![]() O Cântico Rebelde da Costura Torta.
Mas um lamento acontece, sempre acontece, acontece todo dia. nas varandas assombrosas solitárias da vida, onde os becos do vazio se encontram com o nada. Onde é tudo E eu fico ali, encostada no invisível, ouvindo o cântico do silêncio. Ele não produz som, mas diz tudo.
Não vejo o mundo como ele é / vejo como minha alma o permite. A realidade me escapa como um vulto sob a luz fraca / não toco a coisa em si, apenas a sombra que ela projeta em mim. Meus olhos são janelas turvas, minha mente, um filtro antigo. Traduzo o mundo em versões pequenas, que caibam nas minhas dores, crenças, experiências vivências. nos moldes invisíveis que um dia me disseram ser a verdade. "Agora eu permaneço, ou mudo"
Minha mãe veio. E naquela mesa da sala, sentamos. Eu disse: >< Por que a vida doeu tanto? Uma dor tão doida .....
Ela me olhou com olhos de quem já costurou o mundo com agulha grossa e linha de arame farpado. Disse escuta essa:
>< "A vida? Ah..... é profunda. Relaxa"
É pau, é pedra, é estilhaço de vidro no meio do caminho. É o cão. É o vento, é a chuva, é a enchente que carrega a alma e o chuveiro que pinga no silêncio da madrugada. É trovão que arrebenta e brisa que acaricia. É o fogo da paixão que queima a pele na madrugada e a neve fria que cala os sentidos.
É ave voando, ave caída. É folha verde na árvore e folha seca esmagada no chão. É sapo, é rato, é gato que não mia. É prego na sola, espinho na costela. É cobra, serpente, febre, solidão. É espada, é Esparta. É amor, é cinzas, líquido. É o fantasma e o palhaço. É molde-base e vestido curto. E vestido longo. É o rasgo, o furo, o frouxo, o apertado. É o luto e a festa. É o cangaceiro e o puritano.
É sensualidade é frigidez. É a tarada, é a fraca. É o gozo mudo e o gemido em coro. É o toque que desperta e o corpo que se ausenta. É o cio e a clausura. É o hino nacional em samba. É o anonimato e a surpresa. É o Vasco, é o Flamengo. É traição, é o beijo. É a criança estuprada. É o crime com culpa. É a condenação. É desejo, é ilusão. É tentação, é gravidade. É o uniforme, é a toga. É a cadeira, é o chão. É os eus. É identidade formada. É a herança, é as terras. É o direito, é a esquerda. É a sombra, é a luz. É a lanterna e a nudez. É o campo, é o mato. É o pintor, é a obra. É morango, é o leite.
É poesia, é prosa. É mentira, é caminho largo. É verdade, é trilha varrida e estreita. É livro, é bíblia, é inferno, é São Benedito. É escorpião e virgem. É quente, é frio. É choro e riso. É vida sossegada e morador no relento. Barriga cheia, fome crua. É miséria e mesa farta. É pérola e bizarro. É guerra, é avanço, é tecnologia. É língua afiada / é corte, é fio, é silêncio. É o canto do mundo com linha torta. É guerra, é avanço. É o réu e o juiz. É estar sozinho. É toco. É torto. É o vidro no escuro. É o cão / ou o eco dele. É o fardo e o altar. É a queda e o voo. É o sim dito por engano, É o não que salva sem saber. É inverno e verão / às vezes ao mesmo tempo.
É a oração é o ladrão. É a reza é a prostituta. É a cruz é o peito, é o ódio é olho. É a santa é a vadia. É o cio é virgem. É a culpa é o justo. É o bem é a faca, é a mão. É o mal rezando em silêncio. É o beijo é o veneno. É o tapa que desperta. É a cama de prazer e martírio. É a fome que consola. É o banquete do vazio. É a mão que cuida e destrói. É a mãe que abandona. É o pai que acalenta. É a flor que fere. É o espinho que salva. É a ferida aberta e o perfume. É o riso no velório. É o choro no parto. É o silêncio que grita. É o grito que cala. É a lembrança que some. É o esquecimento que dói. É o ouro que pesa. É a pobreza que liberta. É o salto alto na lama. É o vestido na sarjeta. É a ordem do caos. É o caos da rotina. É o amor que mata. É o ódio que cura. É o abraço que sufoca. É a distância que aquece. É o espelho que mente. É a máscara que revela. É a nudez vestida de medo. É o sim dito com asco. É o não carregado de ternura. É a liberdade de um prisioneiro. É a prisão de um livre. É o corpo de uma alma cansada. É a alma que dança sobre o cansaço. É a saudade é a contramão. É o saco é o pilão.
É o lobo e o cordeiro. É o touro e a rendição. É o beija-flor e o urubu. É o galo que canta e a galinha cega. É o peixe fora d’água. É a dança é o tango É o fumo, é o bolso, é o batom É a bomba é a boneca. É o cavalo solto e a rédea curta. É o bicho solto e o zoológico interno. É o instinto e a coleira. É o uivo e o silêncio. É a feiticeira e a beata. É o oráculo e o eco. É o tarot que mente e a intuição que grita. É o santo e o diabo ajoelhado. É a vela acesa no quarto escuro. É o despacho na esquina. É o signo e o destino cruzado. É o eclipse, é Mercúrio retrógrado. É a alma penada e o corpo em carne viva. É a reza e o feitiço virado. É o céu que promete e o inferno que cumpre.
É a floresta e o asfalto. É o mar e o deserto. É a lua cheia e o sol morto. É o raio e o barro. É a pedra filosofal e o chão rachado. É o vulcão e o gelo. É o trovão e o cochicho. É a tempestade e a estagnação. É a nascente e o esgoto. É o sonho e a insônia. É o gozo e o vazio. É o altar e o motel. É o sagrado e o suado. É o perfume e a podridão. É o pecado e o alívio. É a boca suja e o pensamento puro. É a culpa e a dança. É a faísca é a fumaça. É a ardência é o corpo é o espírito. É o abismo é o pagode. É o fim, é o real, é o irreal. É o calado, é o alto. É a ordem secreta, é a caveira. É o mistério é o tombo. É o jumento é a bengala. É o rebanho é a moral. É o medo é o sal, é a sala é a visão. É a metafísica, a metáfora, é a antologia.
E ali, entre apergunta, e o cântico e o sermão o espanto, entre o sonho e o chão, eu despertei. A mesa estava vazia. Mas o eco…... o eco ficou.
E nesse canto calado, nesse silêncio que é grito, percebo / Que o julgo, é quase sempre, só o espelho do que ainda não compreendi em mim, e no mundo. Ou apenas a profundidade acontecendo, como mãe disse, A vida é profunda demais.
Sigo então. Nas varandas assombrosas solitárias de mim mesmo. E no nada me regozijo Escutando o mundo como quem escuta uma canção que nunca foi tocada / mas que insiste em tocar o peito com acordes que só eu posso ouvir. Ou danço no caos.
E sigo costurando minha alma com linha torta, porque nenhuma dor minha soube nascer reta. É no fim é só a vida acontecendo, ela é profunda demais.
Não obrigatório a leitura: Inspiração filosófica existencial.( pequeno ensaio explicativo.)
Filósofo Elemento presente na prosa
Kant A realidade como projeção da mente Schopenhauer A dor como essência da vida, o absurdo como matéria-prima Nietzsche Contradições, intensidade, crítica à moral tradicional Simone Weil Mística da dor e da escuta interior Clarice Lispector (literária) Existencialismo íntimo, linguagem sensível, silêncio como força
A prosa atravessa a angústia da contradição da existência, toca as fronteiras entre realidade e imaginação, revela o conflito entre o desejo e a dor, entre o corpo e o espírito, entre o impulso de viver e a perplexidade diante do mundo / Este texto é uma colagem viva de contradições humanas. Uma corrente de imagens que não se prende à lógica linear, mas pulsa como um fluxo de consciência onde tudo é e deixa de ser. Mas seu impacto é quase de um cântico em mantra caótico / repetitivo, hipnótico, sensorial. (Inspirações) "Schopenhauer", a obra bebe da visão trágica da existência, onde o desejo é motor e prisão, prazer e dor. Mas também há ecos de "Kant", na dualidade entre o que aparece (fenômeno) e o que se oculta (númeno). A razão tenta organizar o mundo, mas o texto mostra que o mundo escapa, transborda, se esconde em símbolos.Já em "Nietzsche", reconhecemos a busca pela intensidade, a contradição vital, o impulso instintivo que desafia a moral tradicional. Em "Simone Weil", a mística do sofrimento, a escuta profunda como caminho de revelação. E com "Clarice Lispector", a linguagem como silêncio e o espanto como forma de saber.
Exemplo ...
Cada elemento nomeado / o cão, a pedra, a febre, a pau, vidro o torto, o cio, o hino nacional em samba, a toga, o morango, o leite e etc / funciona como um arquétipo solto, pulsando ambiguidade. A mulher aparece como força criadora e negadora ao mesmo tempo frígida e tarada, santa e pagã e etc, bicho e sombra. Uma espécie de Lilith pós-moderna, dividida entre o desejo e a condenação.
As imagens animais / o sapo, o rato, o gato, o cavalo, a serpente e etc/ evocam o primitivo, o que existe abaixo da linguagem. As figuras místicas / o orixá, a bruxa, a alma penada / revelam a busca ancestral por sentido diante do caos. O texto é também um inventário do Brasil arquetípico / futebol, samba, cachaça, violência, infância, desigualdade, amor e cinzas e etc.
A sensualidade está presente, mas sem vulgaridade / o corpo "lateja", "finge dormir", "recua", "deseja". É uma sexualidade simbólica, enraizada no drama de existir. O erótico aqui não é gratuito / é revelação do conflito entre o instinto e a moral, entre o toque e o silêncio.
A prosa poética se tece por dualidades / desejo e negação, corpo e ausência, força e fragilidade / assumindo sua ambiguidade como espelho do humano. Cada frase nasce como metáfora que desloca o sentido, convida ao mistério, e fala mais pelo que insinua do que pelo que explica. Os arquétipos emergem como sombras simbólicas: a mulher selvagem, a frígida, a santa, a tarada / não como tipos fixos, mas como camadas em tensão, que se sobrepõem e se anulam. As outras palavras surgem para o complemento do cântico.
A linguagem, assim, é corpo em oscilação / não define, mas revela o mundo em seus paradoxos / com a mesma força de quem deseja e de quem renuncia.
O texto, em si, quase não se explica / ele se oferece. É uma corrente de imagens soltas, sem pretensão de conduzir ou concluir. A subjetividade aqui se torna, então, um espelho /pode ser aliada ou sabotadora. Há quem leia o que está escrito, há quem escute o que está por trás da escrita. Ambos estão certos. Ou errados. Porque aqui, interpretar é mais gesto do que regra / é entrega ao não saber.
O ensaio explicativo pode suavizar o que quis apresentar. Mas não importa o resultado, o mais importante é a divergência com respeito. E aceitar porque cada um tem sua compreensão, e isso é o que mais importa. minha inspiração nos autores citados, podem está equivocadas, por está razão o texto nao se intitula como verdade encerrada, neste caso pode ser apenas uma mera ilusão do meu pensamento. Obrigado pela compreensão de todos pelos possíveis erros.🦉🧙♀️🧜♀️🪡
É isso. Elixandra (costura pensamento filosófico)
Enviado por Elixandra (costura pensamento filosófico) em 02/08/2025
Alterado em 03/08/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |