”

“O corpo não é uma coisa, é uma situação.”

“A pessoa se torna livre por meio da liberdade dos outros.”

 

Clarice Lispector

 

 “Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania / depende de quando e como você me vê passar.”

“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.”

“Escrevo como quem aprende.”

 

 Jean-Paul Sartre

 

 “O importante não é o que fizeram de mim, mas o que eu faço com o que fizeram de mim.”

“Estamos condenados à liberdade.”

“O inferno são os outros.”

 

Carl Jung

 

 “Não há despertar de consciência sem dor.”

“Tudo o que nos irrita nos outros pode levar à compreensão de nós mesmos.”

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”

 

É isso....

Elixandra (costura pensamento filosófico)
Enviado por Elixandra (costura pensamento filosófico) em 12/07/2025
Alterado em 13/07/2025
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