Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


Cântico ao Vazio (Poesia épica do Nada)

Cântico ao Vazio (Poesia épica do Nada)

 

Caiu a noite sem estrelas,

e o mundo calou-se diante do indizível.

Nenhum som, nenhum eco,

apenas o trono de silêncio absoluto /

e nele, eu me assento.

 

Pois enquanto os homens clamam por ruído,

eu trilho os salões do Nada,

com passos nus e olhos fechados,

ouvindo a canção do que não pode ser ouvido.

 

Ó Vazio, berço dos deuses esquecidos!

Tu és mais antigo que o tempo,

mais vasto que os céus,

mais sagrado que qualquer palavra escrita com fogo.

 

O mundo teme tua presença,

mas eu, errante da alma e senhora de mim,

entro em teus portais como quem volta pra casa.

 

Vêm gritos de fora, vem a dança da carne,

mas eu estou além /

na morada onde o pensamento se curva

e a vontade dorme.

 

Porque o Nada…

o Nada é tudo.

 

É dele que nascem os astros,

é nele que morrem os impérios.

No silêncio que muitos amaldiçoam,

eu forjo minha espada invisível.

 

Não combato, não fujo,

não clamo por destino.

Apenas sou /

a heroína do vazio.

Viva o silêncio ...

Viva o vazio ...

Viva o nada...

 

 

 Medo de estar só? 

 

Talvez nunca te disseram que o silêncio do vazio tem muito a revelar.

Vivemos em um mundo apressado, cheio de ruídos, distrações e aparências.

Nesse cenário, estar só parece ser sinal de fracasso. Mas não é.

 

É no nada que a alma se expressa.

É no silêncio do vazio que o sagrado se manifesta.

Não um deus fora de nós, com forma humana, antropomórfico.

mas o Deus que é tudo / o Deus cósmico que habita o mais íntimo do ser.

 

A solidão não é falta.

É plenitude.

Quem aprende a habitar esse nada fértil, esse silêncio cheio de sentido,

já não se sente perdido mesmo em meio à multidão.

 

A filosofia nos convida a escutar com o coração.

A reconhecer, no silêncio, no vazio e no aparente nada…

o que somos / essencialmente.

 

Palavras de um monge taoista sobre o nada

 

>< O sábio perguntou:

“O que é o nada?”

 

> E eu respondi:

 

O nada não é ausência.

É a plenitude que não deseja forma.

É o silêncio que antecede o som,

o espaço onde o bambu cresce,

a pausa entre a inspiração e a expiração.

 

O nada não pode ser possuído,

mas dele tudo se origina.

 

Quando deixas de querer,

o nada se aproxima.

 

Quando deixas de nomear,

o nada revela seus mil nomes.

 

A mente que repousa no vazio

é como a superfície calma de um lago.

 

Nele, o Céu se espelha.

E o homem deixa de lutar com o destino.

 

> Assim é o Caminho.

Quem o caminha, caminha leve.

Quem o busca com força, se perde.

 

Mas quem se senta / e apenas observa 

já chegou.

 

 

Esse poema é uma travessia da alma / um gesto solitário e vazio intronizado no nada, como diria Heidegger, busca abrigo no Ser, no aconchego de um sentido que talvez nunca se revele por completo. Há um desejo de compreensão, mas a linguagem falha, tropeça / como já afirmava Wittgenstein: “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”.

 

Ao evocar Picasso e Mozart, o poema nos lembra que nem a arte mais sublime alcança a inteireza do enigma humano. Mesmo o traço mais sensível ou a nota mais inspirada não capturam o mistério da existência / e talvez não devam. Como em Heráclito, somos fluxo e fragmento, jamais totalidade.

 

Assim, o eu poético tenta decifrar-se com os retalhos que tem / palavras, metáforas, gestos / costurando sentidos onde a alma clama por tradução. Mas o que se alcança é apenas isso: um fragmento. E nesse fragmento, habita uma verdade parcial, mas profunda. Afinal, como na filosofia, a busca é mais reveladora do que a resposta.

 

É isso 

 

 

 

Elixandra (costura pensamento filosófico)
Enviado por Elixandra (costura pensamento filosófico) em 26/07/2025
Alterado em 26/07/2025
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