Elixandra cardoso, costura pensamento

"Tecendo silêncios e sentidos entre fios e pensamentos"

Textos


O Cântico Rebelde da Costura Torta.

 

Mas um lamento acontece, sempre acontece, acontece todo dia.

nas varandas assombrosas solitárias da vida, onde os becos do vazio se encontram com o nada. Onde é tudo

E eu fico ali, encostada no invisível, ouvindo o cântico do silêncio.

Ele não produz som, mas diz tudo.

 

Não vejo o mundo como ele é /

vejo como minha alma o permite.

A realidade me escapa como um vulto sob a luz fraca /

não toco a coisa em si, apenas a sombra que ela projeta em mim.

Meus olhos são janelas turvas, minha mente, um filtro antigo.

Traduzo o mundo em versões pequenas, que caibam nas minhas dores, crenças,  experiências vivências.

nos moldes invisíveis que um dia me disseram ser a verdade. "Agora eu permaneço, ou mudo"

 

Minha mãe veio. E naquela mesa da sala, sentamos.

Eu disse:

>< Por que a vida doeu tanto? Uma dor tão doida .....

 

Ela me olhou com olhos de quem já costurou o mundo

com agulha grossa e linha de arame farpado.

Disse escuta essa:

 

>< "A vida? Ah..... é  profunda. Relaxa" 

 

É pau, é pedra, é estilhaço de vidro no meio do caminho.

É o cão. É o vento, é a chuva, é a enchente que carrega a alma

e o chuveiro que pinga no silêncio da madrugada.

É trovão que arrebenta e brisa que acaricia.

É o fogo da paixão que queima a pele na madrugada

e a neve fria que cala os sentidos.

 

É ave voando, ave caída.

É folha verde na árvore e folha seca esmagada no chão.

É sapo, é rato, é gato que não mia.

É prego na sola, espinho na costela.

É cobra, serpente, febre, solidão.

É espada, é Esparta.

É  amor, é cinzas, líquido.

É o fantasma e o palhaço.

É molde-base e vestido curto. E vestido longo.

É o rasgo, o furo, o frouxo, o apertado.

É o luto e a festa.

É o cangaceiro e o puritano.

 

É sensualidade é frigidez.

É a tarada, é a fraca.

É o gozo mudo e o gemido em coro.

É o toque que desperta e o corpo que se ausenta.

É o cio e a clausura.

É o hino nacional em samba.

É o anonimato e a surpresa.

É o Vasco, é o Flamengo.

É traição, é o beijo.

É a criança estuprada.

É o crime com culpa.

É a condenação.

É desejo, é ilusão.

É tentação, é gravidade.

É o uniforme, é a toga.

É a cadeira, é o chão.

É os eus.

É identidade formada.

É a herança, é as terras.

É o direito, é a esquerda.

É a sombra, é a luz.

É a lanterna e a nudez.

É o campo, é o mato.

É o pintor, é a obra.

É morango, é o leite.

 

É poesia, é prosa.

É mentira, é caminho largo.

É verdade, é trilha varrida e estreita.

É livro, é bíblia, é inferno, é São Benedito.

É escorpião e virgem.

É quente, é frio.

É choro e riso.

É vida sossegada e morador no relento.

Barriga cheia, fome crua.

É miséria e mesa farta.

É pérola e bizarro.

É guerra, é avanço, é tecnologia.

É língua afiada /

é corte, é fio, é silêncio.

É o canto do mundo com linha torta.

É guerra, é avanço.

É o réu e o juiz.

É estar sozinho.

É toco. É torto.

É o vidro no escuro.

É o cão / ou o eco dele.

É o fardo e o altar.

É a queda e o voo.

É o sim dito por engano,

É o não que salva sem saber.

É inverno e verão / às vezes ao mesmo tempo.

 

É a oração é o ladrão.

É a reza é a prostituta.

É a cruz é o peito, é o ódio é olho.

É a santa é a vadia.

É o cio é  virgem.

É a culpa é o justo.

É o bem é a faca, é a mão.

É o mal rezando em silêncio.

É o beijo é o veneno.

É o tapa que desperta.

É a cama de prazer e martírio.

É a fome que consola.

É o banquete do vazio.

É a mão que cuida e destrói.

É a mãe que abandona.

É o pai que acalenta.

É a flor que fere.

É o espinho que salva.

É a ferida aberta e o perfume.

É o riso no velório.

É o choro no parto.

É o silêncio que grita.

É o grito que cala.

É a lembrança que some.

É o esquecimento que dói.

É o ouro que pesa.

É a pobreza que liberta.

É o salto alto na lama.

É o vestido na sarjeta.

É a ordem do caos.

É o caos da rotina.

É o amor que mata.

É o ódio que cura.

É o abraço que sufoca.

É a distância que aquece.

É o espelho que mente.

É a máscara que revela.

É a nudez vestida de medo.

É o sim dito com asco.

É o não carregado de ternura.

É a liberdade de um prisioneiro.

É a prisão de um livre.

É o corpo de uma alma cansada.

É a alma que dança sobre o cansaço.

É a saudade é a contramão.

É o saco é o pilão.

 

É o lobo e o cordeiro.

É o touro e a rendição.

É o beija-flor e o urubu.

É o galo que canta e a galinha cega.

É o peixe fora d’água.

É a  dança é o tango

É o fumo, é o bolso, é o batom

É a bomba é a boneca.

É o cavalo solto e a rédea curta.

É o bicho solto e o zoológico interno.

É o instinto e a coleira.

É o uivo e o silêncio.

É a feiticeira e a beata.

É o oráculo e o eco.

É o tarot que mente e a intuição que grita.

É o santo e o diabo ajoelhado.

É a vela acesa no quarto escuro.

É o despacho na esquina.

É o signo e o destino cruzado.

É o eclipse, é Mercúrio retrógrado.

É a alma penada e o corpo em carne viva.

É a reza e o feitiço virado.

É o céu que promete e o inferno que cumpre.

 

É a floresta e o asfalto.

É o mar e o deserto.

É a lua cheia e o sol morto.

É o raio e o barro.

É a pedra filosofal e o chão rachado.

É o vulcão e o gelo.

É o trovão e o cochicho.

É a tempestade e a estagnação.

É a nascente e o esgoto.

É o sonho e a insônia.

É o gozo e o vazio.

É o altar e o motel.

É o sagrado e o suado.

É o perfume e a podridão.

É o pecado e o alívio.

É a boca suja e o pensamento puro.

É a culpa e a dança.

É a faísca é a fumaça. 

É a ardência é o corpo é o espírito.

É o abismo é o pagode.

É o fim, é o real, é o irreal.

É o calado, é o alto.

É a ordem secreta, é  a caveira. 

É o mistério é o tombo.

É o jumento é a bengala.

É o rebanho é a moral.

É o medo é o sal, é a sala é a visão.

É a metafísica, a metáfora, é a antologia.

 

E ali, entre apergunta, e o cântico  e o sermão  o espanto,

entre o sonho e o chão, eu despertei.

A mesa estava vazia. Mas o eco…... o eco ficou.

 

E nesse canto calado, nesse silêncio que é grito, percebo /

 Que o julgo, é quase sempre,

 só o espelho do que ainda não compreendi em mim, e no mundo. Ou apenas a profundidade acontecendo, como mãe disse, A vida é profunda demais. 

 

Sigo então.

Nas  varandas assombrosas solitárias de mim mesmo. E no nada me regozijo 

Escutando o mundo como quem escuta

uma canção que nunca foi tocada /

mas que insiste em tocar o peito

com acordes que só eu posso ouvir. Ou danço no caos.

 

E sigo costurando minha alma com linha torta,

porque nenhuma dor minha soube nascer reta.

É no fim é só a vida acontecendo, ela é profunda demais.

 

Não obrigatório a leitura: 

Inspiração filosófica existencial.( pequeno ensaio explicativo.)

 

Filósofo Elemento presente na prosa

 

Kant A realidade como projeção da mente

Schopenhauer A dor como essência da vida, o absurdo como matéria-prima

Nietzsche Contradições, intensidade, crítica à moral tradicional

Simone Weil Mística da dor e da escuta interior

Clarice Lispector (literária) Existencialismo íntimo, linguagem sensível, silêncio como força

 

A prosa atravessa a angústia da contradição da  existência, toca as fronteiras entre realidade e imaginação, revela o conflito entre o desejo e a dor, entre o corpo e o espírito, entre o impulso de viver e a perplexidade diante do mundo / Este texto é uma colagem viva de contradições humanas. Uma corrente de imagens que não se prende à lógica linear, mas pulsa como um fluxo de consciência onde tudo é e deixa de ser.  Mas seu impacto é quase de um cântico  em mantra caótico / repetitivo, hipnótico, sensorial. (Inspirações) "Schopenhauer", a obra bebe da visão trágica da existência, onde o desejo é motor e prisão, prazer e dor. Mas também há ecos de "Kant", na dualidade entre o que aparece (fenômeno) e o que se oculta (númeno). A razão tenta organizar o mundo, mas o texto mostra que o mundo escapa, transborda, se esconde em símbolos.Já em "Nietzsche", reconhecemos a busca pela intensidade, a contradição vital, o impulso instintivo que desafia a moral tradicional. Em "Simone Weil", a mística do sofrimento, a escuta profunda como caminho de revelação. E com "Clarice Lispector", a linguagem como silêncio e o espanto como forma de saber.

 

Exemplo ...

 

Cada elemento nomeado / o cão, a pedra, a febre, a pau, vidro o torto, o cio, o hino nacional em samba, a toga, o morango, o leite  e etc / funciona como um arquétipo solto, pulsando ambiguidade. A mulher aparece como força criadora e negadora ao mesmo tempo  frígida e tarada, santa e pagã e etc, bicho e sombra. Uma espécie de Lilith pós-moderna, dividida entre o desejo e a condenação.

 

As imagens animais / o sapo, o rato, o gato, o cavalo, a serpente  e etc/ evocam o primitivo, o que existe abaixo da linguagem. As figuras místicas / o orixá, a bruxa, a alma penada / revelam a busca ancestral por sentido diante do caos. O texto é também um inventário do Brasil arquetípico / futebol, samba, cachaça, violência, infância, desigualdade, amor e cinzas e etc.

 

A sensualidade está presente, mas sem vulgaridade / o corpo "lateja", "finge dormir", "recua", "deseja". É uma sexualidade simbólica, enraizada no drama de existir. O erótico aqui não é gratuito / é revelação do conflito entre o instinto e a moral, entre o toque e o silêncio.

 

A prosa poética se tece por dualidades / desejo e negação, corpo e ausência, força e fragilidade / assumindo sua ambiguidade como espelho do humano. Cada frase nasce como metáfora que desloca o sentido, convida ao mistério, e fala mais pelo que insinua do que pelo que explica. Os arquétipos emergem como sombras simbólicas: a mulher selvagem, a frígida, a santa, a tarada / não como tipos fixos, mas como camadas em tensão, que se sobrepõem e se anulam. As outras palavras surgem para o complemento do cântico.

 

A linguagem, assim, é corpo em oscilação / não define, mas revela o mundo em seus paradoxos / com a mesma força de quem deseja e de quem renuncia.

 

 O texto, em si, quase não se explica / ele se oferece. É uma corrente de imagens soltas, sem pretensão de conduzir ou concluir. A subjetividade aqui  se torna, então, um espelho /pode ser aliada ou sabotadora. Há quem leia o que está escrito, há quem escute o que está por trás da escrita. Ambos estão certos. Ou errados. Porque aqui, interpretar é mais gesto do que regra / é entrega ao não saber.

 

O ensaio explicativo pode suavizar o que quis apresentar.

Mas não importa o resultado, o mais importante é a divergência com respeito.  E aceitar porque cada um tem sua compreensão, e isso é o que mais importa.

minha inspiração nos autores citados, podem está  equivocadas, por está razão  o texto nao se intitula como verdade encerrada, neste  caso pode ser apenas uma mera ilusão do meu pensamento.  Obrigado pela compreensão de todos  pelos possíveis  erros.🦉🧙‍♀️🧜‍♀️🪡

 

 

 

É isso.

Elixandra (costura pensamento filosófico)
Enviado por Elixandra (costura pensamento filosófico) em 02/08/2025
Alterado em 03/08/2025
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