![]() Retalho Amargo da Mulher Herege, Cética e Pessimista / Mas com um Açúcar Escondido na Linha da costura 🦉🧙🧜♀️🪡
Histórias de anos atrás / Capítulo 02
O Retalho Amargo adoçado com Açúcar
Ainda nas terras distantes, os dias eram amargos. O café das manhãs/ quando havia pedia açúcar para adoçar os goles curtos da esperança. Sol rachava a terra e ela . Era tempo de fenda e sede/ nos pés, as rachaduras gritavam no peito, ardiam marcas fundas como ferro em brasa, marcado a dor sem pedir permissão. Ali, o tempo não se contava em relógios, mas em calos e cansaços, bordados por dias de trabalho duro, linho suado e ausência costurada no silêncio.
Ela não conhecia quase ninguém. A solidão era um zíper emperrado, preso entre o peito e o que restava da esperança. Mas mesmo assim / mesmo com saudade feita de algodão grosso / ela segurou a vontade de voltar, à terra Natal.
Voltar pra filha / a "flor de verão", aquela nascida dos lençóis quentes, da paixão apressada. Deixada aos cuidados da mãe costureira, enxertada de amor e abandono.
Mas naquela terra árida, um dia foi atravessado pela presença de um moço. Forasteiro também. Chegou com as mãos marcadas de mina e os olhos afundados no tempo. Os olhares se cruzaram, e a fome de carne e carinho / costurada ao desamparo / aceitou o convite:
* “Junta teus trapos comigo?”
A voz do moço era linha mansa, e o gesto, quase botão de afeto. Ela pensou:
* “Talvez eu possa ser feliz sem aquele amor de fogo. E talvez buscar a filha a "flor de verão". Aquela que ficou sob os cuidados da avó, na terra natal. Talvez esse pano sem estampa também sirva de abrigo.”
E assim juntaram os trapos. Montaram um rancho simples, forrado de promessas pequenas. Mas o amor..... O amor não apareceu.
Veio a rotina. Veio o peso. E nasceram dois eucaliptos de inverno / filhos de lençóis sem brasa, brotos plantados com mais calmaria do que desejo quente. Foi dos lençóis frios daquele tempo sem flor, nasceram eles dois. Não houve primavera nem promessa. Mas houve vida. E nasceram inteiros. De pé. Não foram filhos do fogo, mas da resistência.
A moça / agora mulher gasta cansada / remendava os dias como podia. Fita métrica na mão, medindo distância entre si mesma e qualquer ideia de alegria.
A cada manhã, se perguntava.
* “Isso aqui é amor..... ou apenas mais uma costura malfeita, puxando torta no avesso?”
O moço foi ficando calado, fechado em si. Um botão frouxo, prestes a cair da camisa da convivência. E num certo dia, viajou a trabalho / e nunca mais voltou.
Ficou ela. Sozinha. Com dois filhos, duas árvores de sombra rara, é potente Com lençóis que já não guardavam perfume, e uma casa cheia de eco e fantasmas....
Espelho e a Carta.
Fazia tempo que ela não mexia naquela gaveta. A madeira rangia como quem guarda segredos antigos, e entre um rolo de linha azul e um retalho de chita bordado com flor, estava lá. a carta.
Dobradinha com cuidado. Amarelada nas beiradas, como pele que o tempo tocou com zelo e peso.
Não era uma carta de amor. Nem de pedido, nem de cobrança. Era só uma página com palavras curtas, mas que, naquela manhã, soaram como agulha que atravessa camadas esquecidas. E lágrimas desceram...
Lia-se:
>< "Estou bem. A vida andou. Espero que você também. Ass.: tua flor de verão." ( a filha)
A mão dela tremeu um pouco. Não de dor / de memória, sombras, e fantasmas e a frase engasgada a vida andou, espero que você também....
A filha. Aquela mesma flor parida dos lençóis quentes, hoje era mulher feita, vivendo noutra terra, sob outro sol. noutra estação. Costura sua própria vida com linhas que a mãe não pôde ensinar. Talvez por escolha. Talvez por dor demais.
E a mulher que ficou? Segue viva, remendada, mas de pé.
E ali, diante do espelho / aquele que já não devolvia juventude, mas devolvia presença / ela respirou fundo.
Entendeu que a vida não deve explicações. Que ninguém deve voltar para consertar nada, ( como disse a filha "flor de verão" a vida andou espero que você também) porque certas costuras são feitas só para rasgar. E tudo bem.
E, entre um ponto e outro, enquanto prega um botão ou ajeita um zíper, ela ri com certa ironia mansa, e diz:
>>> No fim, mia fia, tudo o que sobra é o pano. (O olhar pra frente....) E a gente escolhe se chora pelo passado ou sobre ele costura-se outro vestido, e assim ela entendeu .....
> “A vida não é castigo, nem receber prêmio. É linha solta em tecido cru. É o que se escolhe bordar com ela.”
Ela sorriu. Pegou a carta. Guardou no bolso do avental, junto com um botão antigo e um pedaço de fita métrica. E voltou pra máquina.
>< Costurava como quem reza. Reza como quem aceita. E aceita como quem já não espera mais moldes perfeitos, apenas tecido suficiente pra seguir em frente. E costurar com a linha que tiver.. E frase da filha ( a "flor de verão") como mantra ficou entalada " A vida andou espero que você também"
Esse trecho é o fio filosófico que fecha o retalho com sabedoria / um momento em que a personagem olha para trás e compreende que a dor não veio como punição, nem para salvá-la, mas como parte da travessia do existir. A vida, afinal, não é molde pronto: é tecido que se desfia, se emenda, e às vezes, só se aceita.
O Espelho e a Rendição
Tem gente que diz que a vida é castigo. Outros acham que é karma, expiação, ou algum resgate ancestral, ou outras coisas.....
Mas um dia, entre os panos gastos e a luz da manhã, ela se olhou no espelho da casa simples. Não pra ver rugas, nem beleza. Mas pra ver / finalmente / a si mesma sem culpa, nem fantasia, e sem apontar culpados.
E ali entendeu:
>< Nada disso é veneno. Nada disso é milagre. A vida só é.
As dores que lhe atravessaram não vieram com nome nem sentido na hora / mas foram as agulhas que abriram os pontos certos.
Agora ela sabia: não era castigo, nem sina, nem prêmio. Era vida acontecendo, com linha torta, linha fina, linha sintética, às vezes com fio de aço, outras com algodão leve.
Tudo é escolha, ou tudo é DNA, ou quem sabe seja só o destino usando a gente como tecido pras suas próprias experiências.
Mas, seja lá o que for, ela decidiu:
>< “Não era santa. Não Era vítima. E muito menos erro de costura.”
No final é só a vida acontecendo. É só a vida, o fluxo natural. E mesmo sem molde certo, ela segue costurando. Herege, Cética, pessimista...
E aquela mulher que, em vez de lutar contra o que não se altera, aprendeu a bordar com os fios que a vida deu, mesmo que sejam restolhos, retalhos ou linhas de cor incerta.
“Não busques que os acontecimentos aconteçam como queres, mas deseja que aconteçam como acontecem, e tua vida fluirá serenamente.” — Epicteto
✂️ Provocação ao leitor – “Retalho Amargo (Que No Fundo Era Doce)”
Você que leu esse retalho de vida, ( as duas partes) entre linhas invisíveis e pontos mal costurados / que atravessou comigo o abandono, a fuga, a maternidade no silêncio, o amor e mesmo assim deixou raízes. ... Desejo, apego, idealização, posse, dependência, carência, validação, medo, dor, dúvida, ciúmes, sacrifício silencioso, vício afetivo, autoabadono, controle, salvação, medo da solidão, memória do afeto, culpa, expectativa, ilusão de eternidade, fantasia, ilusão, falta de si mesma, herança emocional, Esperança que cansa...e etc
te convido a parar por um instante...
Não pra julgar. Mas pra sentir. E se quiser, pensar comigo:
No sentido existencial: Quantas vezes você também viveu algo que parecia castigo, mas era apenas travessia? Quantos retornos você evitou por medo de se perder de novo / ou por ainda carregar o buraco da primeira partida?
No psicológico: Quantos padrões repetimos achando que estamos escolhendo? Quantas vezes o amor ( ou qualquer outra situação da vida )vira alívio da dor, e não presença inteira? Ou será o medo da solidão.
No espiritual: Será que a vida nos pune ou apenas nos molda pelas experiências? A vida nos testa ou é apenas passagem? E se o perdão for só um ponto invisível na bainha da alma? É preciso se perdoar e perdoar o outro e aprender andar mesmo com cicatrizes mas em paz? Será que tudo que vivemos tem mesmo um propósito / ou somos nós que escolhemos bordar sentido nas sobras?
No filosófico: O que é liberdade, afinal? Fugir ou permanecer? E se o amor ( ou qualquer outra situação da vida) que não floresce for também forma de existência? E se não houver erro, só fluxo?
No poético: Você viu as flores brotando do rasgo? Percebeu a filha /"flor de verão"/ e os /"dois eucaliptos de inverno"/ talvez não sejam filhos do amor romântico, mas da coragem da resistência. Os filhos nasceram em tempos secos mas cresceram. ela dizia mas nada/ ou talvez nao esperava mas nada./ Mas continuava costurando os dias com quem acredita que tudo pode/ ser refeito/ com o olhar para frente , como a filha disse /a vida por aqui andou e espero que voce também./ Viu que até a cética, herege pessimista borda esperança sem admitir?
Se algo nessa história te tocou, mesmo que de leve talvez seja porque você também carrega um retalho amargo que no fundo é doce.
Se quiser, escreva sua própria "moral da história". Nos comentários..... Não como quem fecha um sentido, mas como quem acende um ponto de luz no próprio tecido.
Porque aqui, costuramos perguntas. E cada alma lê com o tecido que lhe foi suficiente e a linha que tiver.
<—> Elixandra (costura pensamento filosófico) 🪡
É isso
Elixandra (costura pensamento filosófico)
Enviado por Elixandra (costura pensamento filosófico) em 19/07/2025
Alterado em 19/07/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |