![]() Cântico ao Vazio (Poesia épica do Nada)Cântico ao Vazio (Poesia épica do Nada)
Caiu a noite sem estrelas, e o mundo calou-se diante do indizível. Nenhum som, nenhum eco, apenas o trono de silêncio absoluto / e nele, eu me assento.
Pois enquanto os homens clamam por ruído, eu trilho os salões do Nada, com passos nus e olhos fechados, ouvindo a canção do que não pode ser ouvido.
Ó Vazio, berço dos deuses esquecidos! Tu és mais antigo que o tempo, mais vasto que os céus, mais sagrado que qualquer palavra escrita com fogo.
O mundo teme tua presença, mas eu, errante da alma e senhora de mim, entro em teus portais como quem volta pra casa.
Vêm gritos de fora, vem a dança da carne, mas eu estou além / na morada onde o pensamento se curva e a vontade dorme.
Porque o Nada… o Nada é tudo.
É dele que nascem os astros, é nele que morrem os impérios. No silêncio que muitos amaldiçoam, eu forjo minha espada invisível.
Não combato, não fujo, não clamo por destino. Apenas sou / a heroína do vazio. Viva o silêncio ... Viva o vazio ... Viva o nada...
Medo de estar só?
Talvez nunca te disseram que o silêncio do vazio tem muito a revelar. Vivemos em um mundo apressado, cheio de ruídos, distrações e aparências. Nesse cenário, estar só parece ser sinal de fracasso. Mas não é.
É no nada que a alma se expressa. É no silêncio do vazio que o sagrado se manifesta. Não um deus fora de nós, com forma humana, antropomórfico. mas o Deus que é tudo / o Deus cósmico que habita o mais íntimo do ser.
A solidão não é falta. É plenitude. Quem aprende a habitar esse nada fértil, esse silêncio cheio de sentido, já não se sente perdido mesmo em meio à multidão.
A filosofia nos convida a escutar com o coração. A reconhecer, no silêncio, no vazio e no aparente nada… o que somos / essencialmente.
Palavras de um monge taoista sobre o nada
>< O sábio perguntou: “O que é o nada?”
> E eu respondi:
O nada não é ausência. É a plenitude que não deseja forma. É o silêncio que antecede o som, o espaço onde o bambu cresce, a pausa entre a inspiração e a expiração.
O nada não pode ser possuído, mas dele tudo se origina.
Quando deixas de querer, o nada se aproxima.
Quando deixas de nomear, o nada revela seus mil nomes.
A mente que repousa no vazio é como a superfície calma de um lago.
Nele, o Céu se espelha. E o homem deixa de lutar com o destino.
> Assim é o Caminho. Quem o caminha, caminha leve. Quem o busca com força, se perde.
Mas quem se senta / e apenas observa já chegou.
Esse poema é uma travessia da alma / um gesto solitário e vazio intronizado no nada, como diria Heidegger, busca abrigo no Ser, no aconchego de um sentido que talvez nunca se revele por completo. Há um desejo de compreensão, mas a linguagem falha, tropeça / como já afirmava Wittgenstein: “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”.
Ao evocar Picasso e Mozart, o poema nos lembra que nem a arte mais sublime alcança a inteireza do enigma humano. Mesmo o traço mais sensível ou a nota mais inspirada não capturam o mistério da existência / e talvez não devam. Como em Heráclito, somos fluxo e fragmento, jamais totalidade.
Assim, o eu poético tenta decifrar-se com os retalhos que tem / palavras, metáforas, gestos / costurando sentidos onde a alma clama por tradução. Mas o que se alcança é apenas isso: um fragmento. E nesse fragmento, habita uma verdade parcial, mas profunda. Afinal, como na filosofia, a busca é mais reveladora do que a resposta.
É isso
Elixandra (costura pensamento filosófico)
Enviado por Elixandra (costura pensamento filosófico) em 26/07/2025
Alterado em 26/07/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |